Marcus Vinicius de Azevedo Braga
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Que saibamos lidar com essa realidade de forma mais inteligente e coerente com a visão dos pressupostos contidos na doutrina espírita, alijados das armadilhas que essas tertúlias das redes sociais nos impõem.
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A profusão das redes sociais teve, dentre muitas consequências, alguns efeitos na ação de seus usuários, e isso se aplica também ao subgrupo dos espíritas, frequentadores assíduos desses espaços. Criou em nós perfis sobressaltados e ressentidos. Duas características que merecem dois dedos de prosa, nesse conturbado início de Século XXI.
A cada notícia bombástica, com vídeos, depoimentos e cenas chocantes – e, no caso espírita, acompanhada do endosso de mensagens psicografadas – ficamos mais sobressaltados, temerosos pelo próximo desastre na virada da esquina, permeados de medo e de desespero.
Uma visão catastrófica do mundo e da raça humana, se instala, em um pessimismo tão alienante quanto o otimismo da positividade, e essa carga de medo ativa mecanismos de defesa, profundos, que se convertem em ódio e violência verbal que, por vezes, se reflete no plano concreto, e certamente tem efeitos na esfera dos amigos espirituais que nos acompanham.
De defensores da fé raciocinada e do Deus infinitamente justo e bom, nos vemos como arautos do cataclismo, como se não houvesse lei divina, e um Deus a frente de tudo. Caímos na esparrela de tudo está ruim como nunca foi antes na história da humanidade, o que nos embaça a mente para analisar os problemas, as causas e as possíveis soluções.
Mas, não somente sobressaltados. Uma era de redes sociais na qual cada palavra ou opinião é registrada na lousa eterna da internet, os tribunais julgadores rotulam pessoas, na chamada cultura do cancelamento, que nos faz uma turba de ressentidos, magoados com ofensas reais, mas de tempos passados.
É verdade, essas opiniões revelam a natureza dessas pessoas, o que gera decepção, outra prima-irmã do ódio. Mas, nós, espíritas, que esposamos a mensagem do evangelho, temos como um de nossos valores o perdão, no profundo entendimento de que cada irmão é um espírito encarnado em uma longa jornada evolutiva.
Talvez seja um convite a abandonarmos os santos de pés de barro.
O ressentimento insula, polariza, e nos faz focalizar o que não é importante, esquecendo dos trabalhos para alimentar as chamadas “tretas”, que consomem horas infindas que poderiam ser utilizadas para o estudo e para o trabalho, ambos edificantes.
Por favor, não se trata de um convite à alienação ante os problemas da realidade. Mas, sim, que saibamos lidar com essa realidade de forma mais inteligente e coerente com a visão dos pressupostos contidos na doutrina espírita, alijados das armadilhas que essas tertúlias das redes sociais nos impõem.
De sobressaltados e ressentidos, a resolutos e compreensivos. Ativos e operantes na busca das melhores lutas e dos melhores caminhos. Esse complexo e tenso período em que vivemos demanda de nós, espíritas ou não, uma postura mais madura diante desse cenário que se apresenta, e parafraseando antigo adágio de nosso movimento, é preciso “viver no mundo virtual, sem ser do mundo virtual”, pois é na realidade da encarnação que estão os problemas a serem enfrentados.