Maria Cristina Rivé
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É preciso, então, despertar para as “verdades”, que são inerentes ao processo em que estamos. Ao lutar por uma sociedade mais humana e mais justa, estamos bem compreendendo os preceitos kardecianos de liberdade, de progresso, de caridade, de solidariedade e de amor.
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A experiência feminina neste mundo é deveras complicada. Através das vivências cotidianas vamos percebendo o quanto nos fere o longevo mundo patriarcal em que vivemos.
São aquelas conversas toscas dissimuladas em linguagem infantilizada a nos envolver com falsos agrados e falsas maneiras de tentar nos enganar. Quando este processo é realizado pela parte masculina, até entendemos ou procuramos entender determinadas posições. Todavia, ao vir da parte de outras mulheres, companheiras de sofrimento, fica difícil compreender a razão motivacional e, também, de aceitar racionalmente.
Pois, dias atrás apareceu no Facebook um “reel” de uma deputada. Interessante pontuar que ela estava grávida e portava, nas mãos, uma lata de uma bebida que não me foi possível identificar. Falava com voz meio “pastosa”, afirmando que estava se dirigindo a um local em que haveria uma manifestação contra o uso de determinada vacina. E era contrária à vida, a saúde e ao direito-dever de proteção contra moléstias e enfermidades, muitas delas fatais, infelizmente…
Vale dizer que essa pessoa alucinada e doidivanas, ora encarnada em corpo feminino vive, como todas nós, uma experiência desafiadora, visto estarmos imersos em uma sociedade patriarcal, em que até pouco tempo atrás a mulher nem sequer era vista como pessoa e sim como objeto de posse.
Hoje em dia, infelizmente, há mulheres que se opõem não somente às pautas femininas, como também em relação à ciência. E cometem erros, dizendo, ainda, que isto faz parte da natureza humana (aquele velho adágio “errar é humano”). Sim, todas e todos erramos… Contudo, quando sabemos que o erro irá afetar inúmeras criaturas, nossos semelhantes, de forma tão dolorosa, eis aí o mal.
As batalhas que travamos, embora as lutas não sejam fáceis, se espraiam quando vencemos e inspiram outras mulheres a diversas peleias. Mas, os desafios não são para poucas (ou poucos). Devem ser para muitos, justamente porque a solidariedade na luta inspira a coragem naquelas que ainda estão silentes ou ocultas.
Daí serem eternos os valores pelos quais lutamos, porque neles há muita cooperação, muita fraternidade e a busca do verdadeiro sentido daquilo que é “de todos”, do conjunto, mesmo que sejamos individualidades. Falando nestas, sabemos que cada um tem seu tempo para o alcance da relativa perfeição, pois disse o Magrão, “perfeito e bom só o pai que está no Céu”.
Nesse sentido, valorizando a luta pela verdadeira equidade entre mulheres e homens, feita por um homem. Em sua obra, Kardec (“Revue Spirite”, Janeiro, 1866, “As mulheres têm alma?”), na vanguarda de sua época, expõe:
“As mulheres têm alma? Sabe-se que a coisa nem sempre foi tida como certa, pois, ao que se diz, foi posta em deliberação num concílio. A negação ainda é um princípio de fé em certos povos. Sabe-se a que grau de aviltamento essa crença as reduziu na maior parte das regiões do Oriente. Mesmo que hoje, nos povos civilizados, a questão seja resolvida em seu favor, o preconceito de sua inferioridade moral perpetuou-se a tal ponto que um escritor do século passado, cujo nome me foge, assim definia a mulher: “Instrumento de prazeres do homem”, definição mais muçulmana que cristã. Desse preconceito nasceu sua inferioridade legal, ainda não apagada de nossos códigos. Por muito tempo elas aceitaram essa escravização como uma coisa natural, tão poderosa é a força do hábito. É assim que acontece com aqueles que são submetidos à servidão de pai para filho, que acabam por se julgarem de natureza diversa da dos seus senhores”.
O relato acima aponta uma das nossas lutas contemporâneas – que também foram das passadas – que é o de defendermo-nos , nós mulheres, de ataques violentos da sociedade machista e sexista. Inclusive no sentido de esclarecer muitas mulheres que ainda não entendem que fazem parte dessa imensa massa feminina (a maioria da população mundial são mulheres!) que sofre, dia a dia, com o menosprezo social.
Estar mulher é, então, vir (encarnar) preparada para o bom combate, em todos os ambientes em que se demora. É saber que a sua voz, apesar de pouco ouvida ou até desprezada, precisa ser proferida. Que levantar determinadas bandeiras não significa agredir aquela/aquele que se postou como agressor, devolvendo “na mesma moeda”. Ao contrário, é, a conta-gotas, ensinar à sociedade a “sociabilidade” necessária para o crescimento – que, espiriticamente, chamamos PROGRESSO, ao qual se está fadado.
É preciso, então, despertar para as “verdades”, que são inerentes ao processo em que estamos. Ao lutar por uma sociedade mais humana e mais justa, estamos bem compreendendo os preceitos kardecianos de liberdade, de progresso, de caridade, de solidariedade e de amor.
Eis a vanguarda feminina espírita! Eis a proposta permanente do ECK, de discutir esta temática e de sempre se pronunciar com a equidade descrita por Kardec no texto sublinhado, não apenas como uma teoria, mas como uma prática para todos os dias!
Parabéns um texto que nos trás a sempre presente dualidade entre ser mulher e espírita no século XXI, e o que ainda está arreigado “… sempre foi assim , temos que obedecer e parir …”do passado e ainda no presente. Quantas vezes será necessário renascer para progredir e saber que a Humanidade necessita tanto de mulheres como de homens, com características diferentes mas que se complementam.