(Em homenagem ao Dia Internacional da Mulher e a todos os dias de todos os tempos)
Texto Coletivo ECK (*)
“Eu gosto de ser mulher
Sonhar, arder de amor
Desde que sou uma menina.”
(O lado quente do ser – Marina Lima e Antonio Lima)
Hoje, oito de março é o dia da Humanidade: doce, forte, generosa, inquieta, acolhedora, assim como as mulheres que fazem dessa data um misto de luta e carinho. Luta, porque ainda há muitos direitos a conquistar, violências a extinguir, oportunidades a construir. Carinho, porque a mulher é sensível a uma flor, um bombom, um mimo, recebidos com amor e respeito, que enche o coração de esperança pra se voltar à luta.
Um dia simbólico e necessário para a reflexão de seres em evolução e imortais. Todas, todos e todes, que desenvolveram a sensibilidade de enxergar o ser humano, independentemente de gênero, como detentor de direitos iguais, devem se engajar nessa luta. O objetivo, longe de discriminar homens, é exigir respeito incondicional e independente de cor, etnia, gênero, posição social, crença ou qualquer outra condição passageira e fugaz.
É exatamente por isso que se deve continuar lembrando a data e cutucando a sociedade neste dia e sempre, até que essa luta tenha sido vencida. Não se trata de celebrar o dia oito, mas, sim, de dar visibilidade e importância às causas femininas. As mulheres não precisam de um dia especial, mas de conquistas… E isso, ainda, não é uma realidade.
Esta data, portanto, não é somente um dia comemorativo, mas uma oportunidade para ter consciência sobre a questão de gênero, do direito natural e legal de que a mulher não nasceu da costela de Adão, mas que homens e mulheres nasceram biologicamente para estarem lado a lado, evoluírem intelectualmente e espiritualmente, respeitarem suas diferenças e, dentro das diferenças, desenvolverem o amor solidário e fraterno.
O Dia Internacional da Mulher, então, existe, como tantos outros dias dedicados às minorias (e minoria tem a ver com representatividade, e não com quantidade), porque é preciso sensibilizar para as desigualdades. Enquanto isto, o Dia dos Homens é, na verdade, todos os dias, desde que a noção de propriedade “produziu” a cultura patriarcal.
Os versos da música que abre este ensaio, composta por Marina Lima e Antonio Lima – especialmente, na voz de Maria Bethânia – indicam o caminho do que a mulher quer falar. Todavia é preciso fazer diante da letra, duas ressalvas: a primeira é a de que, como Espíritos, não se é mulher, mas se está mulher, nesta encarnação; a segunda é a de que eu, quando menina, não gostava de ser mulher. Ser um homem me parecia melhor, mais livre e poderoso.
Hoje, no entanto, gosto de estar mulher, reconheço os potenciais que apenas uma mulher pode realizar, constato que o poder não se exerce apenas pela força física, mas pelas qualidades do Espírito imortal, sem sexo ou gênero, e que a mulher, mais frágil fisicamente, pode “dominar” homens, mesmo com tamanho e força física que lhe é superior. Gosto, assim, da força que o feminino dá, a força que existe na suavidade e delicadeza, a força que há nas lágrimas e em expressar meus sentimentos; a força que há no sangue perdido mensalmente e no fogacho da menopausa. Gosto de estar mulher, aqui e agora!
Cada uma de nós diz ainda mais: amo ser mulher, com todos os obstáculos que tive que vencer ao longo de minha jornada terrena. Venci preconceitos dentro da minha profissão, dentro da minha casa, na vida, mas apesar de tudo isso, tive a oportunidade única de sentir um outro ser se formando dentro de mim. A maternidade foi e sempre será meu grande feito nesta vida. Minha melhor parte. Lugar onde ensino e aprendo todos os dias.
Penso, ainda, que sempre será mais fácil a luta quando através do exemplo e da competência trabalharmos sem ódio pela construção de um mundo, onde as mulheres serão amadas e respeitadas independentemente do grau de instrução, da cor da pele ou do gênero que abraçarem. Trata-se de um trabalho de formiguinha, cujos resultados não serão vistos pelos netos ou bisnetos desta geração. O importante, entretanto, é fazer o melhor que pudemos para que o oito de março seja todos os dias.
Por isso, quem são aquelas que descem, que rebolam, que cantam e não se calam? As mãos do mundo possuem nome. São Evas. São Marias. Tecem a vida, costuram a morte. Vivem o dia e também a noite. Na aurora, desbravam as matas. No anoitecer, despertam aos sonhos. No fogo, no chão das fábricas. Para uns, são chacotas – estes não entenderam; para outros, na história, valora-se a luta – com vivas, com compreensão, com afeto. Na subida, íngreme, não há tempo, não se pode parar, porque de seu ventre colore-se a vida, de suas mãos constrói-se o mundo.
Por isso… Sou um ser mulher.
Sou a criança, fêmea filha da mãe criança que a caustica. Sou a púbere, que um homem feito persegue. Sou a jovem, que escapa por um grito de ser violada, no vestíbulo do prédio onde habita. Sou a que resiste à violação de um amigo. Sou a que o patrão assedia. Sou a CEO depreciada por comentários sexistas. Sou a mãe importunada por homens na praia por conta de estar amamentando. Sou a censurada por gostar de sexo. Sou a que ouve a filha dizer que prefere frequentar um bar gay onde os homens conversam por terem interesse nela, e não em sexo.
Mas eu podia ser a que não escapou à violação. A afegã. A violada no ônibus por um grupo, até à morte, na Índia. A menina casada. Aquela cujo clítoris foi cortado a sangue-frio. A que não vai à escola. A que sofre violência doméstica, a que jaz na estatística dos feminicídios. A mulher trans, torturada até à morte, por adolescentes. A que é criticada por não querer filhos. A inferiorizada, por não pode-los ter. A taxada de assassina por praticar um aborto. A enxovalhada por gostar de mulheres. A que é maltratada no parto. A prejudicada na regulação dos poderes parentais, no tribunal. A que ganha um salário menor pelo mesmo trabalho dos homens. A que é desprezada por ter idade avançada…
Serei a que recorda as que lutaram por voto, autonomia, dignidade. Aquelas cujas obras foram silenciadas. As que a História ignora. As que poderia ser, em qualquer lugar do mundo: subjugadas, abusadas, desconsideradas. E digo que todos os dias de um ano, de dez anos, de cem, não chegam para emendar milénios de cultura patriarcal, e não será nesta encarnação que verei o seu final. Eu sou feminista, pelos Direitos Humanos. Voltarei a sê-lo quantas vezes vier, mulher ou homem. Até que ser mulher, homem, o que se quiser, não faça diferença.
Ser mulher é, pois, um desafio pra lá de bom. Sempre tive uma ponta de orgulho em ser mulher, afinal, geramos o mundo! É fácil? Não. Aprender a ser mulher, a ser mãe, a ser companheira… Mas, um dia, ela pode ter seu nome riscado do “livro da vida”, só pelo fato de ser mulher. Ah, essas feministas! Somos todos iguais com diferentes acidentes, parafraseando Aristóteles. E, juntos, damos a luz às ideias, inspiração de Sócrates. Sabe, ser feminista não é querer ser igual ao homem, mas, sim, ter os mesmos direitos.
Cada gesto, por menor que seja, que temos, em direção ao que consideramos justo, respeitável e aceitável, para valorizar as mulheres, deve ser apoiado, para que, tanto mulheres quanto homens ganhem força, aquela força que vem de dentro e encontra ressonância no outro, que nos une enquanto seres humanos, num processo de evolução, pois nos torna melhores, para os que aqui estão e para aqueles que estão por vir.
Ser mulher é, por fim, amar-se e deixar-se amar, aprender e ensinar. Ser mulher é partilhar e evoluir, caminhar ao lado do homem, nem à frente nem atrás. Ser mulher é progredir moral, intelectual e espiritualmente, porque somos Espíritos e na nossa caminhada evolutiva reencarnamos ora como mulheres, ora como homens.
Somos a alma do ECK, assim descreveu o amigo, somos fortes, somos doces, somos mulheres.
Nós todas, juntas com todas as demais mulheres do ECK, queremos, de uma forma pequena, mas presente, contribuir para uma consciência de que a mulher evolua numa emancipação de ser e que os homens evoluam para uma emancipação que permita ela ser.
Parabéns, então, ao ECK, por querer no dia oito de março puxar uma reflexão sobre o ser mulher!
(*) Participaram da confecção do texto, as mulheres brasileiras e portuguesas Célia Aldegalega, Claudia Jerônimo, Débora Nogueira, Jacira Silva, Júlia Schultz, Kátia Pelli, Leopoldina Xavier, Maria Cristina Rivé, Maria Rosário Relvas, Martha Novis, Sandra Regis e Valéria Terena Dia
Neste texto está a essência do que é ser mulher e fazer parte desta humanidade onde como Espíritos imortais caminhamos com os homens que nos complementam e que alguns ainda não entenderam que elas e eles são parceiros universais. Parabéns ao ECK por estar na vanguarda deste pensamento de parceria espírita livre pensadora .Obrigada.
Grata, irmãs. <3
Ficou excelente! Me senti contemplada em todos os aspectos. Parabéns ECK pela iniciativa e produção.