A dama do asfalto, por Marcelo Henrique

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Marcelo Henrique

O motor ainda não havia esfriado. Pudera, depois de uma considerável quantidade de quilômetros de percurso, o anjo de duas rodas apenas descansava, imaginando recuperar-se para outra viagem adiante.

Ao lado, com olhar distante e um tímido sorriso que iluminava seu rosto, a jovem contemplava a obra de arte da indústria de motores. De frente ao dragão de aço, ela encarou o olhar do farol que parecia piscar-lhe, agradecendo pela jornada tranquila daquele dia. 

Tirou o capacete, balouçando os cabelos castanhos que, libertos, exalaram um odor de jaborandi muito agradável. E. acariciando sua fiel companheira, do banco ao tanque de combustível, até se deparar com o hodômetro que registrava: setecentos e setenta quilômetros! Não era incrível?

Recordou-se da juventude, dos conselhos do velho pai e da primeira vez em que ele, receoso mas crendo em seu potencial e responsabilidade, subiu na garupa e a chamou: – Vem! Hoje você é quem pilota!

Uma pequena e teimosa lágrima – de saudosismo, carinho e boas lembranças – até correu por seu rosto queimado de sol. E ela levantou a fronte e fitou a abóbada azul e balbuciou: – Obrigado, meu velho!

Era hora de se hospedar no hotelzinho de passagem, tomar um banho e comer alguma iguaria para o preparo do seguimento da viagem.

A saudade de casa, da mãe e da irmã, bem como do cachorro Golias eram o combustível para mais uma parte daquela viagem. E ela voltou a sorrir, e o recepcionista nem entendeu o porquê daquela alegria.

Mas ela, a dama do asfalto e sua cor de ouro velho sabiam: o melhor de viajar é o momento de voltar!

Foto: Rafal Zabielski

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Postagem efetuada por membro do Conselho Editorial do ECK.

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