Júlia Schultz
Por mais que a sociedade tenha avançado tanto, desde a publicação de “O livro dos Espíritos”, ainda seguimos num lento progresso.
Em “O livro dos Espíritos”, no Capítulo IV, que trata da Lei de Reprodução, como a terceira, dentre as dez leis morais, questiona-se acerca da reprodução em si, da sua importância e necessidade para a existência da espécie humana e, em alguns momentos trata-se das questões de modificações das leis, feitas pelos homens. Há uma série de limitações se considerarmos que já se passaram quase 165 anos de lá pra cá, visto que o lançamento desta obra foi em 1857.
Assim, hoje em dia temos outra sociedade, que avançou muito! Em termos de casamento, na pergunta 697, questiona-se: Está na lei da natureza, ou somente na lei humana, a indissolubilidade absoluta do casamento? E, a resposta dos Espíritos Superiores é: “É uma lei humana muito contrária à da natureza. Mas os homens podem modificar suas leis; só as da natureza são imutáveis.” Quem poderia imaginar, naquele momento, que mais tarde, quase todos os países do mundo reformulariam as suas leis, permitindo a separação de casais, oportunizando que cada um pudesse refazer as suas vidas?
Outros avanços ocorreram neste sentido, permitindo que uniões homoafetivas sejam realidade – desde 2001, na Holanda, primeiro país a legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo e hoje em cerca de trinta países fazem o mesmo. Porém, não há, em “O livro dos Espíritos”, nenhum questionamento de Kardec neste sentido, o que leva as pessoas a fazerem uma “leitura rasa”, quando afirmam que isto seria contrário às leis de Deus.
Nesta mesma obra, não sobre este tema, mas, sobre a poligamia e monogamia, a resposta dos Espíritos, na questão 701, diz: “O casamento, segundo as vistas de Deus, tem que se fundar na afeição dos seres que se unem.” E, ainda que não aborde sobre homossexualidade, fala sobre o amor entre as pessoas, que é a questão mais importante, para as uniões.
Acerca da reprodução, sabemos, há diversos casais que não podem ou não querem gerar filhos, o que não causará desequilíbrio na espécie humana, como alguns imaginam, visto que há outras famílias que geram muitos filhos. Neste momento, faz sentido pensar na Lei de Liberdade, que mostra que não temos obrigação de seguir um rumo ou outro, mas que as nossas escolhas, todas, têm consequências.
Por fim, é essencial que a escolha por gerar filhos seja muito consciente, visto o grande desafio que é a responsabilidade da sua criação, principalmente porque não temos a efetiva igualdade em termos de educação, economia, saúde e qualidade de vida. Logo, por mais que a sociedade tenha avançado tanto, desde a publicação de “O livro dos Espíritos”, ainda seguimos num lento progresso.
Imagem: Unplash
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Editorial: A Lei de Reprodução perante a sociedade contemporânea
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