REencontros, por Mário Lange de S. Thiago 

Tempo de leitura: 2 minutos

Mário Lange de S. Thiago 

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Os REencontros com “O livro dos Espíritos”, diariamente e a qualquer hora…

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Meu encontro com o “O Livro dos Espíritos”, a sua primeira leitura, não lembro. Fui apresentado ao livro vagarosamente, em leituras familiares. Não só em leituras, mas à viva voz do meu pai, neste caso, desde criança. Acho que ele passou pelo mesmo método, com o meu avô, que era mais organizado, pedagógico. Assim, enquanto meu pai absorveu os conteúdos religiosamente, na minha adolescência os recebi como me foram transmitidos, em segunda mão, dogmaticamente, mas mantendo o espírito crítico da idade. 

Lendo esse livro do começo ao fim, mas também em partes temáticas, desde cedo estava convencido de suas afirmações transcendentes, tatuadas na alma, provocativas de uma revisão hipodérmica ampla, na intimidade dos desejos pessoais e da convivência, pondo-me em reserva epistemológica e axiológica, mas seguindo em busca, dentro do processo do Espiritismo institucionalizado, em seus aspectos científico, filosófico e religioso. 

Claro, passei por Marx, Freud e, sem abandoná-los, coloquei-os no seu lugar secundário, próximos a outros, liberais e tudo, mas sempre relendo em Kardec a prevalência do espírito sobre a matéria (sem desprezo) e do moral (em múltipla conceituação) sobre o social, o político, o econômico, o biológico e o físico. 

Na trilha de Kardec, que escreveu a interpretação do Evangelho, do Céu e do Inferno, e da Gênese, dos Milagres e das Predições segundo o Espiritismo, como se este estivesse basicamente contido em “O livro dos Espíritos” e em “O livro dos Médiuns”, e para assegurar uma abertura zetético-doutrinária [1], passei a considerar o mundo a partir da constatação de três novas premissas: a comunicabilidade e imortalidade do Espírito; a pluralidade de existências e a caridade, um conceito vibratório. 

Então, o fato espírita, expressão fenomenológica do conceito espírita, deveria repercutir em uma revisão do significado que se dá aos fatos do mundo. Por isso, todo o conhecimento, a natureza, o bem e o mal passaram a merecer uma releitura apodítica sustentada em leis morais, que se traduzem como leis divinas ou naturais. A cosmologia, o socialismo, a psicanálise, o ambientalismo e tantas outras áreas que sacodem o planeta, no conflito dialético da weltanshauung [2], receberam o “ar da graça” psi-evolutivo do modelo espírita. 

Assim, estou mais apto a falar dos meus REencontros com “O livro dos Espíritos”, diariamente e a qualquer hora, tendo-me compenetrado dessa necessária aliança (dialógica) da ciência e da religião, como pioneiramente proposto por Allan Kardec.

Notas do ECK:

[1] Zetética é palavra do grego (“zetein”), albergando a noção de perquirir e investigar, com o escopo de buscar a verdade de fatos/fenômenos, pertencendo, portanto, ao âmago da atitude filosófica. Brinda-se, então, o ato de duvidar e, dele decorrente, o refletir e o analisar, afim de buscar a materialização de um pensamento sólido e crítico.

[2] Palavra que pertence à Filosofia, simbolizando o conjunto ordenado de valores, impressões, concepções e sentimentos, de natureza intuitiva e, como tal, prévios à reflexão acerca da época e do mundo em que se vive. Pode ser entendido como a mundividência e a cosmovisão.

Imagem de wal_172619 por Pixabay

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Postagem efetuada por membro do Conselho Editorial do ECK.

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