A grandeza de Francisco, por Felipe Felisbino

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Felipe Felisbino

A grandeza do Papa Francisco não se define apenas por seu lugar à frente da Igreja Católica, mas pelo modo como ele ressignificou esse papel no mundo contemporâneo. Sua liderança se destacou, não pela imposição de poder, em um tempo marcado por crises, polarizações e desigualdades, mas pela renúncia a ele próprio em favor do trabalho para o Cristo, marcado pela simplicidade, discernimento e compaixão.

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Ele encarnou uma autoridade rara, que nasceu do exemplo e da coerência ética. Ao definir uma Igreja “em saída”, ele devolveu à instituição religiosa sua vocação original, ser sinal de esperança e misericórdia para com os mais vulneráveis.

A expressão “Igreja em saída” o definiu como um pastor ousado, que via a Igreja em ação, aquela que não espera pelas pessoas virem até ela, mas que vai ao encontro da vida real, especialmente onde há dor, exclusão, injustiça e solidão; uma Igreja missionária, que prefere correr o risco de se ferir ao sair às estradas do que adoecer trancada em si mesma. A igreja que acolhe antes de julgar, escuta antes de ensinar, e serve antes de doutrinar. A “saída” é um chamado à conversão permanente, uma fé que desce ao chão e se torna gesto. 

Sobre a degradação ambiental, apontou que ela está intrinsecamente ligada à degradação humana. O mesmo sistema que polui rios e desmata florestas também descarta pessoas, trata os pobres como supérfluos e transforma a dignidade humana em mercadoria. Para ele, o problema não é apenas climático ou ecológico: é espiritual, relacional e ético. Em tempos de muros, Francisco construiu pontes. Em um mundo de discursos duros, ele optou pelo diálogo. Sua liderança não impunha, inspira. Sua autoridade não oprime, convida. E sua fé não foi uma doutrina rígida, mas um caminho de ternura e acolhimento.

Entre suas falas mais impactantes, uma resume com beleza sua visão do ser humano como inacabado, regenerável e em constante construção: “Não há santo sem passado (pecado), não há pecador sem futuro (evolução).” Ao dizer isso, Francisco rompe com qualquer moralismo condenatório e afirma uma espiritualidade profundamente humanista. Ele reconhece a fragilidade humana não como fraqueza, mas como terreno fértil para o florescimento. 

A santidade, para ele, não está reservada aos impecáveis, mas aos que se deixam transformar. E o pecado não é uma sentença definitiva, mas um ponto de partida para a evolução pessoal, social e espiritual. Francisco, um líder que, ao se tornar pequeno, engrandeceu a humanidade, findou dizendo: “Não estacione o coração na tristeza.”

Imagem de Petra por Pixabay

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Postagem efetuada por membro do Conselho Editorial do ECK.

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