Marco Milani e Marcelo Henrique
“Dois elementos hão de concorrer para o progresso do Espiritismo: o estabelecimento teórico da Doutrina e os meios de a popularizar”
(Allan Kardec, “Obras Póstumas”, 2ª Parte, Projeto 1868. Estabelecimento Central).
O crescimento exponencial da internet e das redes sociais nas últimas décadas trouxe uma série de oportunidades para a disseminação de conhecimentos, incluindo os relacionados ao Espiritismo. No entanto, essa mesma expansão também abriu portas para oportunistas que, sob a aparência de contribuir para o desenvolvimento de habilidades e conhecimentos de seu público-alvo, acabam por distorcer princípios fundamentais do Espiritismo. Um exemplo disso é o oferecimento de cursos pagos pela internet que prometem formar e treinar palestrantes espíritas.
A prática de cobrar por cursos voltados à formação de palestrantes espíritas é lamentável e antiética. Primeiramente, é fundamental lembrar que o Espiritismo, como doutrina codificada por Allan Kardec, sempre destacou o caráter gratuito de suas atividades e a importância de não se explorar comercialmente os conhecimentos espirituais. Kardec reiterou a necessidade de que os ensinamentos espíritas sejam acessíveis a todos, sem qualquer barreira financeira. A ideia de cobrar por um serviço que promete ensinar alguém a falar em nome do Espiritismo contraria diretamente esse princípio.
Além disso, a formação de um palestrante espírita vai muito além de técnicas de oratória ou comunicação. O verdadeiro palestrante espírita se forma nas instituições e grupos espíritas, através do estudo constante das obras de Allan Kardec, do envolvimento prático nas atividades doutrinárias e da vivência dos princípios espíritas no dia a dia. Este processo é voluntário e gratuito e se baseia na troca fraterna de conhecimentos, na convivência e no aprendizado coletivo dentro da comunidade espírita. A tentativa de substituir essa formação integral e experiencial por um curso pago online não só reduz o papel do palestrante a uma função meramente técnica, mas também ignora a profundidade e a seriedade do compromisso que se assume ao se comunicar em nome da doutrina espírita.
Recordando as lúcidas ponderações de Kardec, replicamos:
“Um curso regular de Espiritismo seria professado com o fim de desenvolver os princípios da Ciência e de difundir o gosto pelos estudos sérios. Esse curso teria a vantagem de fundar a unidade de princípios, de fazer adeptos esclarecidos, capazes de espalhar as ideias espíritas e de desenvolver grande número de médiuns. Considero esse curso como de natureza a exercer capital influência sobre o futuro do Espiritismo e sobre suas consequências” (Allan Kardec, “Obras Póstumas”, 2ª Parte, Projeto 1868. Ensino Espirita. Nossos os destaques).
A mercantilização desse tipo de formação é, portanto, uma atitude deplorável que distorce o propósito da educação espírita. Ao cobrar por cursos que prometem formar palestrantes, os proponentes desses programas estão explorando a boa-fé de pessoas interessadas em servir ao Espiritismo, transformando o que deveria ser um serviço desinteressado em uma fonte de lucro pessoal. Este tipo de prática contradiz diretamente o espírito de caridade e de serviço ao próximo que é central à doutrina espírita.
Além disso, ao focar em técnicas de oratória sem a devida ênfase na base doutrinária sólida, esses cursos pagos correm o risco de formar palestrantes que podem não estar suficientemente preparados para lidar com a profundidade e a complexidade dos temas espíritas. A verdadeira capacitação de um palestrante espírita exige um compromisso contínuo com o estudo das obras fundamentais, bem como uma vivência ética que reflita os princípios da doutrina. Não se trata apenas de falar bem, mas de falar com propriedade, com responsabilidade e com uma compreensão profunda dos ensinamentos espíritas.
Em outras palavras, obviamente, por ser uma técnica aliada a um conhecimento científico, a oratória pode produzir experts em apresentação de temas, em convencimento do público e em persuasão dos ouvintes, presenciais ou à distância – considerando que, em face dos mesmos recursos da tecnologia e internet, hoje tem-se um elevado quantitativo de palestras e estudos virtuais, colaborando ainda mais com o propósito de disseminação (popularização) do Espiritismo, como recomendou Kardec (vide a citação que abre este ensaio).
Em se tratando de indivíduos que “seduzem” pela fala, pode-se ter, como consequência, uma legião de crentes cegos que aceitam tudo sem refletir e que se convertem, perigosamente, em propagadores de pseudoconceitos tidos como espíritas, só porque foram afirmados, “em tribuna” ou “na tela de um canal adjetivado como espírita”, o que materializa a fala atribuída a Yeshua, dos “cegos guiando cegos ao precipício” (Mt; 15:14).
Talvez muitas dessas iniciativas mercantilistas decorram de outras práticas que começaram a surgir – e já são até numerosas, infelizmente – da parte de alguns supostos palestrantes espírita “famosos”, que estão aumentando sua renda pessoal com venda de livros e cursos de autoajuda, ou mesmo eventos para conversar com esses palestrantes sobre Espiritismo. Mas esse é um assunto que abordaremos em breve.
Agem eles, assim, com a perspicácia de mesclar a indicação de “espíritas” com conhecimentos de outras filosofias, crenças e atividades terapêuticas, inclusive com a justificativa de que tais “não fazem mal” e colaboram para a “formação do ser em sua integralidade”, como temos visto e ouvido (justificativas). Pouco a pouco, como asseverou diversas vezes e se pontuou veementemente contrário o Professor Herculano Pires, alertando os “inocentes” seguidores do Espiritismo e frequentadores de instituições espíritas, vão se introduzindo e se consolidando (pasmem!) estas interpolações apresentadas, defendidas e “ensinadas” pelos “novidadeiros espíritas”.
Deste modo, sem nos posicionarmos como “censores” ou “controladores” da vida alheia e das atividades que, individualmente, tais “espertos” realizam, inclusive sob o beneplácito e o patrocínio de várias instituições espíritas, dando-lhes a chancela de um selo “importante” para o meio espírita, apresentamos estas recomendações para que sejamos, nós espíritas, bastante cautelosos para não “embarcarmos” nos “modismos” ou sejamos alvo de consumo de tais “produtos”.
E, conclusivamente, apelamos para o bom senso e esperamos que cada um, de per si, exerça a liberdade de pensamento, convicção e expressão, sabendo separar o que é e o que não é Espiritismo, como, aliás, foi a conduta permanente de Kardec, nos (quase) doze anos em que esteve à frente do movimento espírita nascente.
Fonte:
KARDEC, A. Obras Póstumas. Trad. Sylvia Mele Pereira da Silva. Introdução e notas J. Herculano Pires. 2. ed. São Paulo: LAKE, 1979.
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Caldo de galinha e água benta não faz mal a ninguém, logo, muita cautela nessa hora.
Pablo Marçal ( Pedro Marçal) candidato a Prefeito pela capital de SP, tem uma fortuna que passa os cem milhões como palestrante cujos méritos desenvolveu em casas evangélicas, coach, com mais de 25 milhões de seguidores, responde por processo criminal, condenado em primeira instância, declarou (na Globonews, entrevista à candidatura à Prefeito) que foi envolvido no ato criminoso pelo seu pastor, este era o chefe da quadrilha, além do envolvimento com o PCC.
O ECK – Espiritismo Com Kardec, tem realizado um trabalho extraordinário em prol da causa espírita. Apesar disso, o grupo tem sido alvo de críticas por parte de algumas instituições espíritas, tanto físicas quanto virtuais. É surpreendente, mas compreendo que; “aquele que tem olhos de ver que veja, aqueles que tem ouvidos de ouvir que ouça”. Isso é bom e me recorda um velho comercial de TV, ainda em preto e branco, onde a “Turma da Mônica” apresentava o “Extrato de Tomate Cica; cantando a seguinte vinheta: Um elefante incomoda muita gente, dois elefantes incomodam muito mais”. Ironia a parte, hoje o ECK incomoda muita gente. É importante lembrar que o progresso acontece de forma discreta. Em minhas andanças, tive a oportunidade de observar e participar de estudos e debates em grupos dedicados à análise de artigos do Espiritismo com Kardec.