A individualidade segundo os conceitos espíritas, por Edson Figueiredo de Abreu

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No “Livro dos Espíritos”, “capítulo II – Dos Elementos Gerais do Universo”, os espíritos responderam a Allan Kardec que no Universo existem apenas dois componentes gerais, de onde derivam tudo o que conhecemos: o Princípio Material(ou Fluido Cósmico Universal) e o Princípio Inteligente (Espírito).

Com referencia ao Principio Material, suas diversas combinações, estados e condensações determinam a composição de toda a energia e matéria existentes no Universo em todas as suas diferenciações. Neste sentido, devemos considerar como resultado destas combinações ou um determinado efeito, outro principio citado pelos Espíritos que é o “Principio Vital”, o qual possibilita a animação da matéria, dando-lhe por assim dizer, a vitalidade e o que consideramos no planeta Terra, “vida orgânica”.

Em relação ao Principio Inteligente, este habita o universo independente da matéria, porém, ao unir-se à matéria animada (ser orgânico) produz o ser pensante, que adquire assim a vontade, a inteligência e a consciência de sua existência (penso, logo existo) e, consequentemente, a sua “individualidade”.

Em outras palavras, podemos dizer que no Universo existem 3 classes distintas de seres: 1ª, os seres inanimados, constituídos somente de matéria, sem vitalidade nem inteligência e que formam os corpos brutos; 2ª, os seres animados que não pensam, formados da matéria e dotados de vitalidade, porém, destituídos de inteligência, e 3ª, os seres animados pensantes, formados de matéria, dotados de vitalidade e tendo a mais o princípio inteligente, que lhes outorga a faculdade de pensar.

Ainda no Livro dos Espíritos em resposta a pergunta 79, é nos esclarecido o seguinte: “Os Espíritos são a individualização do princípio inteligente, como os corpos são a individualização do princípio material. A época e o modo por que essa formação se operou é que são desconhecidos.”

Mesmo em outros livros que completam a Codificação Espírita, não fica muito claro como o processo de “individualização” do ser ocorre, porém, no capitulo XI do Livro dos Espíritos intitulado “Dos Três Reinos”, é possível entender que o princípio inteligente como ser espiritual “estagia” nos três reinos da natureza e só completa sua individualização quando passa a encarnar como ser humano (ou o equivalente em outros mundos), após longo período de evolução através de várias formas existentes, sofrendo um processo de individualização que o torna um “espírito”, este ser imortal que possui a capacidade de refletir e tomar decisões e prevalece a morte do corpo físico mantendo consciência de si mesmo.

É importante observar que a partir da sua primeira encarnação no corpo humano é que o principio inteligente completa sua individualização, transformando-o naquilo que conhecemos como espírito ou alma. Porém, a época em que ocorreu sua individualização, somada as suas sucessivas posteriores reencarnações em corpos humanos distintos (sexos, raças e condições sociais diferentes) é que lhe produzirão as características evolutivas que o diferencia na escala ou classificação dos espíritos.

Diante do exposto até agora, entendemos que é preciso separar no ser humano duas situações bem diferentes: a sua “individualidade” que é o principio inteligente emanado da criação (ou Deus, como queiram) para evoluir indefinidamente e aqueles seus traços típicos que compõem a “personalidade”, que é mutável e difere a cada nova experiência vivenciada, agregando novas características e necessidades ao ser individual. Cada ser humano é, portanto, um espírito em evolução que representa na atualidade a somatória das suas experiências pregressas mais o aprendizado auferido nesta existência, particularizando-o com vocações, tendências, interesses, grau de raciocínio e discernimento que nos tornam diferentes uns dos outros.

Outra questão interessante a ser considerada é o nível de influencia que a matéria pode exercer sobre o espírito reencarnado, aliado a somatória de suas experiências reencarnatórias. Isto se considerarmos hipoteticamente que a probabilidade de influencia material é menor nos espíritos mais experientes, ou seja, quanto mais vivencias materiais o espirito tiver, menos “provável” apego a matéria terá.

Os espíritos esclarecem ainda que todo ser humano encarnado possui duas naturezas distintas: pelo corpo, participa da natureza dos animais, cujos “instintos” lhe são comuns; pela alma, participa da natureza dos Espíritos. Na primeira não há raciocínio e o ato é invariavelmente impensado, na outra há o uso da razão e a capacidade de escolha desta ou outra ação.

Isto nos faz pensar que pelos atos corriqueiros do dia a dia das pessoas podemos observar o quanto materializadas ou espiritualizadas elas estão, e também que, quanto mais ação instintiva o ser tiver maior a sua atitude será “individualista”, sem pensar no todo, pois como espíritos, libertos da matéria, nós temos uma consciência cósmica, mas como ser encarnado temos a necessidade dos instintos de preservação e procriação, que fazem com que a maioria das pessoas ajam em beneficio próprio, sem o controle exato de suas ações e decisões. É por isso que observamos no mundo pessoas agindo irracionalmente, muitas das vezes prejudicando a si mesmas e aqueles que gravitam a sua volta.

Finalizando, existe ainda outro capitulo interessante no Livro dos Espíritos, capitulo VII, intitulado “Da lei de Sociedade”, onde é esclarecido que nenhum ser humano possui faculdades completas. Somente mediante a união familiar e a convivência social é que estas faculdades se completam umas as outras, para lhe assegurarem o bem-estar e o progresso. Por isso é que, precisando uns dos outros, os humanos foram feitos para viver em sociedade e não isolados.

Em resumo, a individualidade é um atributo básico do espírito que lhe permite conhecer-se e entender-se como ser único, dando-lhe ainda a consciência de que faz parte de algo cósmico que está além de si. Porém, estagiando ainda em níveis primários de aprendizado, o espírito, vez por outra, imerge no corpo material que lhe tolda a consciência espiritual e o faz agir basicamente por instinto, pensando mais em si sem muita preocupação com os demais. No entanto, à medida que o ser humano vai se espiritualizando retoma a consciência cósmica, que o faz agir de forma racional, visando naturalmente o seu beneficio, mas considerando que efeito suas ações provocarão no próximo. É assim que a evolução espiritual se desenvolve, transformando o automatismo instintivo através das ações pensadas objetivando o bem comum.

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Postagem efetuada por membro do Conselho Editorial do ECK.

2 thoughts on “A individualidade segundo os conceitos espíritas, por Edson Figueiredo de Abreu

  1. Esse ótimo texto do Edson levou -me a duas reflexões, óbvias mas que ainda eu não havia percebido na fundamentação kardecista, “São tantas as ilusões…”, como diz aquela música. A meritocracia espiritual e a dialética existencial.
    Se somos criados simples e ignorantes, e fadados à perfeição pelo progresso espiritual individual, tendo a igualdade como ponto de partida, esse desenvolvimento é meritocrático, sem confundir com a “falácia meritocrática” das elites dominantes que buscam justificar as desigualdades sociais. No segundo ponto, que anda junto, se o progresso é individual ele se configura no processo coletivo. Na dialética entre o sujeito e o mundo se constrói a consciência e consequente progresso espiritual. Nossa ações perante o social, espaço de experiências para todos os Espíritos encarnados irão determinar o quanto estamos progredindo. Transformar a si, transformando o mundo e transformando o mundo para transformar-se. Tudo tão simples, que as vezes demoramos para perceber. Parabéns pelo texto, irei utilizá-lo com meu grupo de estudos…

  2. Ótimo texto contudo ele é deveras vagops e impreciso quando da utilização de conceitos, o que implica em dubialidade em face da conclusão. O uso de termos sem seu devido esclarecimento textual, faz com que nos remetamos à conceituação strictu senso e isso contrasta com o uso dado no texto, Ex G “Pensamento”, por pesnamento entende-se toda a atividade mental cognitiva, não necessáriamente a razão, cocmo elemento central doutrinário.

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