Em Deus nós acreditamos? Os Estados Unidos como sempre foram…

Tempo de leitura: 3 minutos

Editorial ECK

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“In God we trust” (em Deus nós acreditamos, lema nacional dos Estados Unidos da América).

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Janeiro de 2025. O mundo observa, desconfiado, a posse de um governante. Na pauta, a reinvenção do Império Americano e, com ela, bordões e discursos que soam não como brados de esperança, mas um discurso renovado de opressão e domínio.

Trump prometeu aos eleitores da democracia ianque uma “nova era de ouro”. Na fórmula que começa a ecoar pelos quatro cantos do planeta tem-se o combate aos “párias” da atualidade: pobres, imigrantes, negros, amarelos, índios, LGBTs. Na “família americana”, pautas identitárias não cabem. Talvez nunca tenham cabido. Mas foram “tolerados” pela “maioria democrática” (de hoje), em tempos mais inclusivos. Obama que o diga.

Não duvidemos de que não haja um “continuum” entre as gestões republicana e democrata da terceira maior nação em população do planeta, com os seus mais de 340 milhões de habitantes. O que se despede (pela porta da frente da república ianque — poderia ser pelos fundos, como se viu recentemente por aqui, na “terra do cruzeiro”), Biden, não difere muito do que está entrando. Talvez fosse só “gourmetizado”, para usar uma expressão em voga, hoje. E lá, como cá, a verborragia segue sendo o discurso de “nós contra eles” ou “a luta entre o bem e o mal” ou ainda “liberdade e democracia”; um desfile de jargões vazios sobre um tapete de cadáveres de inocentes ao redor do mundo. Uma perspectiva sombria representada pelo gesto proferido por Elon Musk, a Deutscher Gruß (saudação alemã) do nazismo, em pleno discurso de posse presidencial.

Carter, Reagan, os Bushs, Clinton… Todos eles materializaram o “Great Dream” americano no fomento a guerras que dizimaram milhões, assim como interferiram na política interna e na soberania de um sem-número de Estados. Passada a eleição lá, independente do resultado, o que se vê é – como em nenhuma outra democracia do planeta – um povo americano unido e cônscio de que eles são “os melhores”. Enquanto Trump assinalava por tirar direitos universais e ameaçava com taxas, impostos e sanções aos “inimigos”, a população comemorava nas ruas. Ecoa, ainda — e por muito tempo — o 11 de setembro de 2001!  

Gaia agoniza.

Climaticamente, todos estamos sentindo — inclusive em solo norte-americano, sequencialmente — o esgotamento da natureza. Politicamente, duas guerras vitimam milhares de mortos, com perspectivas ainda frágeis de cessar-fogo permanente, num palco em que o extremismo convoca partidários e neófitos empolgados a repetirem “mantras” que se deslocam do viés da administração estatal e das liberdades, para visões radicais religiosas. Na Economia, as bravatas em relação aos mercados, acordos comerciais bilaterais e o padrão monetário internacional, não são convites ao diálogo e aos esforços conjuntos. O que vale é a “mão de ferro” do mais forte…

Mas é preciso ir além. Dizer que num tempo em que a livre imprensa tem ínfimo papel e relevância midiática, são as redes sociais que dominam a pauta do que é (ou não) verdade. Marcante, pois, o bromance de diversas personalidades com o novo mandatário americano. Então, a adesão e a presença na posse daqueles que são “donos” das redes ou empresas influentes – Zuckerberg (Meta), Bezos (Amazon), Musk (SpaceX e Tesla), Pichai (Google), Cook (Apple) e Chew (TikTok) –, tem muito a dizer sobre o nosso presente. E sobre o nosso futuro.

Ignorância do “mainstream” espírita.

Mas este é um texto espírita? — muitos hão de se perguntar, como se Espiritismo fosse somente “falar do Evangelho” ou tratar das coisas do “além-Terra”, como a vida espiritual. Para estes, nós dizemos que a vida espiritual começa — e continua, e se repete — na Terra. E não há amanhã, sem o hoje reiterado.

Precisamos iluminar a ignorância generalizada dos espíritas. Aquela que brota do “mainstream” espírita como um ambiente para a religião — e é impressionante como, de Norte a Sul, das pequenas às gigantes instituições se respira mais religião no meio espírita do que no próprio Vaticano, ainda que este último, com frequência, trate das “coisas materiais”, com declarações racionais, ainda que embasadas na fé (cristã).

Assim, os espíritas seguem olhando tudo “com olhos santos”, aguardando por um “salvador” (os Espíritos Superiores), uma voz “que faça o mar se abrir”, para que venha o mundo regenerado — com e por meio de Trump!!! — acreditando na “natural” anexação de mentes e corações.

Diante desses dias dantescos, ficamos a nos perguntar o que é melhor (ou pior): um presidente que, de forma hipócrita, diz que tudo vai bem e enaltece o mundo “progressista”, ou outro que é franco e diz, sem peias, o que vai fazer em nome do expansionismo norte-americano.

Para nós, Espíritos-espíritas, laicos, humanistas, kardecianos, livres pensadores, progressivos e progressistas, cidadãos do mundo, nem um nem outro!

Voltaremos ao assunto!

Imagem de Alexander Krivitskiy por Pixabay

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Postagem efetuada por membro do Conselho Editorial do ECK.

2 thoughts on “Em Deus nós acreditamos? Os Estados Unidos como sempre foram…

  1. Claro que sim, nem um nem outro. Em Deus nós confiamos…foi escrita pelos Pais Fundadores, da Nação que os filhos de hoje esqueceram ou nem sequer sabem o que querem dizer, tal é a ausência de valores morais e éticos que uns e outros têm demonstrado. Assistimos ao ressurgir de uma política tanto lá como cá na Europa , genocida não só dos judeus, como de todos os que não pertenciam à raça dominante, ausência de liberdade e de respeito pelos direitos humanos. É impressionante como os homens têm a memória curta. Guerras devastadoras aconteceram ainda há menos de um século. Os media têm contribuído muito para que a memória colectiva das gerações que no nosso tempo votam e governam , ignorem e esqueçam os horrores da guerra e o surgimento de “pequenos ditadores ” que só têm expressão porque têm apoiantes.

  2. É extremamente preocupante, amigos. Ainda mais alarmante é a letargia que se observa no meio espírita. Excelente texto! Talvez muitos espíritas ainda aguardem ser conduzidos a ‘Nosso Lar’. É simplesmente inacreditável!

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