Conceitos Controversos: Causa e Efeito, Ação e Reação e Carma, por Edson Figueiredo de Abreu

Tempo de leitura: 6 minutos

Edson Figueiredo de Abreu

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As situações que as pessoas enfrentam em suas vidas, sejam elas boas ou más, são “efeitos” das consequências de suas escolhas e atitudes presentes e passadas, que são, na realidade, as “causas”.

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Certa vez um aluno de curso na instituição espírita me perguntou: qual a diferença entre “causa e efeito”, “carma” e “ação e reação”? E, na sequência, emendou uma segunda pergunta: Por que alguns espíritas se confundem, uns falando de carma, outros de ação e reação e outros ainda de causa e efeito, quando nas obras espíritas não existe qualquer menção a estas leis?

Na época, em plena sala de aula, respondi de forma resumida que realmente ele tinha razão, pois não existe qualquer menção a estas leis nas obras básicas compiladas por Allan Kardec e, que também estas leis não se assemelham entre si, apesar de, aparentemente, terem o mesmo significado.

Agora, com um pouco mais de tempo, convido este aluno e também vocês leitores a entenderem estas “dessemelhanças”.

Se pesquisarmos as obras da codificação espírita não encontraremos nenhuma menção a “Lei de Causa e Efeito”, porque esta lei não é tratada especificamente, mas se acha “num todo” a ser estudado e compreendido, através do real entendimento do conteúdo filosófico da Doutrina Espírita.

Na realidade, a Lei de Causa e Efeito é percebida através do estudo de vários capítulos dos livros da codificação espírita, que unidos nos levam a constatação da existência desta lei, principalmente em “O livro dos Espíritos”, “O evangelho segundo o Espiritismo” e “O Céu e o Inferno”.

Além de um entendimento geral, podemos concluir a existência desta Lei, por um “princípio” utilizado pelos Espíritos Superiores, quando esclarecem a origem das dores, dizendo que para todo efeito existe uma causa e não há causa sem efeito.

Mais precisamente, podemos dizer que este princípio é aplicado no “capítulo V”, do livro “O evangelho segundo o Espiritismo”, intitulado “Bem-Aventurados os Aflitos”. Principalmente nos itens: 1 a 3 – “Justiça das Aflições”; 4 e 5 – “Causas Atuais das Aflições”; e 6 a 10 – “Causas Anteriores das Aflições”.

Resumidamente, neste capítulo, podemos entender que os tormentos que possivelmente estejamos enfrentando, são na realidade o resultado de escolhas e atitudes por nós mesmos adotadas, quer seja ainda nesta existência ou até mesmo em uma ou mais existências anteriores. Na verdade, se formos honestos para conosco, iremos perceber que na maioria das vezes os desconfortos são oriundos de ações desta vida mesmo. Cabe, então, avaliarmos nossas atitudes passadas para descobrir qual delas motivou a situação que atualmente estamos enfrentando.

Distinguir se a causa foi uma ou mais atitudes tomadas em uma existência anterior é muito complicado e nem sempre fica claro, principalmente para quem busca compreender suas dores. Porém, há situações em que esta constatação se torna simplificada, principalmente quando analisamos casos de pessoas que já nascem com determinados problemas de ordem física. A lógica diz que se há um problema físico e é de nascença, este é o “efeito” de algo que só pode ter sido ocasionado (causa) em uma existência anterior.

Mas é importante ressaltar que a Lei de Causa e Efeito não é invenção da doutrina espírita, pois na Antiguidade já se tinha conhecimento dela, quando se dizia “olho por olho, dente por dente”. Também Jesus apresentou esta lei por meio das seguintes passagens, contidas nos evangelhos canônicos:

“Então Jesus lhe disse: Embainha a tua espada; pois todos os que lançam mão da espada da espada perecerão” (Mateus; 26:53).

“Retorquiu Jesus: Em verdade, em verdade vos digo, que todo aquele que comete pecado é escravo do pecado” (João; 8:34).

“A cada um segundo suas obras” (Mateus; 16:27).

“Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra terá sido ligado nos céus, e tudo o que desligardes na terra terá sido desligado nos céus” (Mateus; 18:18).

“Pelos seus frutos os conhecereis. É possível alguém colher uvas de um espinheiro ou figos das ervas daninhas? Assim sendo, toda árvore boa produz bons frutos, mas a árvore ruim dá frutos ruins” (Mateus; 7: 16).

Já a Lei de “Ação e Reação” é a conhecida terceira lei da física de Newton: “Para toda ação sobre um objeto, em resposta à interação com outro objeto, existirá uma reação de mesmo valor, intensidade e direção, mas com sentido oposto”.

Apesar de terem sentidos parecidos, a Lei de Causa e Efeito atua no campo espiritual e se difere da lei física de Ação e Reação, principalmente pelo componente da vontade do ser humano (Espírito), a qual chamamos de Livre Arbítrio.

Na “Ação e Reação” o efeito é material e o retorno é imediato com a mesma intensidade, já na Lei de Causa e Efeito, o retorno é espiritual e fatalmente também ocorrerá podendo até se manifestar no corpo físico, mas não necessariamente será imediato e com a mesma intensidade. Devemos ainda considerar que este retorno poderá ser modificado pela maior de todas as leis que é a Lei de Amor, “porque o amor cobrirá a multidão de pecados” (1 Pedro; 4:8).

Se o Espírito se equivocou e plantou dores numa existência física, ao desencarnar talvez possa adquirir consciência e arrependimento, e, para recuperar-se dos erros cometidos, “poderá”, por sua livre escolha, numa nova existência física, semear o bem e o amor. Pode inclusive haver casos em que a reparação ocorra somente em uma outra existência, não tão imediata quanto a anterior, pois o Espírito precisa adquirir o conhecimento necessário e se capacitar adequadamente para superar seus equívocos, e nem sempre isso é obtido de imediato.

A Lei de Causa e Efeito também não tem nada a ver com a lei do carma ou Karma. E é importante ressaltar que esta expressão também não consta da Codificação Espírita. Kardec em nenhum momento menciona este termo em qualquer uma de suas obras.

A chamada lei do carma pertence ao hinduísmo e ao budismo e tem real significado para estas culturas milenares, que são bem diferentes da cultura ocidental. Para estas culturas, essa palavra “carma” define as “consequências” das ações dos indivíduos, boas ou más, que geram reações idênticas que os atingem na mesma intensidade, nesta encarnação ou nas próximas.

Vejam vocês, então, que o significado se refere a ações “boas” ou “más”. Porém, o espírita desavisado utiliza a palavra carma de forma equivocada, principalmente para exemplificar as coisas ruins que ocorrem com as pessoas. Se uma pessoa está passando por uma situação difícil, é comum ouvirmos no meio espírita: “calma que isso aí é um carma!”. E as coisas boas e positivas? Também não são um carma?

No hinduísmo, a palavra Karma tem o significado de causa e efeito, porém, no cerne, traz um sentido apático e passivo. A pessoa, fruto do carma, para fazer jus a algo melhor no seu futuro, deve sujeitar-se aos males que lhe são impostos, sem reagir. Isso faz com que milhares de pessoas vivam preguiçosamente nas piores condições, sem reagirem e se esforçarem para sua melhora. É, então, uma situação contrária à Lei do Progresso ensinada pelos Espíritos. E, também, contrária ao entendimento de que reencarnamos justamente para nos modificarmos e progredirmos. E convenhamos que dificilmente haverá progresso na passividade!

Em resposta à questão 993, de “O livro dos Espíritos”, os mentores espirituais elucidam o seguinte: “Já te disse que se deve progredir sem cessar. Aquele que, nesta vida, só possui o instinto do mal, numa outra terá o do bem, e é para isso que renasce muitas vezes, pois é necessário que todos avancem e atinjam o alvo”.

Então, a possibilidade de reencarnarmos várias vezes nas mais diferentes situações físicas é, também, a comprovação da Lei de Causa e Efeito. As situações que as pessoas enfrentam em suas vidas, sejam elas boas ou más, são “efeitos” das consequências de suas escolhas e atitudes presentes e passadas, que são, na realidade, as “causas”.

Gostaria de encerrar este artigo trazendo mais uma importante lição dos mentores espirituais, na resposta à questão 648, de “O livro dos Espíritos”, onde Kardec pergunta o seguinte: “Que pensais da divisão da lei natural em dez partes, compreendendo as leis sobre a adoração, o trabalho, a reprodução, a conservação, a destruição, a sociedade, o progresso, a igualdade, a liberdade e, por fim, a da justiça, amor e caridade? Obtém, ele, então, a seguinte resposta: “A última lei é a mais importante; é por ela que o homem pode avançar mais na vida espiritual, porque ela resume todas as outras”.

Concluímos, então, que nós, os seres humanos, que somos em essência “Espíritos”, iremos progredir incessantemente. Este nosso progresso, porém, se fará balizado pela Lei de Causa e Efeito, mas ancorado pelas demais leis da natureza, tendo como base principal a lei de “Justiça, Amor e Caridade”.

Lentamente, então, de forma autônoma e através das várias e várias experiências, como encarnados, nós progrediremos nos instruindo pelas experiências oportunizadas por nossas escolhas (livre arbítrio) e sofrendo as consequências delas (causa e efeito). Assim, entenderemos as diversas leis da natureza e aprenderemos a conciliá-las na busca de nossa ascensão espiritual.

Imagem de Richard Reid por Pixabay

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Postagem efetuada por membro do Conselho Editorial do ECK.

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