Marcelo Henrique
A ideia sobre a “imagem” de Jesus é um tópico bastante peculiar, nas discussões que colocam, lado a lado, a existência física (histórica e real) e a não-física (mítica e mística).
O padrão renascentista do Cristo (imposição da Igreja Católica) nas pinturas e afrescos e na decoração de capelas e prédios vinculados à religião romana, levaram à INSTITUCIONALIZAÇÃO de um Jesus à feição europeia (eurocêntrica), loiro ou castanho, de traços fisionômicos muito belos – para simbolizar perfeição ou superioridade – alto e forte, um exemplar humano ímpar e TOTALMENTE distinto dos homens que habita(va)m Jerusalém e arredores.
Mais recentemente, provavelmente no fim da década de 90 do século passado, uma “reconstrução” hipotética nos apresentou o “oposto” desta inicial imagem, com traços mais rudes e não tão belos (considerado o padrão helênico de beleza, acima descrito), causando assombro e repulsa de grande parte da comunidade que se vincula às igrejas ou se diz cristã.
Por último, utilizando os recursos da Inteligência Artificial (IA), em nossos dias, e se valendo da “imagem” do “clássico religioso” Santo Sudário – que outras pesquisas afirmam ser falso, pelo exame do tecido que não poderia ser datado daquele tempo, causando enorme comoção e repúdio dos religiosos cristãos, foi composta a imagem que consta da fonte abaixo (The History Channel – [1]), e, em nossa opinião, o “desenho” resultado ficou num ponto mais intermediário entre o primeiro e o segundo “retratos” do Cristo.
Em termos de conhecimento e informações espirituais, sob o invólucro da mediunidade (e, lembre-se, a MERA opinião de UM Espírito NÃO PODE servir de REFERÊNCIA, como se simbolizasse uma teoria espírita), tivemos o conhecido relato do Padre Manuel da Nóbrega, via Chico Xavier, no livro “Há dois mil anos…”, sobre a “aparência de Jesus”, muito próximo, aliás, do tal Jesus renascentista da Igreja [2]. O relato teria sido baseado numa “carta” que teria sido assinada por um senador romano, mas a própria Igreja, em seus documentos e apontamentos rechaça esse personagem [3].
A par da nossa curiosidade sobre a fisionomia de Yeshua bar Yosef, natural em função de simpatias e interesses, devemos nos pautar, muito mais, pela essência do que representou e representa aquele homem, não o Cristo, mas o Jesus de Nazaré, para a Humanidade de todos os tempos. Nesse sentido, o conhecimento espírita, legitimamente kardeciano, a partir dos conceitos explanados nas obras de Allan Kardec, aponta para a interpretação a meu ver mais fidedigna, até o momento, dos atos e fatos atribuídos ao carpinteiro, pescador de homens, para nos distanciarmos de dogmas e crenças da cristandade, inclusive as que apontam para uma existência “sobre-humana” de Jesus. Caso as descobertas e recomposições históricas sobre a vida humana de Jesus nos levem a novos elementos, entende-se que o espírita kardeciano possa analisar e incorporar ao seu entendimento as novas informações, exatamente como Kardec recomendou que o Espiritismo acompanhasse os avanços científicos.
Mesmo assim, se for possível, as investigações e projetos de reconstrução da imagem e da realidade do personagem e daquele tempo são importantes para a desconstrução do mito e para o melhor entendimento sobre a existência humana de Jesus.
Imagem de H. B. por Pixabay
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Notas do Autor:
[1] https://www.canalhistory.com.br/religiao/inteligencia-artificial-recria-rosto-de-jesus-com-base-no-santo-sudario?fbclid=IwAR2x3tKcUEYCXC2CSPBOF20Mmyew2o7L6cbK5Z7-zl4EjOCEkzqBJomqc2M
[2] O relato do citado livro é reproduzido, inclusive, num site católico (https://www.arautos.org/secoes/artigos/doutrina/jesus-cristo/retrato-de-jesus-226132). Na reprodução, os autores questionam: “Será autêntico? Não se pode ter certeza como também não se pode negar pura e simplesmente”.
[3] A Enciclopédia Católica “New Adventus” (em inglês) o considera como fictício (https://www.newadvent.org/cathen/09154a.htm) além de outras publicações como o “New Testament Apocrypha” (https://books.google.com.br/books?id=o7qXmgEACAAJ) que questionam a autenticidade da carta.
Apesar da imagem de Jesus ser assim ou assado pouco importar para o que ele representou e representa para a humanidade, seria interessante nos aproximar ao máximo de sua real imagem. Isto ajudaria a dismistificar um pouco ou em muito que a aparência bela para muitos (cabelos loiros e olhos azuis) está coadunado com a lisura comportamental e que traços menos aceitos(pele de parda até preta) e rosto mais retangular, como Cesare Lombroso definia o mau caráter. Quiçá algum dia chegaremos a imagem mais aproximada de Jesus aceita pela grande maioria da humanidade.
Concordo na citação de que pouco importa a real representação da imagem do mestre, mas sim, os ensinos por ele legado a humanidade, mesmo que alguns exemplos tenham sido distorcidos e/ou exagerados. Não me prendo a forma, mas ao amago das parábolas, que muito tem ensinado, isso é, para quem realmente quer estudar.