Marcelo Henrique
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Passado e presente se fundem. Na mente. Nas mãos. Nos olhos distantes. Nas atitudes do hoje.
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Corre a bola pelo verdejante espaço. Pequena, amarela, brilhante. De lá para cá. De cá para além. O impacto com o solo a torna ainda mais refulgente, refletindo a luz solar.
Meu olhar vai além do brinquedo, para encontrar pequeninas mãos que a apalpam. Agachada, a criança recolhe a peça, sorri, gargalha… Envolve-a no peito, afaga-a, protege-a.
Parece não mais querer soltar o artefato.
Uma voz, no entanto, interrompe seu intento. Carinhosa, mas efusivamente, um adulto pede-lhe que a arremesse, próxima ao solo. Penso: deve ser o pai, que aproveita alguns poucos minutos sem o trabalho, para aquela convivência.
A menina, então, desprende-se da acalentada esfera, atirando-a com graça na direção da cativante figura.
Os minutos vão passando e eu, de lado, só observo.
Em minha memória, tempos idos, de outras brincadeiras, com os mais caros. Preciosas reminiscências. Devolvem-me, magicamente, à espiral do tempo, em que tudo se repete, ainda que em fantasia, ou em realidade.
De repente, não é mais a garota e seu pai. Sou eu e meu filho. Não necessariamente com a mesma bolinha amarela, mas com outro brinquedo, especial para ele, mas, melancólico e prospectivo para mim.
Passado e presente se fundem. Na mente. Nas mãos. Nos olhos distantes. Nas atitudes do hoje.
Até que o enlevo, hipotético, torna-se vívido e real, na voz do meu garoto, Lucca: – Pai, vamos brincar?
Gratidão, Marcelo!
Lendo o seu texto recordei das minhas brincadeiras com meu saudoso pai Claudenor, o qual se divertia com altas gargalhadas como menino fosse. E ao mesmo tempo me veio à memória minhas brincadeiras com meu filho, hoje adulto, acompanhadas de muito riso e alegria na mais completa afinação de almas. Artigos como esse acalentam o coração! Feliz Dia dos Pais!