Beto Souza
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Nosso afastamento do sagrado feminino, da máter, matéria, da mãe que, neste plano físico, provê a energia vital fundamental para qualquer progresso e deveria ser tratada com respeito num contexto de sustentabilidade, é causa de muitos dos males contemporâneos.
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Assistindo novamente a trilogia de “O Senhor dos Anéis”, adaptação para o cinema do clássico de Tolkien, encontro-me refletindo sobre a situação dos seres mais velhos daquele mundo, os Ents, sábios gigantes, que misturam características de seres humanos e árvores, podendo se movimentar e expressar seus pensamentos através da fala, considerados guardiões da floresta.
Entre suas fraquezas, podiam ser queimados, derrubados e se escolhessem ficar parados por muito tempo, de seus pés cresceriam raízes, modificando os Ents gradualmente até a impossibilidade de distingui-los das árvores ao redor.
Com o tempo, eles perderam contato com as Entesposas, talvez numa crítica de Tolkien para a cultura ocidental, quanto ao afastamento do sagrado feminino, da máter, matéria, da mãe que, neste plano físico, provê a energia vital fundamental para qualquer progresso e deveria ser tratada com respeito num contexto de sustentabilidade. O mesmo com relação aos desejos, sentimentos e outras necessidades do corpo físico, tidas como inferiores na comparação com o intelecto, a racionalidade, entendida num formato rigorosamente cartesiano, frio, que não consegue conviver em harmonia com nuances diferentes.
Treebeard, o mais velho dos Ents, conhecido como Barbárvore – na tradução em português –, nos apresenta um triste relato, tanto pela busca das Entesposas perdidas, como da consequente falta de nascimentos de Entings, os jovens Ents que poderiam dar continuidade para sua espécie, revelando um quadro potencial de extinção.
Quando Barbárvore é alertado sobre a destruição da floresta, causada pelo mago Saruman, na cidade de Isengard, resolve convocar um Entebate, a reunião formal dos Ents para decidir como proceder. Enquanto a fumaça das árvores queimando no horizonte continuava se espalhando, aqueles Ents, já acostumados com a falta de movimento, alguns já claramente mais parecidos com árvores, após longas idas e vindas de ponderações, decidiram nada fazer naquele momento.
Foi só depois, quando observaram com os próprios olhos a destruição de árvores mais próximas, suas amigas de muitos séculos, numa região totalmente arrasada, que Barbárvore conclamou a “última marcha dos Ents” contra Isengard, com um grito de profunda dor que fez alguns de seus velhos irmãos Ents finalmente romperem as raízes que os prendiam no solo, movendo-se novamente como verdadeiros guardiões da floresta. Uma cena profundamente inspiradora, tanto no livro quanto no filme. Quiçá em relação a nós, hoje. Num alívio otimista de Tolkien, os Ents conseguiram vencer as forças de Isengard e a floresta enfim começou seu lento processo de renovação, curando as feridas causadas pelo egoísmo humano.
Mesmo assim, no epílogo, após a guerra, os Ents acabaram não encontrando suas Entesposas e desapareceram, provavelmente sendo todos convertidos em árvores. Sua marcha, no entanto, teve importância fundamental para a história. Mas eles perderam a hora certa de retomar o movimento e, por este motivo, foi o último ato de uma saga.
Diante dos graves e enormes prejuízos, sobre muitos ecossistemas, por todo o planeta, acompanhando de perto (Rio Grande do Sul) ou de longe – mas, não tão longe (China), fica a advertência para os que já apresentam olhos de ver e ouvidos de ouvir (Yeshua): Não deixe para amanhã o que pode fazer hoje!
A luta tem que ser constante, um, dois até chegar milhões, que esse último número não seja tarde.
Excelente! Eu diria que a “natureza não agride ninguém, apenas reage”.
A resposta do meio ambiente é a prova da lei do retorno, aqui se planta, aqui se colhe.
Uma verdade impossível de ignorar. A Natureza sempre vai conseguir renovar-se e renascer de novo, nem que para isso tenha que arrasar a espécie humana que não a respeita. Já aconteceu com a extinção dos dinossauros, poderá voltar a acontecer também numa Era como a nossa ou futura, que tem tanta informação e no entanto ignora o Poder da Natureza. A Força Criadora criou ambas, a Natureza e a Humana, mas esta, a humana, despreza o seu entorno onde em vez de espalhar felicidade, cria o caos, em todas as suas vertentes. Excelente texto para reflectirmos no caminho que a Humanidade tem seguido, cabe a nós inverter o sentido da marcha.