Ainda estamos TODOS aqui!

Tempo de leitura: 3 minutos

Editorial ECK

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

 ***

Envoltos na alegria da comemoração do prêmio cinematográfico conferido à atriz Fernanda Torres, devemos aproveitar o ensejo da data de 8 de janeiro para reiterar que os atos criminais de vandalismo e a tentativa de golpe de Estado, com o envolvimento de políticos e militares, não passará em branco na história e no Judiciário brasileiro.

***

O Brasil e o mundo acompanharam mais uma edição do “Globo de Ouro”, tradicional evento de premiação da classe artístico-cinematográfica, em 5 de janeiro último, em que a nossa Fernanda Torres foi agraciada com a honraria de melhor atriz dramática desta edição.

O filme “Ainda Estou Aqui”, baseado no livro homônimo do escritor Marcelo Rubens Paiva, narra a história da família do engenheiro civil e deputado federal pelo Partido Trabalhista Brasileiro – PTB, Rubens Paiva, preso, torturado e executado, dado como desaparecido, porque o seu corpo – assim como centenas vítimas outras – pela Ditadura Brasileira, os “anos de chumbo” (1964-1985). A trama teve como protagonista não o parlamentar brasileiro caçado pelo Ato Institucional n. 1, do regime militar (1964) e preso, em 1971, mas sua esposa, Eunice Paiva.

Eunice representa a resistência do povo e da própria democracia em relação ao fascismo, o Estado de exceção, e as práticas hediondas disfarçadas de atos governamentais, sejam militares ou civis, que acompanha toda a nossa trajetória enquanto nação, e não se restringem aos anos chumbosos. Eunice, somos nós, TODOS, que ainda estamos aqui para lutar pela indissolubilidade da democracia e o respeito ao Estado (Democrático) de Direito. A voz euniciana encontra singular e fraterna guarida em nós, ressoa no derredor e é pronunciada a cada ação, em cada dia, e na sucessão dos anos, quando nos posicionamos pela verdade, pela ordem jurídica, pela liberdade e pela justiça.

E não se faz necessário – ainda que a memória nos enderece aos ensinos decorrentes dos lamentáveis fatos do período ditatorial, que calaram vozes de políticos, artistas, literatos, filósofos, cientistas, professores, homens de distintas áreas científicas, como, também, representantes de associações, sindicatos e parlamentos. Ela reverbera, muito mais e vivamente nos atos de 8 de janeiro de 2023, na Praça dos Três Poderes, em Brasília (DF), mas não só a eles, também as tramas urdidas em gabinetes à luz do dia e os planos anteriores e posteriores a data – e, ainda, infelizmente, na atualidade, sob as formas mais distintas – direcionados à quebra da ordem democrática e aos planos de atentados para ceifar a vida de autoridades do executivo e do judiciário brasileiros.

Estes mesmos motivos, sórdidos, continuam a animar as redes sociais brasileiras (e do exterior, onde existam brasileiros ou estrangeiros interessados na ascensão do fascismo nas terras do Cruzeiro, conjugados a outros movimentos e governos de direita em várias partes do mundo, também responsáveis pela imposição de doutrinas fundamentalistas travestidas em atos governamentais). E, ainda mais, agora, quando os “donos” de plataformas de comunicação internética assumem uma vinculação direta com os extremismos da direita e retiram ferramentas de aferição de “fakenews” e eliminação de postagens baseadas na cultura de ódio político.

Envoltos na alegria da comemoração do prêmio cinematográfico conferido à atriz Fernanda Torres, devemos aproveitar o ensejo da data de 8 de janeiro para reiterar que os atos criminais de vandalismo e a tentativa de golpe de Estado, com o envolvimento de políticos e militares, não passará em branco na história e no Judiciário brasileiro.

Celebramos, então, hoje, 8 de janeiro de 2025, nos dois anos de lembrança (e, jamais, comemoração da data) dos dantescos episódios já citados, o evento realizado, há pouco, na sede do Palácio do Planalto, com a participação de autoridades políticas e judiciais brasileiras. Nele, o Presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva,

A “face visível do movimento golpista”, como se referiu o Presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, à vandalização ocorrida há dois anos, “subterrâneo que articulava um golpe de Estado”, consignou e comprovou a “manifestação de um triste sentimento antidemocrático, agravado pela intolerância e pela agressividade” de alguns. Continuou o magistrado, com uma conclusão que é corroborada por esse coletivo espírita: “Um desencontro político e espiritual com a índole genuína do povo brasileiro”.

Sim, porque nenhuma espiritualidade, nenhuma característica de progresso mental e sentimental pode albergar, no seu seio, o conjunto de brados e de atos que vêm se repetindo nos últimos anos em nosso país. Muito pelo contrário, como já havia destacado Kardec (1864), os bons homens, cidadãos, Espíritos, serão individualmente reconhecidos, entre si e em relação aos outros, por “sua transformação moral e pelos esforços que faz para dominar suas más inclinações” (KARDEC, A. “O evangelho segundo o Espiritismo”. Trad. J. Herculano Pires. 59. Ed. São Paulo: LAKE, 2003).

A “cerimônia em favor da democracia”, como a denominou o Governo Republicano Democrático do Brasil, recém-finda,

Voltando ao Ministro Barroso, devemos, como espíritas livre-pensadores, laicos, humanistas, progressivos e progressistas, fazermos coro a ele e nos portarmos com serenidade e atenção redobrada, assim como adeptos à ideia de que nenhum ato contrário à democracia passará imune e será judicialmente apenado, com as garantias constitucionais da ampla defesa, da presunção de inocência, do contraditório e do devido processo legal, porque “não virão tempos fáceis. Mas precisamos continuar a resistir”.

Resistamos, física, espiritual, kardeciana, política e socialmente, então!

Written by 

Postagem efetuada por membro do Conselho Editorial do ECK.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.