Por que há pessoas que se tornam “mendigos espirituais” e outras ainda que, por falta de conhecimento, se mantêm subservientes e dependentes espiritualmente, pois lhes faltam a coragem para emanciparem-se espiritualmente tornando-se autônomos?
A subserviência decorre da falta de iniciativa, de uma certa passividade e um complexo de inferioridade que leva à “imaturidade da personalidade”. Inúmeros pesquisadores do comportamento humano concluíram que crenças enraizadas de “medos, pecados e culpas” promovem estados emocionais profundos que levam a desesperança e a inação por falta de confiança.
A falta de confiança, por sua vez, promove nas criaturas a “mendicância espiritual”, estado emocional este que é gerado através das inúmeras reencarnações vivenciando o servilismo, que leva a subserviência. Assim sendo, é comum encontrarmos – mesmo no meio espírita – pessoas que ainda não entenderam o “pedi e obtereis” ou o “ajuda-te que o céu te ajudará” e, preguiçosamente, viciados que estão no ócio, habituaram-se a pedir sem contribuir em nada por si mesmos. Estranho comportamento este, pois estão diante da luz doutrinária que esclarece e liberta, mas permanecem de olhos fechados.
Visando entender estas pessoas, veremos que a história de todos os povos da Terra demonstra que sempre o mais forte imperou e dominou de forma repressiva o mais fraco, fazendo com que grande proporção de seres humanos se tornem “massa de manobra” dos poderosos e dominadores. Então, fazer parte da massa de manobra por longos períodos reencarnatórios leva muitos indivíduos à anulação de si mesmos, à preguiça mental, à inércia e a inação, inclusive, no campo espiritual.
É por isso que inúmeras pessoas aportam as casas espíritas em busca de solução de seus problemas emocionais, porém sem a disposição de empreender nenhum esforço para isso. Não querem compromissos e não estão dispostos a investir seu tempo em estudos e mudanças de valores e atitudes. Desacostumados que estão em laborar por si mesmos, tornam-se “pedintes espirituais” e tão dependentes de terceiros, que dificilmente assumirão a autonomia necessária para emancipar-se espiritualmente.
A doutrina espírita preza e prega a liberdade de consciência que é consequência da liberdade de pensar com responsabilidade. A liberdade de pensar, por sua vez, requer o questionamento e uso do raciocínio que leva a autonomia doutrinária. Assim sendo, a emancipação espiritual não se impõe, mas se conquista através do esforço próprio no estudo e no conhecimento espírita. O espírito emancipado assume a responsabilidade por si e não a transfere a ninguém, seja dirigente, médium ou espírito, por mais elevado que este se apresente. Aliás, espíritos elevados nada impõem, mas apenas orientam deixando a cargo de cada um a responsabilidade por sua evolução.
Assim sendo, o espírita independente e emancipado é aquele que estrutura seu senso de autonomia e entende, através do estudo e do verdadeiro conhecimento doutrinário, que tem de aplicar a si os conceitos adquiridos pela compreensão das leis de Trabalho e Progresso – questões 647 a 685 e 776 a 802 de O livro dos Espíritos. Porém, apesar de independente, sabe que pode contribuir para algo maior e vai à luta, não negando a sua própria vontade e sentimento, exercitando sua capacidade de escolha para cooperar com o grupo ao qual se inseriu na produção de algo melhor do que aquilo que faria sozinho.
Autonomia espírita, então, não é sinônimo de presunção egoísta e narcisismo exacerbado, mas reconhecimento da responsabilidade individual na construção de si mesmo. Por isso mesmo o verdadeiro espírita é aquele que é livre para pensar por si, é racional e responsável por seus atos e trabalha incessantemente para sua evolução.