Eurípedes Kühl
Foto acima: Agência de Notícias de Direitos Animais. Eurípedes Kühl
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“o Espiritismo e a Ciência se completam; que a Ciência sem o Espiritismo está impossibilitada de explicar certos fenômenos recorrendo somente às leis da matéria; que a Ciência sem o Espiritismo está impossibilitada de explicar certos fenômenos recorrendo somente às leis da matéria […] que o Espiritismo sem a Ciência careceria de apoio e de controle e poderia equivocar-se” (KARDEC, A. “A Gênese”, capítulo I, item 16. Trad. Carlos de Brito Imbassahy. São Paulo: FEAL, 2018).
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Ciência
Charles Darwin (1809-1882), famoso naturalista inglês criou a regra do “gradualismo biológico” (evolucionismo) e, ao longo da sua grande obra-prima, “A Origem das Espécies” (1859), citou sete vezes a expressão latina Natura non facit saltum [1] (A Natureza não dá saltos). Darwin defendia o gradualismo filético, isto é, que a evolução se dá por meio de pequenas transformações no decorrer de diversas gerações dos seres vivos, configurando, portanto, um processo evolutivo lento e contínuo.
Fato é que, desde então, há discussão científica entre filósofos, os quais, baseados na física quântica dão como evidentemente incorreta a frase “a natureza não dá saltos”, enquanto há cientistas que ao contrário, como Darwin, são gradualistas (evolução gradual).
O gradualismo
O gradualismo biológico, proposto por Darwin, no referido livro, argumenta que a evolução procede por pequenas mudanças sucessivas, e não por grandes saltos.
Tal assertiva contrariou a visão religiosa de então, porque afastava da tradição criacionista a presença de um criador todo-poderoso, onisciente – Deus!
O saltacionismo
Em biologia, saltacionismo representa a mudança repentina em determinado organismo, de uma geração para outra.
Antes de Darwin, a maioria dos defensores da evolução eram saltacionistas. Alguns defendiam, por exemplo, que as aves teriam sido originadas a partir dos dinossauros, por saltação; outros citaram o 6º dedo dos ursos pandas, presente só neles e não dos demais ursos; outros mais, biólogos, propuseram a aparição repentina de várias espécies, com longos períodos sem mudanças nos organismos fósseis. Difícil a comprovação dessa tese e, em alguns casos, sendo isso debitado à inexistência de registros fósseis.
Acerca disto, reflito que os contraditores dos pensadores darwinianos talvez se louvassem nos exemplos da civilização, esta, sim, evoluindo sem saltos, progredindo sempre, paulatinamente. Por exemplo: das cavernas às atuais coberturas de edifícios; das carroças e carros de boi aos luxuosos veículos das marcas Ferrari, BMW ou Lamborghini; do avião 14-bis ao moderníssimo A350 XWB, da Airbus; da canoa rústica ao imenso transatlântico; da flecha à bomba de hidrogênio; dos trambolhos eletrônicos aos modernos PCs, smartphones ou smartTVs; dos emplastros e pajelanças à medicina nuclear.
A lista é infinita…
Um consenso?
Alguns naturalistas – mesmo com respeito a Darwin – continuaram saltacionistas, mas propondo uma combinação com o gradualismo darwiniano.
Essa posição, ao que me parece, pacificou a discussão… Tanto que, atualmente, há aceitação de que, em se tratando de “saltos” – salto, aqui, significando evolução – na Natureza ocorrem as duas vertentes: gradualismo (evolução filética gradativa) e saltacionismo (após determinados acontecimentos naturais ocorrem significativas alterações – os desastres geológicos, por exemplo).
Conquanto leigo, posiciono-me nesta terceira alternativa, isto é, aceitação de ambas as ocorrências na Natureza: gradualismo e saltacionismo…
Com absoluta incapacidade de sequer arriscar tecnicamente argumentos a favor ou contra saltos biológicos na Natureza, deixo aos especialistas suas diferenciadas opiniões, certamente abalizadas.
Encerrando essas reflexões, amparadas por minhas pesquisas na literatura espírita e algumas egressas da plataforma Google (conhecimentos enciclopédicos instantâneos), restou estabelecido que: alguns autores sugerem que os cenários evolutivos do gradualismo e saltacionismo, biológicos, não são mutuamente exclusivos. Por outro lado, ambos devem ser avaliados e levados em conta para explicar a complexidade e a enorme diversidade de seres orgânicos.
O Espiritismo
Se as ciências se ocupam da parte material do evolucionismo biológico, a Doutrina dos Espíritos, de forma transcendente, concebe a moral progressiva (já que a lei universal se chama “Lei do Progresso, conforme a terceira parte de “O livro dos Espíritos), não apenas a biológica, mas também e principalmente a evolução espiritual – do homem e dos animais. Tudo, tudo, subordinado a Leis Divinas.
Progresso espiritual humano
Sou um simples pesquisador. Por isso, apelo para Kardec, que se preocupou com os temas: progresso material (da civilização, dos povos) e progresso espiritual, recebendo dos Espíritos, que o arrimaram na Codificação do Espiritismo, múltiplas informações, tais como: Justiça Divina, Reencarnação (vidas sucessivas), Mediunidade, etc. Em “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec, na parte terceira, em onze capítulos encontra-se o entendimento das “Das leis morais – Da lei divina ou natural”.
Ressalto que apenas tal seção dessa estupenda obra literária já expõe, com detalhes, o que a Doutrina dos Espíritos leciona sobre a existência terrena, o resplendor de tudo o que Deus criou, máxime como deve a Humanidade evoluir: o homem, pela reencarnação (vidas sucessivas).
Kardec, de posse das informações dos Espíritos Protetores sobre essas Leis, pedagogicamente elaborou dez “Leis Divinas”, dentre elas, a “Lei da destruição” (transformação) e a “Lei do Progresso”.
Para mim, é cristalino o entendimento de que, periodicamente, pelas citadas Leis, ocorrem “choques de Gestão Divina” para o progresso da Humanidade, isto é, reduzindo os termos: a Natureza dá “saltos”, sim. Cito abaixo três exemplos:
1º – O Decálogo, com Moisés;
2º – A vinda de Jesus(!), encarnado, trazendo-nos as primícias do Reino dos Céus (Amor/Caridade/Perdão);
3º – A Codificação do Espiritismo, com Allan Kardec, em 18/04/1857, com o lançamento de “O livro dos Espíritos” (OLE).
Os saltos espirituais segundo a Filosofia Espírita
Esses abençoados acontecimentos, para mim, representaram três impressionantes “saltos” na evolução espiritual da Humanidade.
Registro abaixo outros três exemplos de “saltos” na Natureza, esses, registrados em OLE (nos utilizaremos da tradução de J. Herculano Pires, contida na 64. ed., publicada em São Paulo, pela Editora LAKE, em 2004), seja pela dicção das Inteligências Invisíveis, seja pela própria lavra de Kardec. Veja-se, a propósito, a expressão “de tempos em tempos”, por nós grifada, repetida:
- Questão 737 (da Lei de Destruição): por meio dos flagelos destruidores Deus faz a Humanidade avançar mais depressa e “esses transtornos são frequentemente necessários para fazerem com que as coisas cheguem mais prontamente a uma ordem melhor, realizando-se em alguns anos o que necessitaria de muitos séculos”;
- Questão 783 (da Lei do Progresso): A Humanidade se aperfeiçoa, que se deve “Ao progresso regular e lento, que resulta da força das coisas; mas quando um povo não avança bastante rápido, Deus lhe provoca, de tempos em tempos, um abalo físico ou moral que o transforma”;
- Questão 789: (da Lei do Progresso) – “De tempos em tempos surgem os homens de gênio que lhes dão um impulso e, depois, homens investidos de autoridade, instrumentos de Deus, que em alguns anos o fazem avançar de muitos séculos.
A Evolução dos animais
Neste artigo não me aprofundarei sobre a evolução dos animais e das relações misteriosas que existem entre eles e o homem. O tema é por demais complexo. Escreveu Kardec, comentando a resposta dadas pelos Espíritos ao item 613, de “O livro dos Espíritos”: “O ponto de partida do Espírito é uma dessas questões que se ligam ao princípio das coisas e estão nos segredos de Deus. Não é dado ao homem conhecê-los de maneira absoluta”.
É que, entre os espíritas há incontáveis e sérias opiniões pessoais de estudiosos, pró e contra o pensamento de que os animais estagiam nos reinos mineral, vegetal e animal, antes da promoção ao racional. Repito: com opiniões pessoais…
Quanto ao chamado “elo perdido”, dos biólogos e naturalistas, nunca encontrado na Terra, entendemos que ele não se processa na Terra e sim no mundo espiritual, por “geneticistas” celestes… Mas inexistem, conforme a obra de Kardec, quaisquer dúvidas de que o homem procede do animal.
Conclusão
A expressão “a Natureza não dá saltos” deve ser entendida como opinião pessoal de filósofos, biólogos e demais estudiosos da Natureza, referindo-se ao progresso material, lento, conquanto permanente. Nesse enfoque, enquadra-se todo o progresso humano, científico em particular no século XX, da Idade da Pedra ao século XXI. Se o olhar da História for deitado tão somente à biologia, ou à civilização, ainda assim não se aplica de todo.
Isso porque o progresso moral, da Humanidade toda, só será alcançado pela soma do progresso espiritual de cada ser humano, respeitadas integralmente todas as Leis Divinas, insertas por Deus na consciência dos Espíritos, um a um.
Para tanto, a Divina Providência concede a cada ser humano a bênção do livre-arbítrio, da consciência e da inteligência contínua, além dos meios necessários para realizar seu progresso espiritual.
A decantada e sublime regeneração planetária ocorrerá, pois, dependendo de como o tempo será administrado e vivenciado no Bem, Espírito a Espírito, ou seja, por nós…
Nota do Autor:
[1] Natura non facit saltum (“A Natureza não dá saltos”), frase latina atribuída a Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716), filósofo e matemático alemão, ou ao naturalista e médico sueco Carl von Lineu (1707-1778).
Eurípedes Kühl
Nasceu em uma família espírita na cidade de Igarapava (SP). Seu nome foi dado em homenagem a um importante divulgador da Doutrina Espírita, Eurípedes Barsanulfo, mineiro de Sacramento (MG), educador, político, jornalista e médium brasileiro.v
Sua mediunidade eclodiu em 1974, na forma de mensagens doutrinárias e, em 1989, publicou seu primeiro livro.
Formado em Administração, é militar reformado do Exército. Passou a se dedicar exclusivamente ao Espiritismo, tendo sido responsável, por muitos anos, pelo curso de médiuns do Centro Espírita que frequentava.
É autor de mais de trinta obras, entre elas, “Animais: Amor e Respeito” e “Animais, Nossos Irmãos”, onde aborda o entendimento espírita sobre os não humanos e a sensibilidade dos animais domésticos, em especial, os felinos. Apaixonado por gatos, chegou a ter onze deles. Também foi articulista de vários sites e blogs e de periódicos espíritas.
Muito interessante. Material para estudar minuciosamente.