Leopoldina Xavier e Marcus Braga
A revista Harmonia, na sua série temática sobre as Leis Morais, não para de surpreender os leitores, trazendo dessa vez o atual e complexo tema da “Lei de liberdade”. Valor tão exaltado e ao mesmo tempo, tão deturpado, o sonho de ser livre transita entre a ilusão e o concreto, e a Doutrina Espírita não poderia deixar de, na sua obra magister, tratar de tão relevante conceito.
Com 7 artigos, a edição abre com o texto “Espírito: consciência em busca de liberdade”, de Milton Medran Moreira, no qual o ator faz instigantes provocações em relação ao conceito de liberdade, à luz da filosofia espírita, e de como isso se refletiu (e se reflete) no concreto da vida social, onde nem tudo que reluz é ouro.
Em “Estamos empregando corretamente a liberdade de consciência?”, texto de Antonio Sérgio C. Picollo e Elio Mollo, se sustenta a importância do livre pensar no Espiritismo, fugindo do aprisionamento da mente humana por dogmas e visões impostas, assimiladas de forma acrítica.
Célia Aldegalega, no texto “Liberdade é (de)ver”, destaca que um mundo pautado pelo livre pensar, inclusive na seara espírita, não é um mundo pacífico, e sim de dissensões, que precisam ser mediadas para que surjam sínteses produtivas, na busca do aprendizado que deriva do convívio em ambientes plurais em que os indivíduos se respeitam. Uma lição que parece esquecida nos tempos atuais.
Waldomiro Sarczuk, no seu “Liberdade condicionada”, trata da condição da liberdade em sociedade que se subordina a regras gerais, cria hábitos, faz aderir a ideologias, a orientações religiosas e outras referências, que se liberta de uns para cair em outros. Por tudo isso o estudo é a melhor forma de emancipação para viver em comunidade com o reconhecimento dos direitos e deveres, visando harmonizar a conduta e proporcionar a evolução espiritual na autodireção e no exercício do livre arbítrio.
Ao pontuar sobre “Conflitos Doutrinários”, Jerri de Almeida, questiona o modo de interpretação dos textos espíritas, sublinhando que Kardec repudia o método pessoal pelo risco dessa análise cair nos próprios credos individuais, rodando o subjetivismo, enquanto o método mais seguro é o que se aprofunda no pensamento do autor. Ressalta, portanto, a cautela ao receber as psicografias, que deveriam ser conduzidas com o Espírito dado por Kardec, isto é o senso filosófico e científico da reflexão, compreendendo a progressividade das ideias, e sempre justificado nos fatos, sem esquecer da fraternidade que deve ser o caminho norteador das discussões espíritas.
Odilon Rios no artigo “Espírito livre e responsável” demonstra o caráter de racionalização da Doutrina dos Espíritos, para afastar os fenômenos aleatórios algumas vezes utilizados pelas pessoas para afirmar que somos resultados das nossas próprias escolhas. Por outro lado, aponta que as influências externas, do meio ou mesmo dos Espíritos podem nos rondar, mas, através do desenvolvimento intelectual e da responsabilidade, determinarmos o que queremos ser. Kardec, assim, ao afirmar que o Espiritismo é uma ciência com consequências morais e sem dogmas, coloca como sua premissa fundamental o projeto de transformação individual com reflexos para si e para o outro, haja vista ser alicerçado no compromisso da fraternidade, da igualdade, do amor universal, da justiça social, fontes do saber evolutivo que libertam a consciência.
Marcelo Henrique, por fim, no artigo “Liberte-se”, pergunta: – como há homens que ainda não são livres? Questiona, portanto, acerca dos vários tipos de prisões como o apego aos bens materiais, aos costumes, aos hábitos que insatisfazem, mas não permitem renovar atitudes, as religiões que, com suas condutas estigmatizadas aprisionam o ser. Após esses questionamentos, Marcelo Henrique se debruça sobre a ciência espirita e a rotina da vida espiritual (encarnada) daqueles que se dizem espíritas, muitas vezes marcadas por superstições, misticismo, medos, temores e dogmas. Isto faz com que muitos se encolham no enfrentamento objetivo da existência, quando a Doutrina Espírita tem o potencial de demonstrar que através da ciência e da filosofia, somos nós os timoneiros a conduzir o barco da vida com a presteza para Crescer, Evoluir e se Libertar.
Nesses textos encontramos um debate sobre “Ser Livre”, onde cada articulista coloca seu ponto de vista no desenvolver do tema, mas há em comum a essência de como se traduz a liberdade na Doutrina Espírita. Ou seja, a liberdade se dá através do estudo da ciência e da filosofia com o uso da racionalidade, o que proporciona uma visão de mundo real, sem medos ou credos. Assim, a alavanca do conhecimento no Espiritismo abre as portas para a evolução espiritual fraterna, solidária, sem preconceitos, enraizado na premissa que “Ser Espírita é Ser Livre”, haja vista que sem Liberdade não há Espiritismo.
Fica o convite à leitura a cada um dos artigos que compõem a presente edição!
Imagem Petra-por-Pixabay
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