As bruxas (segundo o Espiritismo), por Marcelo Henrique

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Outubro, trinta e um. Eis o dia das bruxas, segundo o folclore ou a cultura popular. Também é chamado de “Halloween”, no hemisfério norte e possui um “culto” ou “festa”, em várias partes do mundo. “Halloween”, aliás, é o termo inglês resumido para “All Hallows Eve”, que significa a véspera do dia de todos os santos, uma celebração cristã no primeiro dia de novembro.

Em linhas gerais, tem-se um dia destinado à celebração da memória daqueles que já partiram deste mundo, os mortos, assim como o cristianismo consagrou o dia dois de novembro como o de finados.

Mas as tradições pagãs se sobrescreveram à celebração da religião, apontando para o festival celta do “Samhain” (fim do verão), ou o galês “Calan Gaef”. No século VIII, o papa Gregório III mudou o “dia de todos os santos”, de 13 de maio para 1º de novembro, unificando, assim, as tradições cristãs e do paganismo.

Mas foi entre 1500 e 1800 que o “dia das bruxas” foi tomando corpo, com a utilização de fogueiras, celebrando o fim das colheitas e, representativamente, conforme a tradição do Cristianismo oficial, eram relacionadas ao purgatório e o rumo que as almas tomavam após a morte, assim como para repelir a peste negra e as bruxarias.

Consiste, no presente, no hábito de buscar doces ou guloseimas, principalmente de parte das crianças e adolescentes, em residências e, mais marcadamente, estabelecimentos comerciais – não necessariamente relacionados à compra e venda de alimentos. No cenário, a decoração com motivos “assustadores”, como esqueletos, morcegos, aranhas e suas teias, abóboras com luzes internas e rostos recortados, assim como fantasias diversas. É, praticamente, uma festa à fantasia a céu aberto, em praças, ruas e calçadões, ou em escolas.

Especialistas apontam que a amplitude de alcance e preferência pela data e pelas festividades decorre do interesse dos próprios adultos em “brincar” com alguns medos ou fantasias, por meio de práticas socialmente aceitas. E, também, há um vínculo entre religião, morte, natureza, romance e fantasia, o que contribui para a popularidade da data e sua celebração.

Mas, o que o Espiritismo pode agregar de informações e conhecimento para esta questão?

Primeiramente, no sentido de desmistificação da morte – conceito e conteúdo tradicionalmente considerado como patrimônio das religiões – apresentando o conhecimento de que o Espírito sobrevive à morte física e continua sua trajetória ascendente. A morte, assim, é um processo de transição (e de transformação), encerrada a experiência “na carne” (com todas as limitações aos sentidos espirituais nela contidos). Liberta-se a individualidade espiritual das “amarras” do corpo e alcança a sua plenitude no “mundo dos Espíritos” (mundo espiritual), que é a continuidade deste mundo, já que os laços e vínculos entre os seres permanecem.

Em segundo lugar, a ideia da transmigração das almas, ou das vidas sucessivas (palingênese ou reencarnação) complementa o sentido de retirar o condão de sobrenatural da morte, permitindo, a partir do estudo e do raciocínio lógico, individual, sobre a teoria espírita, entender que serão muitas as “mortes” pelas quais cada ser passará e que as idas e vindas representam estágios e experiências que, somadas, levam ao progresso espiritual.

O terceiro elemento a agregar nesta discussão é o da comunicabilidade entre “vivos” e “mortos”, ou mediunidade, que não é nem invenção (teórica) ou condição (prática) exclusiva do Espiritismo (ou dos espíritas). Do contrário, costumamos dizer que ela, a mediunidade, é patrimônio espiritual da Humanidade (ou das humanidades, considerando a vida em infinitos mundos dentro do Universo divino) e os seus efeitos são sentidos por todos, espíritas ou não.

E é exatamente neste ponto que o conceito estrito de “bruxas” ou “bruxos” desponta. E o contexto é, sempre, a intolerância religiosa para com as (os) diferentes. Só para ilustrar, durante a era das trevas (Idade Média), as corporações religiosas do Cristianismo oficial – atreladas aos poderes políticos humanos, isto é, os governos de países católicos ou vinculados à Igreja de Roma, como quase toda a Europa daqueles dias – promoveram a perseguição, prisão e execução de inúmeras mulheres e homens, acusados de heresias contra a moral religiosa e, muitos destes, pela “prática de bruxarias”.

A mediunidade, assim, sobretudo aquela vinculada ao poder de presciência de fatos (adivinhações, premonições, previsões), bem como a associada às curas de toda a ordem (imposição de mãos, descoberta de males por intuição ou sugestão de Espíritos, aplicação de unguentos ou ervas e especiarias), foi criminalizada e penalizada com rigor, violência e excessos de toda a ordem.

Os homens daqueles dias sombrios esqueceram-se, até, das próprias origens, já que pajés, curandeiros ou “feiticeiros” existem desde que o mundo é mundo, estando presentes nos agrupamentos humanos dos dias iniciais da vida sobre este planeta, estendendo-se para os momentos gregários mais desenvolvidos e pela fixação das comunidades à terra, deixando a fase nômade para a sedentária. E, também, da própria configuração das religiões cristãs, quando tratam dos dons espirituais e, no seio do Catolicismo, configurando a beatificação e santificação de muitos homens, em função da existência de “milagres”.

O Espiritismo, de todos os tempos, inclusive os atuais – embora com menor peso e incidência, em razão dos avanços legais, culturais e sociais – esteve associado às práticas de “bruxaria” e seus adeptos, inclusive no Brasil, das décadas de 20 a 50, foram duramente perseguidos e acusados por charlatanismo e exercício ilegal da medicina, por exemplo. Ainda hoje é possível encontrar-se sermões em igrejas, sejam católicas sejam neopentecostais, de acusação e violência ou coação moral contra os espíritas (pessoas ou instituições).
As bruxas (e os bruxos) estão por toda a parte. Eu sou um, porque exerço a mediunidade de cura e a de psicografia, assim como minha esposa Júlia, que é audiente e possui um magnetismo em elevado grau. Portanto, este dia é nosso, meu, seu, de todos aqueles que “dão de graça o que de graça receberam”, ou seja, que atuam, por suas forças, sem qualquer deferência ou mérito pessoais, em favor dos semelhantes, em quaisquer circunstâncias.

A “bruxaria” é, assim, o exercício legítimo da mediunidade em favor do próximo, tendo por lema um dos maiores ensinos do Mestre dos Mestres, Yeshua: “o que fizeres a um destes pequeninos, é a mim que o fazeis”, em complemento ao elemento fundante da solidariedade universal e espiritual: “meus discípulos serão reconhecidos por muito se amarem”.

Feliz dia das bruxas!

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Postagem efetuada por membro do Conselho Editorial do ECK.

5 thoughts on “As bruxas (segundo o Espiritismo), por Marcelo Henrique

  1. Parabéns pelo texto. Você conseguiu abordar o tema de forma magistral. Sabe o que penso? Cada dia sinto mais orgulho de pertencer a Confraria das Bruxas . Quantos anos, quantas alegrias e superacoes.
    Obrigada por nos proporcionar esses momentos preciosos.

  2. Adorei o texto, muito elucidativo. Poderíamos também traçar um paralelo entre a Inquisição, principalmente contra as bruxas, e o patriarcado em que se fundamentam as religiões como a católica e a neopentecostal. Acredito fielmente que tenha sido um extermínio em massa de mulheres que ousavam viver suas divindades (curando com ervas, orações, conhecimentos sobre os elementos naturais e etc). Homens também foram perseguidos e executados, mas as mulheres foram disparadamente um número superior.

  3. Parabéns pelo texto.
    Procurei a leitura pois, recebi uma publicação onde associam a data a rituais satânicos e pagãos, condenando aqueles que, como eu, comemoram e se divertem.
    Adorei conhecer a página também.

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