“Entre verdades e mentiras, onde estamos, todos?”
Manoel Fernandes Neto e Nelson Santos
A impermanência e a dualidade permeiam a dicotomia poética existencial, como as faces de Hécate, tão bem apresentadas por José Herculano Pires (“Os 3 caminhos de Hécate”, 9. Ed., São Paulo: Paidéia, 2004). A verdade progressiva por sua relatividade temporal é superada por novos conceitos absolutos e atemporais: a concretude — e sua potência — da mentira e daqueles que querem perpetuar-se nas sombras.
Em outros termos: a mentira parece vencer. Nos espaços sociais, nas comunicações digitais, nos núcleos familiares. Remontamos, então, aos tempos antigos, na preocupação e atenção por simples enganos; e, nas memórias, a sagrada checagem dos fatos antes da sua divulgação. Uma prática “científica” espontânea e a todo momento.
Em tempos de “caminhos artificiais”, versões dos fatos se impõem; mesmo os debates sadios são contaminados em nome do “eu sei!, eu vi!”vazios e improdutivos.
O ECK vem no contra fluxo; na vanguarda. Procura inserir em todos os seus “espaços” — colóquios e atuações —, um Espiritismo com vivência social e política, sem temor de contrariar quem quer que seja. Na filosofia e na ciência inexistem “bonecos de mármores”, intocáveis e eternos, mas sim a prática de ouvir e sentir — argumentos, razões e evidências.
Nesta nova edição da Revista Harmonia, com o tema “Entre verdades e mentiras, onde estamos, todos?” trilhamos alguns desses caminhos.
Marcelo Henrique, em seu artigo “Duas ou mais verdades”, abarca as verdades possíveis devido sua dinâmica e a inter-relação no seio da doutrina espírita e nas vivências do ser no mundo, seja presencial ou virtual, por muitas vezes dominada pelo personalismo egoísta de seus interlocutores, gerando embates e não debates que são profícuos para a evolução da humanidade e do Espiritismo.
Em “Os textos de Kardec escondidos por 150 anos e o fim da fé cega – as mentiras e a verdade”, de Paulo Henrique de Figueiredo, versa sob os equívocos do meio espírita na divulgação de conceitos alienígenas e falseados contrários aos fundamentos da Doutrina em decorrência das adulterações de “O Céu e o Inferno” e de “A Gênese”, nas quais foram implantadas falsas ideias.
Wilson Custódio Filho, expõe em “Quando a mentira traiu a verdade espírita” a contaminação principiológica do pensamento kardeciano, onde a mentira corrompe e corrói o edifício doutrinário, dogmatizando e mistificando, criando mitos e fábulas, tão contrários à racionalidade.
Por sua vez, Cássio Leonardo Carrara discorre em “Espiritismo: o hino de libertação à mulher, entre verdades e falácias” acerca da construção misógina e arquetípica da mulher por meio do patriarcado, mascarada, inclusive, por produções mediúnicas romanceadas, onde ela, a mulher, é caracterizada como uma serviçal, desrespeitando seu papel preponderante na evolução moral da humanidade.
No artigo “Kardec não proibiu, apenas pediu respeito às leis – a verdade kardeciana e as mentiras ditas em relação às suas ideias”, Cláudio Bueno da Silva, demonstra, com acuidade, o falso argumento de que é necessário evitar-se assuntos que extrapolem o enfoque predominantemente evangélico adotado na ambiência espírita, contrário aos fundamentos imanentemente sociais e morais do Espiritismo.
Márcio Sales Saraiva, em “A sábia ignorância do Espiritismo”, conclama os espíritas à análise do ensino dos Espíritos, evitando a santificação e a idolatria, pois o desencarne não traz, automaticamente, sabedoria e conhecimento a ninguém, posto que os indivíduos continuam humanos, muito menos acesso a conhecimentos que estejam além da nossa capacidade cognitiva e que, portanto, o Espírito não teria capacidade de compreender. O avanço do conhecimento é progressivo e será desvelado, pari passu, com o aprimoramento do ser no mundo.
Fechamos a presente edição com o artigo “Autonomia moral no Espiritismo é sinal do avanço na abordagem da espiritualidade humana” de Wilson Garcia, onde se delineiam as diferenças conceituais entre heteronomia e autonomia, com a influência desta última para o livre pensar, alicerçando o caminho para a compreensão e o aprimoramento da sociedade. Deste modo, é projetada a ambiência da justiça social, pela edificação de uma cultura espírita educativa, preparando o ser para assumir preponderância em seu papel colaborativo.
Nesta edição, a Revista Harmonia revisita verdades e mentiras — em passos desassombrados — à procura de onde estamos e como nos camuflamos ou nos revelamos.
Boa leitura!
Imagem de Robert Nilsson por Pixabay
Edição: Janeiro de 2025:
Desassombros para uma busca, por Manoel Fernandes Neto e Nelson Santos
Quando a mentira traiu a verdade espírita, por Wilson Custódio Filho
Espiritismo: o hino de libertação à mulher, entre verdades e falácias, por Cássio Leonardo Carrara
Temas extremamente instigantes! Mais do que uma simples leitura, a Revista Harmonia, mais uma vez, nos proporciona uma oportunidade valiosa de aprofundarmos os nossos estudos espíritas. Parabéns a todos e gratidão!