Kardec, Educador e Construtor da Doutrina dos Espíritos, por Marcelo Henrique

Tempo de leitura: 11 minutos

Marcelo Henrique

Introdução

Falar de Allan Kardec e não ficar no “lugar comum” das biografias e textos comemorativos “comuns” é um relevante desafio. Afinal, há facetas de sua personalidade e atuação, como professor e como construtor da Doutrina dos Espíritos que são desconhecidas da grande maioria dos espíritas e, mesmo os que as conhecem, em geral, não dão a devida ênfase a estes pontos.

Assim, é de se perguntar: – Como Kardec gostaria de ser lembrado? Que atividades seriam as mais relevantes e marcantes na sua existência na Europa (França) do Século XIX (1804-1869)? Que marca indelével possui o seu Espírito?

 Preliminares:

Como apontamentos preliminares, destacamos dois temas que são balizas que norteiam este ensaio. Vamos a elas:

  1. A) Modalidades Mediúnicas e a comprovação das ideias: Kardec tratou com Espíritos, por meio dos médiuns – estes, portadores de duas destacadas modalidades mediúnicas: a psicografia e a psicofonia. Havia, no trabalho que ele passou a desenvolver por volta de 1854/1855, um outro tipo, os médiuns acessórios (de vidência), justamente para aferir, vez por outra, os caracteres “espirituais” (a forma perispiritual – escolhida pelo Espírito – no momento da comunicação mediúnica), comprovando a autoria espiritual.

 

  1. B) Condição Espiritual dos Espíritos Comunicantes: Kardec se refere, de maneira generalizada, a Espíritos superiores (vamos usar o minúsculo, aqui, neste adjetivo justamente para explicitar o nosso raciocínio). O “vulgo espírita” entende de modo apressado que, a partir desta expressão, ele estaria se referindo aos ocupantes da Segunda Classe (conforme a Escala Espírita, presente em “O livro dos Espíritos” – OLE – itens 100 e seguintes). Isto é, aqueles que estariam posicionados logo abaixo dos Espíritos Puros, sendo superiores a todos os demais e inferiores apenas a esses últimos. Todavia, em variadas partes de suas 32 obras, a ideia de “superior”, expressa por Kardec em diversificados contextos, é a de ascendência em relação a(os) Espírito(s) que lhe(s) são inferior(es), isto é, a todos os que lhe estivessem logo abaixo. Por exemplo: os Espíritos Neutros seriam superiores aos Pseudossábios (itens 104 e 105, de OLE). Então, por todas as 32 obras de Kardec, há duas outras expressões mais apropriadas, utilizadas por Kardec: “inteligências invisíveis” e “inteligências ocultas”. Isto conduz ao correto e adequado raciocínio, que ele confirma em destacadas dissertações de sua autoria, de que não se deveria dar crédito total e desmedido às comunicações espirituais, e, ainda, principalmente, apenas pela “assinatura” da comunicação, nem, tampouco, pela condição pessoal dos médiuns.

Feitas tais advertências, vamos falar do homem Rivail-Kardec.

Kardec, Espírito

O indivíduo Denisard Hypollite Leon Rivail (este é o nome corretamente grafado em sua certidão de nascimento), foi renascido na França, a 3 de outubro de 1804. De pais católicos, teve formação educacional-moral protestante, na cidade de Yverdon-les Bains, a 60km da capital, Berna, na Suíça. Seu tutor, neste caso, foi Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827).

Sem podermos afirmar com indiscutibilidade acerca de suas encarnações anteriores, podemos perscrutar acerca de informações contidas nas próprias obras kardecianas e em estudos feitos por pensadores espíritas contemporâneos. Assim, há especulações sobre as vidas anteriores do personagem. Segundo Luciano dos Anjos (“Reformador”, revista da Federação Espírita Brasileira, edição n. 1745, de agosto de 1975) seriam cinco, sendo quatro na Terra). Para André Santos (no trabalho “A reencarnação de Allan Kardec: uma hipótese”), é acrescentada mais uma:

531 aC – habitante de um planeta, sem menção ao nome próprio, na constelação de Órion;

58-44 a.C. – sacerdote druida, com o nome Allan Kardec, na Gália (hoje, França);

30-33 (a partir daqui d.C.) – Quiríllius Cornélius, centurião romano (equivalente, hoje, à patente de capitão, em qualquer exército), em Jerusalém, na Palestina (hoje Israel);

79 – João, um sábio eremita (que seria o indivíduo que, voluntariamente, abdica do convívio social, vivendo em lugares mais desertos, dedicando-se a estudos, meditação e misantropia), em Herculano, Roma (hoje Itália);

Há um gigantesco intervalo na definição de novas encarnações do Professor francês, entre os séculos I e XIV, simbolizando que não foram encontrados indícios de outras romagens planetárias suas, na condição física. Mas, certamente, elas ocorreram e neste planeta, provavelmente em personagens que atuaram nas áreas a que Kardec demonstrou ter conhecimento e proximidade.

1369-1415 – Jan Huss, filósofo, reformador religioso, Boêmia (hoje Praga, na República Tcheca);

1741-1801 – John Kaspar Lavater, filósofo, poeta e teólogo suíço (Zurique, Suíça), informação esta que é do artigo de André Santos;

1804-1869 – Denisard Hypollite Leon Rivail, pedagogo, cientista, filósofo e, por nós considerado, o Criador do Espiritismo, porque a Doutrina dos Espíritos é obra humana, tendo a assinatura, as digitais e o DNA do homem Rivail-Kardec, contando, nesse cenário e projeto, com o concurso do diálogo com os “mortos”, por intermédio da mediunidade.

Características Espirituais de Kardec

Introdutoriamente, informamos que iremos nos basear nos conceitos contidos na “Escala Espírita”, itens 100 e seguintes de “O livro dos Espíritos”, numa interpretação livre-pensadora sobre os mesmos.

Referencial: a Escala é meramente sugestiva, como UM dos modos de classificação. Não é definitiva nem peremptória, no sentido de ser “a verdade”. É um sistema de avaliação, conforme a leitura humano-espiritual, considerando a tenacidade de Kardec em apresentá-la como uma referência de estudos.

 Posição de Kardec na Escala Espiritual-Espírita: entendemos que Rivail-Kardec estaria posicionado na SEGUNDA ORDEM (Bons Espíritos), sendo marcante essa definição do próprio Kardec (item 107, de OLE, na tradução de J. Herculano Pires): “Quando encarnados, são bons e benevolentes para com os semelhantes; não se deixam levar pelo orgulho, nem pelo egoísmo, nem pela ambição, não provam ódio, nem rancor, nem inveja ou ciúme, fazendo pelo bem. A esta ordem pertencem os Espíritos designados nas crenças vulgares pelos nomes de bons gênios, gênios protetores, Espíritos do bem” (nossos destaques).

Mais especificamente e SEM FECHAR QUESTÃO, entendemos que Kardec, na sua última encarnação conhecida estaria praticamente enquadrado na Terceira Classe (“Espíritos Prudentes” – Terceira Classe), possuindo, também, de modo marcante, características de “Espíritos Sábios” (Quarta Classe) e apresentando, ainda que parcialmente, os caracteres de “Espíritos Benévolos” (Quinta Classe).

O que queremos dizer com isso? Que os espíritas em geral, quando “leem” a Escala a tomam de modo estanque (é isso e não é aquilo; é esta classe e não é outra) e definitiva (segmentando a natureza espiritual de alguém a uma dada classe, deixando de lado as próprias experiências e a trajetória – não retilínea nem exclusivista – do Progresso Espiritual).

Senão, vejamos:

QUINTA CLASSE. ESPÍRITOS BENÉVOLOS. – Sua qualidade dominante é a bondade; gostam de prestar serviços aos homens e de os proteger; mas o seu saber é limitado: seu progresso realizou-se mais no sentido moral que no intelectual.

QUARTA CLASSE. ESPÍRITOS SÁBIOS. – O que especialmente os distingue é a amplitude dos conhecimentos. Preocupam-se menos com as questões morais do que com as científicas, para as quais têm mais aptidão; mas só encaram a Ciência pela sua utilidade, livre das paixões que são próprias dos Espíritos imperfeitos.

TERCEIRA CLASSE. ESPÍRITOS PRUDENTES. – Caracterizam-se pelas qualidades morais de ordem mais elevada. Sem possuir conhecimentos ilimitados, são dotados de uma capacidade intelectual que lhes permite julgar com precisão os homens e as coisas”.

(Itens 108 a 110, de OLE, grifamos).

Assim, consideradas tais premissas e avaliando a personalidade de Kardec, a partir dos textos por ele assinados, pelos depoimentos que ele fez acerca do seu próprio trabalho, especialmente nos fascículos mensais da sua “Revue Spirite”, apresentamos, conclusivamente, os elementos essenciais de sua personalidade, como Rivail-Kardec, reforçando:

1) Kardec gostava de prestar serviços aos homens e de os proteger, como demonstram as várias situações em que ele se devotou ao próximo (ações de caridade, filantropia e assistência social, bem como a promoção de cursos, junto com a dedicada companheira, Amélie-Gabrielle Boudet, gratuitamente, em sua residência;

2) Rivail demonstrou possuir a amplitude dos conhecimentos, em várias áreas humano-espirituais, encarando a Ciência pela sua utilidade, isto é, desprovida das paixões que são próprias dos Espíritos imperfeitos; e,

3) Olhando com a lente crítica, não-ufanista e aplicando os conhecimentos espíritas, ressaltamos que Rivail-Kardec, em sua existência físico-material, apresentou a condição de não possuir conhecimentos ilimitados – o que engrandece ainda mais sua tarefa e sua performance, lutando “contra as más imperfeições” e fazendo sempre o melhor que podia, e, em especial, era dotado de uma capacidade intelectual que lhes permite julgar (avaliar, apreciar – atenção para o “uso” deste verbo, que está no texto kardeciano em tela – com precisão os homens e as coisas.

Kardec, o Educador

De pronto, é imperioso destacar que o meio espírita ainda está desprovido de Informações “básicas” com maior detalhamento, sendo o que dispomos, em geral, são apenas elementos precários sobre sua atuação efetiva como Educador.

Mas, de sua biografia, feita por Henri Sausse (e baseada em escritos de própria mão de Rivail-Kardec, muitos publicados na “Revue Spirite”, extraem-se alguns pontos:

Formou-se na escola de Pestalozzi e substituiu o mestre na direção do estabelecimento, em sua aposentadoria. Lá se tornou bacharel em letras e em ciências.

De volta à França, estabeleceu-se como diretor do Instituto Técnico à rua de Sèvres (adotando o Método de Pestalozzi). A instituição não prosperou porque seu sócio, um Tio, ficou viciado em jogos e apostas e arruinou, com dívidas, o empreendimento. Atuou, então, como contador (durante o dia) e escritor/tradutor (à noite).

Linguista insigne, conhecia a fundo e falava corretamente o alemão, o inglês, o italiano e o espanhol; conhecia também o holandês, e podia facilmente exprimir-se nesta língua. Escreveu gramáticas, aritméticas, livros para estudos pedagógicos superiores; traduzia obras inglesas e alemãs e preparava todos os cursos de Levy-Alvarès, frequentados por discípulos de ambos os sexos do Faubourg Saint-Germain. Organizou também em sua casa, cursos gratuitos de química, física, astronomia e anatomia comparada, de 1835 a 1840, e que eram muito frequentados. Em 1849, tornou-se professor no Liceu Polimático, regendo as cadeiras de Fisiologia, Astronomia, Química e Física. Diversas de suas obras passaram a ser adotadas na Universidade de França, com vendas abundantes.

Kardec e o Espiritismo: a construção da Doutrina Espírita

Chegamos à atuação de Rivail a partir de 1854, quando ele já assume a personalidade de Allan Kardec – codinome que ele utilizaria para a inscrição em suas 32 obras. Inicialmente, é preciso estabelecer algumas premissas:

  1. A) Afastar as falácias sobre sua religiosidade e espiritualidade (outras encarnações, vinculações religiosas, etc.). Kardec jamais foi um CRENTE. Sua melhor definição seria: um CÉTICO (vide, a propósito, o livro “O que é o Espiritismo” (1858), onde Kardec, já convencido sobre a realidade espiritual, post-mortem, dialoga com um cético.

 

  1. B) Kardec estudava o Magnetismo animal, a partir das obras de Franz Anton Mesmer, criador do “mesmerismo” (lebensmagnetismus, em alemão). A teoria baseava-se na crença de que todos os seres vivos, incluindo humanos, animais e vegetais, possuem uma força natural invisível. Passes magnéticos. Curas.

 

  1. C) A condição de total desconhecimento primário ou preliminar das mediunidades. Foi em 1854 que, numa conversa com amigo pessoal, colega de Magnetismo, Sr. Fortier, ele ouviu: “Eis aqui uma coisa que é bem mais extraordinária: não somente se faz girar uma mesa, magnetizando-a, mas também se pode fazê-la falar. Interroga-se, e ela responde”. Sua resposta foi de cético e homem de Ciências: “Eu acreditarei quando vir e quando me tiverem provado que uma mesa tem cérebro para pensar, nervos para sentir, e que se pode tornar sonâmbula. Até lá, permita-me que não veja nisso senão uma fábula para provocar o sono” (destaques nossos).

 

  1. D) Entre 1854 e 1856, Kardec passa a “tudo observar”, partindo dos fatos para um raciocínio lógico e sistemático. Certa feita, ele afirmou: “Eu me encontrava, pois, no ciclo de um fato inexplicado, contrário, na aparência, às leis da Natureza e que minha razão repelia. Nada tinha ainda visto nem observado; as experiências feitas em presença de pessoas honradas e dignas de fé me firmavam na possibilidade do efeito puramente material; mas a idéia, de uma mesa falante, não me entrava ainda no cérebro”.

 

  1. E) Em 1855, o Sr. Carlotti (amigo de 25 anos de Kardec) falou com entusiasmo da “intervenção dos Espíritos”, relatando coisas surpreendentes e afirmando: “Você um dia será dos nossos”. Kardec respondeu-lhe: “Não digo que não, veremos isso mais tarde”. O teor destas conversas se repetiu na casa da sonâmbula Sra. Roger, com o Sr. Fortier, seu magnetizador, na presença do Sr. Pâtier e da Sra. Plainemaison. A conversa era a mesma, mas em outro tom. “Em maio desse ano, na casa da Sra. Plainemaison, [Kardec] testemunhou pela vez primeira o fenômeno das mesas. E, também, a escrita mediúnica, em ensaios bem imperfeitos, eu uma ardósia com o auxílio de uma cesta. Mas tudo ainda tinha uma “aura” de divertimento e futilidades”.

 

  1. F) Kardec passou a se aprofundar no estudo de observação e na teorização a ele consequente (dos fatos à teoria), ou seja o empirismo (experientia, em latim). Na ocasião, haviam também outras sessões conduzidas pelo Sr. Baudin. Sobre elas, afirmou: “Foi aí que fiz os meus primeiros estudos sérios em Espiritismo, menos ainda por efeito de revelações que por observação” (negritamos).

 

A doutrina como construção humana de Kardec

Num exame crítico e fundamentado da “missão de Kardec” e considerando a sua atuação principal e fundamental em erigir a Construção da Doutrina dos Espíritos, salientamos em dez pontos a sua trajetória:

1) Livre convencimento: atuação sem dogmas, nem prescrições de moral, tampouco imposição de crenças ou filosofias.

 2) Método: Kardec aplicou à nova ciência, o método da experimentação, sem jamais formular teorias preconcebidas (isto ele já fazia com outras ciências e estudos desde os seus 15/17 anos). Observava atentamente, comparava, deduzia as conseqüências; dos efeitos procurava remontar às causas pela dedução, pelo encadeamento lógico dos fatos, não admitindo como válida uma explicação, senão quando ela podia resolver todas as dificuldades da questão.

 3) Alcance: Kardec compreendeu, desde o princípio, a gravidade da exploração a ser empreendida, entrevendo “nesses fenômenos a chave do problema tão obscuro e tão controvertido do passado e do futuro, a solução do que havia procurado”, por toda a vida.

 4) A Revolução Espírita: Kardec destaca que, em relação ao Espiritismo, tudo isto “era, em uma palavra, uma completa revolução nas idéias e nas crenças”, razão pela qual se deveria “agir com circunspeção e não levianamente, ser positivista e não idealista”, para me ele não fosse arrastado “pelas ilusões”.

 5) Natureza dos Espíritos: Kardec destacou: “Um dos primeiros resultados das minhas observações foi que os Espíritos, não sendo senão as almas dos homens, não tinham nem a soberana sabedoria, nem a soberana ciência; que o seu saber era limitado ao grau do seu adiantamento, e que a sua opinião não tinha senão o valor de uma opinião pessoal. Esta verdade, reconhecida desde o começo, evitou-me o grave escolho de crer na sua infalibilidade e preservou-me de formular teorias prematuras sobre a opinião de um só ou de alguns. Em outras palavras, com tal atitude reiterada ele agiu para AFASTAR A VERDADE IRREFUTÁVEL E INCONTESTÁVEL DE ESPÍRITOS-GUIAS E MÉDIUNS. Que lição, então, para o nosso atual meio (movimento) espírita, que idolatra espíritos e médiuns, não é mesmo?

 6) Natureza Espiritual: Para Kardec, a “comunicação com os Espíritos […] provava a existência de um mundo invisível ambiente”, o “ponto capital, um imenso campo franqueado às nossas explorações, a chave de uma multidão de fenômenos inexplicados”. Necessário, portanto, “conhecer o estado desse mundo e seus costumes, se assim nos podemos exprimir”. Então, “cada Espírito, em razão de sua posição pessoal e de seus conhecimentos, desvendava-me uma fase desse mundo, exatamente como se chega a conhecer o estado de um país interrogando os habitantes de todas as classes e condições, podendo cada qual nos ensinar alguma coisa e nenhum deles podendo, individualmente, ensinar-nos tudo. Cumpre ao observador formar o conjunto, com o auxílio dos documentos recolhidos”. Com isto, também demonstra sobejamente a necessidade de REFORÇAR A NOÇÃO DE QUE É ESSENCIAL COTEJAR AS INFORMAÇÕES, COMPARÁ-LAS ENTRE SI, PARA FORMAR TEORIAS. Outra advertência feroz para o Espiritismo pós-kardeciano, no sentido de evitar que se aceite piamente o que diz UM Espírito, seja ele encarnado ou desencarnado, justamente, porque há “falsos Cristos e falsos Profetas”, ou Espíritos pseudossábios se passando (ou sendo considerados, pelos encarnados) por sábios.

 7) Variedade/Multiplicidade de Relatos Espirituais (e de estudos espíritas): Kardec recebeu cadernos de comunicações diversos colhidos das reuniões do grupo por cinco anos, totalizando cinquenta cadernos que não estavam organizados nem em ordem. Seus amigos, “conhecendo as vastas e raras aptidões de síntese do Sr. Rivail, esses senhores lhe enviaram os cadernos, pedindo-lhe que deles tomasse conhecimento e os pusesse em termos – os arranjasse”. O “trabalho era árduo e exigia muito tempo, em virtude das lacunas e obscuridades dessas comunicações; e o sábio enciclopedista recusava-se a essa tarefa enfadonha e absorvente, em razão de outros trabalhos”.

 8) Aprofundamento nas ideias espirituais-espíritas: Kardec resolveu se aprofundar na leitura, principalmente considerando seus questionamentos para a resolução dos “problemas” que lhe interessavam “sob o ponto de vista da filosofia, da psicologia e da natureza do mundo invisível”.

 9) CUEE – a Concordância Universal entre os Ensinos dos Espíritos: pela seletividade, Kardec, depois de registrar todas as ocorrências em todas as sessões e, em paralelo, passou a receber e acompanhar outras sessões, totalizando dez médiuns distintos e que não tinham acesso ou conhecimento dos trabalhos uns dos outros. Da comparação e da fusão das mensagens surgiu a primeira edição de OLE, com 501 questões.

 10) A progressividade dos ensinos e o progresso das Ciências: a tenacidade e a perspicácia de Kardec considerou, pela própria experiência, em seu trabalho metódico e sistematizado (de quinze anos – 1854-1869, sendo doze destes como organizador e escritor da Doutrina dos Espíritos), que os conceitos espíritas não deveriam ser estanques e que não haveria, jamais, definitude nas informações trazidas pelas Inteligências Invisíveis.

Considerações Finais:

Para pensar e debater, deixo algumas provocações:

  1. I) O que Kardec encontraria, hoje, se retornasse às lidas do meio espírita, comparando com o seu método e suas publicações?
  2. II) Por que o meio espírita resolveu abdicar da seletividade das mensagens mediúnicas, atribuindo-lhes autoridade, superioridade e complementaridade ao trabalho de Kardec, apesar de, em muitos casos, as “novas” ideias serem contraditórias e anulatórias dos princípios espíritas?

III) Quem está habilitado para aferir/estudar comparativamente/validar as comunicações mediúnicas e as publicações dos encarnados acerca do Espiritismo?

  1. IV) O Espiritismo se tornará, um dia, crença comum perante a Humanidade?

Avaliemos, cada qual o conteúdo e as respostas possíveis para tais questionamentos, inclusive como “norte” para as nossas atividades atuais no meio espírita.

ANEXO:

Vivências Evolutivas de Kardec – João Batista Cabral (2005)

  1. SACERDOTE AMENOPHIS – No período de Ramsés, no antigo Egito. lustre sábio da casa do Faraó Seti (citação no livro “Faraó Mernephtah”, do Conde J. Rochester.

Written by 

Postagem efetuada por membro do Conselho Editorial do ECK.

2 thoughts on “Kardec, Educador e Construtor da Doutrina dos Espíritos, por Marcelo Henrique

  1. Espetacular, meus amigos! Revisitar Kardec sob a ótica crítica e investigativa apresentada no artigo, sem dúvida, seria aprovada pelo próprio codificador. Lúcido e claro!

  2. Excelente análise, percuciente e elucidativa. As instigantes indagações finais revelam-se apropriadas e oportunas. Na minha visão estamos em um momento de certa igrejificação do movimento espírita que, a pretexto de ser (e é, mas relativamente à Jesus de Nazaré, não ao Cristo de Belém), adota posições judaico-católicas e protestantes e passa, aos poucos, por instituir rituais (olhos fechados, Pai-Nosso no abrir e fechar reuniões, mãos abertas para dar ou receber passes, água fluidificada após o passe, etc). Mas creio em correção de rumos.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.