Uma análise espiritual, com base na Filosofia Espírita da Guerra Israel-Hamas
Paulo Degering Júnior
Na imagem, ilustrações de Latuff, em ensaio entre palestinos e judeus vivendo em Paz (2004).
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Existem pessoas idosas, crianças e bebês sendo assassinadas ou capturadas pelo grupo terrorista Hamas, atualmente, gerando uma guerra entre Israel e Hamas. E o que dirá o Espiritismo? Por que Deus permite tal coisa? Estariam essas pessoas quitando débitos de vidas passadas com esse sofrimento?
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Pasmem: tem julgadores de plantão querendo dizer que a chacina de jovens na rave teria relação com um castigo divino, por estarem fazendo uma festa, supostamente com drogas, na “Terra Santa”. Um completo e maldoso absurdo!!
Uma vez mais precisamos lembrar: para falar segundo o Espiritismo, é necessário buscar o que existe desenvolvido pelo método científico necessário, coisa que, até hoje, foi feita apenas por Kardec. E aqui vai uma dica de ouro:
Se alguém disser falar do Espiritismo, mas diz que as vítimas de quaisquer calamidades ou crimes estão “pagando” por dívidas de vidas passadas, ou que é efeito do “karma“, ou que estão resgatando débitos de vidas passadas, pare de acompanhá-lo e vá buscar o que diz a ciência espírita. Estamos aqui afirmando, taxativamente: isso não é Espiritismo! Espiritismo você encontra nas obras recomendadas, ao final do texto.
Espiritismo não fala em “karma”, nem em pagar dívidas pela encarnação
É uma luta ainda sem fim, e toda vez que acontece qualquer evento crítico que abala a população, temos que voltar ao mesmo assunto, em nome do Espiritismo verdadeiro. Agora é essa guerra no Oriente Médio, com vítimas em Israel, Palestina e no Líbano. Ano passado, foram os ataques terroristas às escolas brasileiras. Antes, um desastre climático ou cataclismo como aquele que solapou Petrópolis ou o triste acidente com o time da Chapecoense. E sempre aparecem os indivíduos levianos, que nunca se debruçaram para estudar o Espiritismo, dizendo verdadeiros absurdos que não correspondem à Doutrina Espírita ou afirmando terem recebido psicografias das vítimas, afirmando que elas teriam sido “malvados soldados que faziam crueldades no passado” (sic!).
Somos obrigados a fazer nossa parte, relembrando que estamos vivos na matéria densa, sujeitos às leis da matéria e, também, às decisões criminosas de outras pessoas, o que nunca, jamais, em hipótese alguma, serve para “resgatar débitos de vidas passadas”!
Fora as provas impostas pelas escolhas alheias ou pela força da natureza, ou, ainda, aquelas que resultam das ações presentes do próprio indivíduo, existem também os gêneros de provas que o Espírito pode ter escolhido passar, mas não para “pagar” por nada:
* O Espírito pode escolher provas simplesmente para aprender e progredir.
* Também pode escolher determinadas provas por entender que conquistou uma determinada imperfeição, escolhendo então passar por desafios e oportunidades com vistas a desapegar dessa imperfeição, que o faz sofrer.
Isso consta na edição original e não adulterada de “O Céu e o Inferno”, publicada pela editora FEAL.
Deus não se vinga!
O que há em “O livro dos Espíritos”
Falando sobre os flagelos destruidores, podemos aplicar parte do entendimento a esses acontecimentos também:
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- a) — Nesses flagelos, porém, o homem de bem sucumbe como os perversos; isso é justo?
“Durante a vida, o homem relaciona tudo a seu corpo; mas após a morte pensa de outra maneira. Como já dissemos, a vida do corpo é um quase nada; um século de vosso mundo é um relâmpago na Eternidade. Os sofrimentos que duram alguns dos vossos meses ou dias, nada são. Apenas um ensinamento que vos servirá no futuro. Os Espíritos que preexistem e sobrevivem a tudo, eis o mundo real (ver item 85). São eles os filhos de Deus e o objeto de sua solicitude. Os corpos não são mais que disfarces sob os quais aparecem no mundo. Nas grandes calamidades que dizimam os homens, eles são como um exército que, durante a guerra, vê os uniformes estragados, rotos ou perdidos. O general tem mais cuidado com os soldados do que com as vestes.”
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- b) — Mas as vítimas desses flagelos, apesar disso, não são vítimas?
“Se considerarmos a vida no que ela é, e quanto é insignificante em relação ao infinito, menos importância lhe daríamos. Essas vítimas terão noutra existência uma larga compensação para os seus sofrimentos, se souberem suportá-los sem lamentar.”
(KARDEC, A. “O livro dos Espíritos”. Trad. J. Herculano Pires. 64. Ed. São Paulo: LAKE, 2004.)
O Espiritismo, longe de falar sobre carma e pagamento de dívidas, demonstra o contrário!
Também recomendamos cautela com essas teorias de que são eventos relacionados à transição planetária, por serem teorias que não encontram respaldo no Espiritismo.
Retornemos a Kardec. É importante. Chega de opiniões! O Espiritismo é uma ciência! Se mais pessoas estivessem defendendo a Doutrina, mais chance teriam outras de encontrar bons conteúdos, e não esses baseados em falsas ideias.
Cabe resgatar o que consta em O Livro dos Espíritos sobre as guerras:
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- Qual a causa que leva o homem à guerra?
“Predominância da natureza animal sobre a natureza espiritual e transbordamento das paixões. No estado de barbaria, os povos um só direito conhecem: o do mais forte. Por isso é que, para tais povos, o de guerra é um estado normal. À medida que o homem progride, menos frequente se torna a guerra, porque ele lhe evita as causas. E, quando se torna necessária, sabe fazê-la com humanidade.”
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- Da face da Terra, algum dia, a guerra desaparecerá?
“Sim, quando os homens compreenderem a justiça e praticarem a lei de Deus. Nessa época, todos os povos serão irmãos.”
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- Que objetivou a Providência, tornando necessária a guerra?
“A liberdade e o progresso.”
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- a) — Se a guerra deve ter por efeito o advento da liberdade, como pode frequentemente ter por objetivo e resultado a subjugação?
“Subjugação temporária, para pressionar os povos, a fim de fazê-los progredir mais depressa.”
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- Que se deve pensar daquele que suscita a guerra para proveito seu?
“Grande culpado é esse e muitas existências lhe serão necessárias para expiar todos os assassínios de que haja sido causa, porquanto responderá por todos os homens cuja morte tenha causado para satisfazer à sua ambição [1].”
(KARDEC, A. “O livro dos Espíritos”. Trad. J. Herculano Pires. 64. Ed. São Paulo: LAKE, 2004.)
Nossas condolências, portanto, às vítimas dessa triste guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas. Oremos para que esses Espíritos não se prendam às maldades de outros e possam seguir em frente. Esse é um dos melhores efeitos do Espiritismo, que, infelizmente, elas provavelmente não conheceram.
Curiosidades
Kardec diversas vezes realizou evocações de Espíritos mortos nas guerras, de simples soldados a oficiais. Temos, por exemplo, as seguintes dissertações na “Revue Spirite” (KARDEC, A. “Revue Spirite”. Trad. Julio Abreu Filho. Supervisão de J. Herculano Pires. São Paulo: Edicel, 1964):
* Um Oficial Superior morto em Magenta (Julho de 1859, em “Palestras Familiares de Além-Túmulo”);
* Materialidade de além-túmulo: o Zuavo de Magenta (Julho de 1859, em “Palestras Familiares de Além-Túmulo”);
* O Espírito de um soldado morto em guerra: o Tambor de Beresina (Julho de 1858, em “Palestras Familiares de Além-Túmulo”).
Nota do Autor:
[1] O que quer dizer: quando esse Espírito compreender o mal que causou, sua consciência lhe acusará de cúmulo ao qual chegaram suas imperfeições. Eis o motivo de demandar muitas encarnações em expiação, escolhendo provas que poderão lhe ajudar a se resgatar de seus desvios. Não significa que ele terá que reencarnar com cada uma de suas vítimas, mesmo porque a maioria delas não se apega ao fato e segue seu caminho de evolução.