O Espírito
Desde a aurora dos tempos, a humanidade procura a compreensão acerca do Espírito. Vários pensadores versaram teoricamente sobre o que seria o Espírito e em relação à energia vital que anima a matéria e, também, se a mente sobreviveria à falência da matéria e sobrexistiria. O conceito de Espírito, portanto, apresenta, ao longo do tempo, diferentes significados e conotações, como o de, metafisicamente, se referir à consciência e à personalidade.
Conforme os dicionários, a palavra Espírito tem sua raiz etimológica no latim “spiritus”, significando respiração ou sopro, mas pode se referir a coragem ou vigor. Se buscarmos a referência da raiz no idioma protoindo-europeu, “peis” será soprar ou sopro. Na Vulgata, a palavra em latim é traduzida a partir do grego “pneuma” (“πνευμα”) ou “ruah” (“רוח”), em hebraico, situando-se em oposição ao termo “anima”, traduzido por “psykhē”. A distinção entre a alma e o Espírito somente ocorreu com a atual terminologia judaico-cristã (como, por exemplo, no grego “psykhe” vs. “pneuma”; no latim “anima” vs. “spiritus”; no hebraico “ruach” vs. “neshama”, “nephesh” ou, ainda, “neshama”, da raiz “nshm”, que é respiração).
Várias correntes filosóficas no curso do tempo abordaram o conceito do Espírito, como a da metempsicose originada pelo orfismo e pitagorismo e adotada por correntes filosóficas como o empedoclismo, o platonismo e o neoplatonismo, que foram aperfeiçoados no aristotelismo. Ao longo do tempo, os conceitos foram se apurando e modernizando até atingir os filósofos contemporâneos como Descartes, Rousseau e Comte.
Mas, foi Allan Kardec o filósofo que melhor definiu alma e Espírito. Com o concurso da Espiritualidade Superior, o professor francês lançou as bases da Filosofia Espírita e a conceitualização do que seriam tanto a alma e o Espírito, quanto a matéria.
Como definição de Espírito temos, na resposta à questão 23 de “O livro dos Espíritos, o seguinte: é “O princípio inteligente do Universo”.
E, completando esta definição, na questão sucessiva: “Não é fácil analisar o espírito na vossa linguagem. Para vós, ele não é nada, porque não é coisa palpável; mas, para nós, é alguma coisa. Ficai sabendo: nenhuma coisa é o nada e o nada não existe.”
Mais adiante, é conceituado no Livro II, Capítulo I – questões 76 a 83 – a origem e a natureza dos Espíritos, notando-se que, aqui, a palavra Espírito é empregada para designar os seres extracorpóreos, as individualidades e não mais o Elemento Inteligente Universal, o espírito. Kardec distingue um do outro nestes estudos.
Portanto, seguindo os ensinos dos Espíritos e o pensamento Kardeciano, podemos afirmar que o Espírito é o ser inteligente do Universo e este, pelo exercício de sua inteligência, constrói a consciência de sua individualidade, a consciência em relação a outros Espíritos e a consciência de seu papel na estruturação inteligente do Universo.
Kardec com isso, traça sua linha de estudo científico e filosófico, sendo o Espírito seu objeto de pesquisa. Daí a morte (ou o desencarne) estar implícito em suas reflexões, dentro dos próprios fundamentos estabelecidos para o Espiritismo: sobrevivência, preservação da individualidade do espírito após a morte e reencarnação. Tais exigem, assim, uma concepção específica acerca da morte e da natureza humana e suscitam questões que, até então, eram atribuídas ao campo da filosofia. Desta forma, o conceito de espírito adquire centralidade na obra kardeciana.
Nesse incessante exercício de evolução, o Espírito vai acumulando conhecimentos, vai experienciando situações – que irão auxiliar diretamente no seu desenvolvimento, com a trajetória traçada por seu livre-arbítrio – alternadas por momentos de consciência e outros de esquecimento. Considerando o breve tempo de uma encarnação, cuja liminaridade é apenas um instante, neste ciclo de nascer, morrer e voltar a renascer, o ser irá acumular conhecimentos que lhe serão úteis e apreenderá o real significado dos fatos, desvendando a verdadeira dimensão das relações e da vida, quando estiver despido da ilusão da matéria, ou seja, desencarnado.
Eis o porquê de Teilhard de Chardin ter citado: “somos seres espirituais passando por uma experiência humana”, ou seja, demonstrando a visão do que realmente somos: Espíritos!