Por Carlos de Brito Imbassahy
***
Para os que pensam que sessões espíritas voltadas a pesquisas sejam algo religiosamente configurado, com rezas e que mais, cheias de fervor e contrição, estão redondamente enganados. O religiosismo que muitos querem impingir em reuniões espíritas não procede e representa, apenas, a influência religiosa que querem dar à mesma e que não encontra amparo em Kardec.
***
Por diversas vezes comento que, durante a época em que tive oportunidade de fazer uma série de pesquisas com os aludidos fenômenos ectoplásmicos, uma das Entidades que aparecia materializada em nossas sessões era Karina, uma cigana que, segundo ela, teria sido minha irmã em vida passada.
Ela era muito rebelde e fazia tudo à moda dela. Gostava de dançar músicas ciganas que, de vez em quando nossa vitrola tocava e, nestas horas, todos os presentes sentiam a sua saia rodada, tão escura quanto o ambiente tenuemente iluminado por papéis fosforescentes. Ela batia nos móveis e ia num rodopio constante e sentíamos o impacto em nós; só que ninguém conseguia segurá-la.
Certa feita, foi-nos trazido, por um dos participantes, um conhecido e “grande” médium, seu conhecido. Logo de entrada, este médium parou estupefato e sem saber de nada, descreveu a Karina, que lhe dizia insistentemente: – “você não pode participar da sessão; você fuma”.
O nosso companheiro que o trouxe, olhou espantado e perguntou se aquilo era verdade, porque ele próprio desconhecia este fato. O médium foi obrigado a confessar que fumava escondido, para espanto dos que o conheciam.
Um outro notório médium também esteve em nossa casa. Viera, apenas, nos visitar. Mas igualmente descreveu a cigana, informando que ela afirmava que “era Espírito e não espírita”. Mas ele omitiu o restante que ela lhe houvera dito. Então, na sessão imediata ela, por tiptologia – aquela forma demorada de bater letra por letra que compõem as palavras e com elas formar as frases –, nos informou o que ele não quis revelar, explicando que tinha lhe dito que a sua vaidade iria lhe comprometer perante a Espiritualidade.
Tal médium, que frequentemente vinha à nossa casa, nunca mais apareceu.
De outra feita, outro amigo que participava de sessões de materialização em outros locais, procurou-me e disse que gostaria de participar da nossa, sugerindo que seria uma ótima oportunidade para “praticarmos a caridade”. Afinal, tínhamos tudo para isso. Era só aproveitar as energias espirituais “em favor dos sofredores”.
Ponderei, inicialmente, que teria que consultar os mentores espirituais a respeito da sua proposta e foi o que fiz: na primeira sessão que tivemos, ao sentir a presença dos nossos companheiros espirituais indaguei se podia fazer uma consulta e, com a devida autorização – uma batida seca – expliquei que o referido amigo havia sugerido que transformássemos nossa sessão de pesquisas em um trabalho de caridade, a favor de “sofredores que não encontravam alívio fora dos meios espíritas”.
Demorou. A resposta não foi imediata. Ela sempre vinha por tiptologia. Por fim, a ciganinha apareceu e, na sua irreverência tradicional, escreveu: “Está querendo se salvar, fazendo a caridade às nossas custas”.
Evidentemente, o companheiro se inspirava no lema de Kardec de que, “fora da caridade não há salvação”. Mas não era bem essa a caridade referida pelo Mestre.
Depois dessa, não pude convidá-lo a participar de nossas pesquisas. Para os que pensam que sessões espíritas voltadas a pesquisas sejam algo religiosamente configurado, com rezas e que mais, cheias de fervor e contrição, posso garantir que estão redondamente enganados. O religiosismo que muitos querem impingir em reuniões espíritas não procede e representa, apenas, a influência religiosa que querem dar à mesma e que não encontra amparo nas obras de Kardec.
Uma sessão mediúnica não é um culto religioso. Por sinal, é o próprio Kardec que afirma, no terceiro diálogo a um padre, no seu livro “O Que é o Espiritismo” que a Doutrina Espírita, embora voltada para Deus, não possui culto, muito menos rituais religiosos de adoração a Deus.
Os estudos espíritas longe estão de ser algo voltado a crenças religiosas e contrições dogmáticas, como se estivéssemos ante seres divinos, superiores, aos quais teríamos que prestar posturas de reverência e até adoração.
A influência das Igrejas e, principalmente, de algumas entidades a elas ligadas é que tem tentado transformar a Doutrina Espírita em mais uma seita mística improcedente.
Já passou da hora de extirparmos de nosso meio tais intrusos, resgatando Kardec e suas práticas.