Nelson Santos e Leopoldina Xavier
Na sociedade contemporânea, apesar do avanço do intelecto, ainda há questões ético-morais – e em face destas até deturpações – que não o acompanham. Quais os caminhos que a Lei de Reprodução permite ao ser humano buscar na geração de membros da espécie o aprimoramento necessário para uma sociedade equitativa?
Nesse diapasão, a Revista Harmonia na melhor expressão de seu livre-pensar traz à apreciação diversos seguintes artigos.
“A Lei da Reprodução e seu lento avanço”, no qual Júlia Schultz enfoca ser a questão do casamento intrínseca à lei dos homens e, como lei humana, segue todo um processo histórico, o que resulta em lentidão. Acrescenta que os Espíritos Superiores, em “O livro dos Espíritos”, preconizam que o casamento deve ter como pressuposto o amor, enquanto que a sexualidade, a reprodução e até a dissolução do vínculo conjugal, são valores ligados à evolução individual, consideradas as circunstâncias de cada ser.
Marcelo Henrique em seu artigo “Relações Sexuais à luz do Espiritismo”, pontua que a questão afetiva passa por um processo de evolução que vai desde a fase dos instintos à fase inicial orgânica, quando descobre o eu-Espírito. Esta passa a ser a fase da vivência dos sentimentos, que igualmente vão progredindo a partir das experiências individuais, quando a convivência afetiva e as relações sexuais envolvem distintos seres em evolução, mas que não podem fugir do elemento essencial, que é a Ética.
Marcelo Regis suscita em seu artigo “Espiritismo e Engenharia Genética: hora de iniciar um debate sério”, que aos espíritas cabe enfrentar o tema e a implicação ético-moral na engenharia biogenética dela decorrente. Cita o exemplo na questão da escolha, pelos pais, de características genéticas dos filhos, a possibilidade de eliminar doenças hereditárias e muitos outros. Também aponta que a engenharia biogenética poderá ter expressiva influência no campo econômico, podendo criando dificuldades para o seu acesso, já que, a priori, estará mais acessível aos que detenham recursos financeiros, podendo desembocar em preconceitos genéticos vários (como a seleção para o trabalho) e que todos estes temas tocam diretamente o estudo do Espiritismo.
Em “A clonagem humana”, por Pedro Gregório, é mostrado que tal técnica, aplicada aos humanos, passará por consideráveis mudanças no século em curso, ampliando-se as formas assistidas de reprodução, mas que, embora a ciência material progrida, o processo reencarnatório continuará o mesmo, regido pelas Leis Espirituais, tendo em vista que quem dá a vida à célula é o Espírito, não importando a forma como voltamos ao corpo, mas, sim, a jornada a percorrer.
Núbor Orlando Facure em “A bioética e o paradigma Espírita”, coloca os dilemas da ética e aborda questões como a do aborto em relação aos embriões alterados, a da eutanásia, a da gestação de criança sem vínculo afetivo com os pais. Aborda, assim, os contornos da manipulação genética, que podem esticar ou cortar o fio da vida. E que os enunciados de Kardec devem estar ao progresso da ciência, adequados à filosofia e à moral espirituais-espíritas, pois a maior expressão da criação é a vida e que, considerado o nosso nível de compreensão atual, ainda não possuímos suficiente alcance para compreender a extensão da vida e seus elementos.
Considerando que o chamado segmento religioso do movimento espírita tem como uma de suas balizas conceituais primordiais o combate e a condenação da definição numérica da geração de filhos, Carlos Parchen nos traz o seu “E o Controle da Natalidade?”, em que contesta a afirmação primária de que tal controle retiraria a chance de evolução do Espírito por meio da reencarnação. Neste contexto, o articulista disserta para demonstrar os equívocos dessa interpretação perante os ensinos dos Espíritos, expondo, pelos aspectos éticos, morais e espirituais, a inconsistência desse argumento.
Juvan Neto, por sua vez, aborda os aspectos morais, éticos e intelectuais da Lei de Reprodução diante de variadas deturpações decorrentes de interpretações materialistas em relação ao aperfeiçoamento das raças e aos obstáculos à reprodução humana. Propugna, assim, por soluções possíveis e viáveis, pela construção de um processo dialético que permita a materialização da justiça social no mundo em que vivemos, no seu “Espiritismo e Superioridade das Raças: uma perspectiva espírita com base na Lei da Reprodução”.
Os diversos e distintos artigos apontam, assim, alguns dos caminhos possíveis pela interpretação mais adequada da Lei de Reprodução, consoante os princípios da Doutrina dos Espíritos, procurando pavimentar no seio da sociedade moderna a responsabilidade moral e ética diante da evolução intelectual e dos progressos individuais e coletivos, permitindo a ampliação dos conceitos e dos entendimentos.
Que os textos sejam apreciados pelos nossos leitores e que tais contribuam para as reflexões necessárias em momentos tão conturbados onde o orgulho e a vaidade parecem prevalecer sobre o bom senso e os valores ético-morais.
Imagem: Unplash
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Editorial: A Lei de Reprodução perante a sociedade contemporânea
Espiritismo e Engenharia Genética: hora de iniciarmos um debate sério, por Marcelo C. Regis