Cláudio Bueno da Silva
Numa humanidade doente, os que se encontram em melhores condições precisam auxiliar àqueles que têm o Espírito em frangalhos, cheio de culpa e ódio; ajudar aos que não veem a paz como um caminho para a felicidade e usam a violência como forma de convencimento; orar pelos que trocaram a dignidade humana pela mentira e a prevaricação; esclarecer os que deram as costas aos sentimentos de amor, justiça e caridade, e “não sabem o que fazem”.
Como atender a mãe que se desdobra para manter vivos os filhos, cujo pai presente está num catre, ou ausente, debandou para longe diante da impotência em lutar pela vida? O barraco pobre é inabitável, as necessidades muitas, e a família está sob risco.
Como atender às crianças que pedem uma fruta, umas colheres de feijão, um pão amanhecido, que seja? Com as barriguinhas enormes, impaludadas, olham para os adultos e não compreendem por que a comida não vem.
Como ajudar o velho já sem forças, que precisa se alimentar e se abrigar e só dispõe das calçadas para estirar o corpo? A angústia e o medo corroem a alma cansada.
Como cuidar do menino sem escola, não avisado de que a inutilidade das horas traz sofrimento.
Como socorrer à menina assediada pelo adulto sem escrúpulos? A qualquer momento ela poderá se tornar vítima de um familiar, de um vizinho, de um conhecido.
Como defender os jovens, que cresceram rápido e sequer sabem ler? A cabeça cheia de pensamentos ruins.
Como socorrer a mulher, historicamente vitimada por falsos conceitos sociais e uma ignorante noção de força, que privilegiam o masculino.
Como socorrer o doente sem recursos que já não toma seus remédios regularmente e definha? Habituou-se à dor incorporada ao seu dia a dia.
Como atender o triste, que precisa de uma palavra consoladora, de apoio e orientação? Sem perspectiva, pensa abandonar esta vida e mergulhar no falso esquecimento.
Como fazer entender a muitos que o equilíbrio da vida na Terra depende da preservação da fauna e da flora, e que destruí-las significa autoagressão?
Como avisar aos incautos que a escravidão não acabou, apenas assumiu novas estratégias. Por isso, a necessidade de conscientização através do ato de pensar criticamente.
Como coibir as ações dos brutos que mandam calar à força; que desprezam a cultura, a arte, a ciência, por descompromisso? Patologia espiritual grave.
Esses são, dentre muitos, alguns desafios práticos da vida social. Quem é humano suficientemente para se importar com esse quadro? Como reformá-lo?
Só compreenderemos com precisão o que tudo isso significa, primeiro, se exercitarmos a empatia. Se nos colocarmos no lugar das vítimas. Sim, vítimas. Embora saibamos dos compromissos descumpridos no passado de cada um, e saibamos também que a vida é cheia de experiências válidas que acabam por amadurecer o Espírito, é forçoso reconhecer que as injustiças sociais cometidas contra as populações, por minorias que detêm poder, dinheiro e maldade, deixam marcas profundas e alteram o destino de muitas pessoas. E segundo, se nos propusermos a colaborar na modificação desse cenário. Então, veremos a montanha de coisas que estão por fazer.
Haverá os que dirão: – “Num mundo como o nosso não pode ser diferente!”
Pode, sim! Vivemos um tempo em que se deve proclamar a luta aberta contra as injustiças sistemáticas e premeditadas. Chegou a hora de convocar os homens bons e lúcidos para combater a ignorância e o atraso da humanidade. Que cada um traga o seu melhor para a construção do mundo equilibrado, de seres realmente humanos.
Nesse caldeirão em que vivemos ninguém é melhor que ninguém, somos todos iguais. A qualquer momento nossa alma será chamada a prestar contas de si mesma, enquanto nossos corpos apodrecerão em valas idênticas. Só restará o bem que fizemos. A quem nada fez de bom, nada restará. Só a dor de ter causado sofrimento.
Numa humanidade doente, os que se encontram em melhores condições precisam auxiliar àqueles que têm o Espírito em frangalhos, cheio de culpa e ódio; ajudar aos que não veem a paz como um caminho para a felicidade e usam a violência como forma de convencimento; orar pelos que trocaram a dignidade humana pela mentira e a prevaricação; esclarecer os que deram as costas aos sentimentos de amor, justiça e caridade, e “não sabem o que fazem”.
A desigualdade das condições sociais e tudo o que dela decorre é obra do homem, não de Deus, diz “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec. Por isso precisa ser corrigida. A reforma social diz respeito às pessoas e, por extensão, às instituições. Estas ficarão estagnadas se aquelas não evoluírem.
Aqueles que se sintam capazes de amar e que já compreendem o real significado da vida, por isso mesmo, não podem ficar estáticos, neutros, anestesiados num falso estado de superioridade, diante desse caos que prenuncia mudanças morais importantes. Têm que assumir o combate incansável ao egoísmo, orgulho, vaidade e ambição, que impregnam as sociedades. Combater a ignorância sobre a imortalidade da alma e seus desdobramentos. Contestar sistematicamente a ideia de que a vida se resume a dinheiro, prazer e domínio, o que tem infelicitado muita gente.
A construção dos valores humanos ideais nunca dependeu tanto como agora, da mão de obra especializada em compreensão, respeito, bondade e, também, no conhecimento da vida integral. Habilitem-se, as vagas são ilimitadas. Exige-se apenas curso em Amor, ainda que incompleto.