Por Coletivo Espírita Espiritismo COM Kardec (ECK)
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Nosso voto em Luís Inácio Lula da Silva e na frente democrática formada é a representação de que as propostas de seu plano de governo, na continuidade das ações por ele realizadas entre 2003 e 2010, precisam ser retomadas e aperfeiçoadas.
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Nestas quase quatro semanas que separaram a votação em primeiro e segundo turno, aproximando-nos do momento decisivo que será em 30 de outubro, onde a democracia brasileira, ainda adolescente, irá consignar a escolha do próximo Presidente da República, no Brasil, podemos dizer, como cidadãos e como espíritas, que aprendemos muito.
Tivemos força para resistir aos ataques e à violência daqueles que se apropriaram do estandarte nacional, a nossa fulgurante bandeira brasileira, como se fosse um artefato político, concebido por ideologias “à direita”, ultraconservadoras e que repetem um bordão associado a um dos mais lamentáveis, hediondos e profundamente tristes de nossa história, o nazifascismo. Afinal de contas, ao decantarem o mesmo dístico trino (“Deus, pátria e família”), demonstraram sem contestação que estariam defendendo tais conceitos de forma parcial, preconceituosa e reducionista.
Deus?
O “Deus” (leia-se, seja a religião, a fé, as crenças, ou os valores espirituais) não caracterizavam a diretriz da liberdade de crença, vigente em nosso Estado Democrático de Direito, como garantia constitucional, inafastável.
A religião pessoal do governante não pode se sobrepor à de ninguém, em nossa República. Nem se fosse – e não o é – a religião da maioria da população brasileira, não poderia ser imposta, em termos de valores, atitudes, legislação e condução (gestão administrativa) do Estado. Jamais! Lembremos que a religião majoritária aqui é o Catolicismo, e não o Neopentecostalismo (Evangelismo). Eis o primeiro ponto.
Pátria?
A “pátria” (ou seja, a nossa nacionalidade, origem, raiz, berço, em termos de brasileiros natos, ou escolhida, no caso dos naturalizados) representa a gratidão individual de pertencimento ao espaço geográfico e, por consequência, à cultura plural e miscigenada, seja na formação original de nosso povo, seja na continuidade das relações e mesclas entre pessoas de distintas origens, tornando ainda mais representativo, rico e multifacetado o “dna” (simbólico, ilustrativo, coloquial, é claro) da gente brasileira. Brava gente brasileira, aliás.
E isto importa que, ao valorizar a nossa brasilidade, tal não significa, nem aqui, sob nossos domínios territoriais, seja em qualquer parte do planeta, a zombaria e a desconsideração acerca de qualquer pátria e, por extensão, do povo que desfralda outra bandeira. Eis o segundo ponto.
Família?
A “família” não é nem a consanguínea (derivada das relações jurídico-sociais e da descendência genealógica), nem, tampouco, a de afinidade (ideológica, convivial, social ou política). E, também, não simboliza a costumeira – e execrável, porquanto corrupta – troca de favores entre os “afins”, isto é, aqueles que se retroalimentam em termos de distribuição de benesses e riquezas, seja no âmbito privado (como em relações empregatícias, educacionais ou de associação), seja, ainda mais gravemente, no âmbito público.
Família é, sociologicamente, sem qualquer novidade, a célula menor que alberga o tecido social e, neste sentido, todo e qualquer agrupamento a partir de duas pessoas deve ser respeitado, protegido e valorizado. A distribuição de vantagens aos “comuns”, portanto, como se fossem “a sua família” é vedado pelo ordenamento jurídico brasileiro em que “todos são iguais perante a lei”. Eis o terceiro ponto.
Fenômeno que se repete
O que vimos – mais acirradamente nestes três meses de campanha eleitoral –, em verdade não é um fato social isolado nem sem precedentes ou causas. Trata-se de um fenômeno que já esteve presente em nosso país, antes do golpe e do regime militar (1964-1985), com brasileiros saindo às ruas para defender dísticos similares: “tradição, família e propriedade”, por exemplo.
O recrudescimento do totalitarismo, da autocracia, da violência, da militaridade e paramilitaridade, da exacerbação de posturas religiosas, com a constituinte de 1987 e a promulgação da “Carta Cidadã” (1988) não sepultaram os sentimentos e os valores presentes em parcela significativa – mas não majoritária nem dominante – da população verde-amarela.
A diversidade das intelectualidades e dos sentimentos humanos, com visões equidistantes do mundo e da vida, portanto, são a característica fundamental da pluralidade de Espíritos que se encontram encarnados em um mundo “de expiações e provas”, como assevera a Doutrina dos Espíritos.
Assim, convivem – nem sempre pacificamente – concepções totalmente díspares em termos de materialidade e espiritualidade e isto se acentua em face de um panorama em que os mínimos direitos individuais e sociais não são protegidos, garantidos ou exercitados.
Pode-se dizer, com foco em números de estatísticas governamentais e não-governamentais, todas escudadas em sérias pesquisas e levantamentos, que mais da metade da população brasileira não goza dos mínimos direitos e que, pelo menos, dois terços se encontra na condição de precariedade ou insuficiência (considerando a média necessária) dos índices de qualidade de vida em nosso país.
Chegamos, então, à reta final da eleição de 2022 com uma certeza: o país continuará dividido – talvez não na metade, como muitos apontam – entre os que preferem propostas progressivas e democráticas e os que se escudam no império da força e no uso da violência para resolver todo e qualquer problema social ou sociopolítico.
O embate Lula x Bolsonaro, então, terá tantos outros turnos quanto possíveis, a partir do próprio resultado das urnas (ainda na noite de 30 de outubro), na continuidade deste ano civil e por todo o mandato que se avizinha (2023-2026) e, cremos, também fará parte da pauta da eleição seguinte. Sobretudo em relação aos mais fanáticos e exacerbados, os ataques, os desrespeitos, os preconceitos e as vilanias serão elementos da pauta do cenário brasileiro para os próximos anos.
De nossa parte, enquanto coletivo espírita, o “Espiritismo COM Kardec”, não adotamos o simplismo do maniqueísmo (“nós contra eles”, “o bem contra o mal”, “os puros e os impuros”, “os certos e os errados” ou os “espiritualmente sãos e os doentes”). Longe disso. Não seria nem cristão nem espírita apontar que as pessoas estejam totalmente compreendidas entre modelos pré-estabelecidos ou “caixinhas” que sejam excludentes ou totalmente incompatíveis entre si. E, tampouco, não seria atitude espírita desejar o aniquilamento dos “opostos”, mesmo que as “bandeiras” por eles levantadas sejam totalmente contrárias aos valores do humanismo e aos princípios espíritas.
Nosso voto em Luís Inácio Lula da Silva e na frente democrática formada é a representação de que as propostas de seu plano de governo, na continuidade das ações por ele realizadas entre 2003 e 2010, precisam ser retomadas e aperfeiçoadas e que haja, por parte de uma nova equipe suprapartidária que estará nos cargos públicos por todo o país, o espírito público de promover acertos e eliminar, o máximo possível, os equívocos que são comuns ao patamar humano.
E, assim, repetimos:
“Há uma voz que tentaram calar
Mas essa estrela não vai se apagar
E o brilho ilumina a esperança
Com fé num futuro melhor eu vou
Sem medo de ser feliz
Quero ver chegar
Lula lá, brilha nossa estrela
Lula lá, renasce a esperança
Lula lá, o Brasil criança na alegria de se abraçar
Lula lá, com dignidade
Lula lá, o Brasil merece
Outra vez oportunidade pra sorrir
E brilhar nossa estrela…”
(“Sem medo de ser feliz”, jingle campanha presidencial Lula 1989).
Com Lula, a nossa esperança!
Parabéns pelo posicionamento claro e coerente. Com isso o ECK reafirma sua posição de referência frente ao Espiritismo brasileiro.
Muito bom. Texto coerente, objetivo, reflexivo e que nos aponta que a nossa responsabilidade como agentes da transformação social é contínua.
Palavras razoáveis e bem realistas, bem-vindas para nos preparar ao futuro que se aproxima. Não há dúvidas de que a luta não se encerra com a eleição, nem com a posse do novo mandatário.
Lembremos que o nazifascismo germinou já no final da 1ª grande guerra e gestou por um bom tempo, ganhando força na década seguinte, até provocar o 2º grande conflito! E, pasmem, o nazifascismo continua aqui e acolá, brotando e ameaçando a paz.
Então, a luta continua na realidade nua e crua!
Muito bom o artigo. Assumindo sua responsabilidade no destino do povo e da Nação o espírita progressista, consciente dessa responsabilidade, assume o compromisso moral de eleger presidente Inácio Lula da Silva. Ele que está mais ligado, mais identificado com os fundamentos do Espiritismo na implantação da Justiça Social.
Parabéns a este coletivo que está se despontando como um grande divisor de águas entre o pieguismo e o progressionismo, devemos sempre entender que devemos ter como objetivo um mundo justo para todos…somos espíritos que por hora estagiamos neste planeta e queremos que todos que aqui estão tenham oportunidades iguais para poder alcançar seu objetivo que é de um planeta mais justo e igualitário. Dizem que o Brasil é o Coração do Mundo mas, para que isto acontece devemos melhorar em muito as condições das almas que reencarnam nestas fronteiras. Assim, me sinto aliviado porque tenho a certeza que nos próximos quatro anos vamos ter um pouco de paz, amor e muita dedicação na luta pela prosperidade.