O Conhecimento foi, é e será sempre uma arma de transformação.
Considerando o palco planetário como o local de aprendizado e experimentação, desde que o homem atingiu o estágio de consciência de si mesmo, superando a fase dos (meros) instintos da animalidade inferior, sua inteligência permitiu planejar e executar voos mais altos. Em um filme praticamente mudo, chamado “A Guerra do Fogo”, homens com uma comunicação bastante rudimentar, baseada em grunhidos e sons ininteligíveis para o padrão de linguagem das eras posteriores, é retratado o uso da inteligência, seja por dados indivíduos seja por agrupamentos coletivos, rompendo as barreiras de obstáculos físico-materiais e obtendo qualidade de vida, nos níveis permitidos por aquele cenário.
Assim, então, as Ciências vieram sendo concebidas e desenvolvidas, com base no binômio teoria-prática, com os fatos e acontecimentos do empirismo motivando o surgimento de teorias e, também, se permitindo teorizar, previamente, sobre atos ainda não realizados. Mas desejados.
Todas as Ciências, sem exceção, derivadas da departamentalização (especialização) do Conhecimento, têm contribuído, inegavelmente, para a melhoria das condições de vida de homens e sociedades. E o aprimoramento, sequencial, não possui limites, sendo, pois, infinito.
Um dos ramos da Ciência que mais nos diz, pessoalmente, respeito, é a Ciência da Administração. Nela encontramos teorias e experimentos que são ferramentas importantes para a gestão (pública ou privada) das organizações coletivas humanas. Variados instrumentos, então, podem ser adaptados conforme o cenário e os objetivos, permitindo uma variação incomensurável de opções e aplicações.
É sobre um destes instrumentos que iremos tratar neste ensaio e sua aplicabilidade às instituições e grupos espíritas.
Trata-se da análise de Planejamento Estratégico segundo a Matriz FOFA (ou, no inglês, SWOT): Forças, Fraquezas, Oportunidades e Ameaças, considerando dois ambientes organizacionais (o interno e o externo). Veja a imagem:
Imagem: Treasy.
Vamos conhecer um pouco melhor esta análise.
Primeiro, é preciso identificar os ambientes, interno e externo, que podem ser assim caracterizados:
Interno – composto pela própria organização, seus dirigentes e colaboradores, isto é, aqueles que fazem parte da estrutura de pessoal (recursos humanos) da instituição, seja ela qual for.
Externo – composto por pessoas que não participam da gestão organizacional, mas mantém, com ela, alguma relação ou vínculo, em razão da proximidade de interesses.
Todo e qualquer grupo ou entidade espírita, portanto, possui os dois ambientes (cenários), o interno e o externo, devendo estar atenta para ambos. Não pode ela, desmerecer ou subdimensionar os elementos externos, baseada na ideia da sazonalidade ou da raridade de participação ou envolvimento, nem pode superdimensionar sua própria estrutura, de modo a não estar atenta para variáveis que podem lhe permitir a necessária oxigenação das ideias (por meio de sugestões de terceiros). Como estamos falando de planejamento e execução, o desempenho organizacional pode ter ganhos qualitativos a partir da interação entre os dois ambientes e para a (necessária) filtragem das contribuições vindas de atores que pertencem a um ou a outro.
Em termos de variáveis (FOFA), temos dois grupos positivos (Força, Oportunidades) e dois negativos (Fraquezas, Ameaças), que podem ser facilmente observados na imagem anterior. Observe, também, que Força/Fraquezas pertencem ao ambiente INTERNO e Oportunidades/Ameaças ao EXTERNO. Convém não misturar os elementos, para que a análise possa ser melhor realizada e os resultados desta possam contribuir para a dinâmica e o planejamento de futuras atividades institucionais ou grupais.
A composição entre pontos positivos e negativos, virtudes e defeitos, acertos e erros é, assim, importantíssima para o constante processo de aperfeiçoamento (individual e coletivo). Em termos práticos, se a instituição não valoriza os positivos, deixa de investir no reconhecimento da contribuição que cada participante pode ofertar a projetos e ações, desmotivando seja seus membros seja os colaboradores ou os interessados. E se deixa de avaliar os negativos, incorre na infeliz diagnose de “já ser” o que poderia ser, impedindo avanços e o crescimento (novamente, individual e coletivo).
Assim, de forma coordenada e planejada, convém sempre estar se perguntando e avaliando, individual e coletivamente: – Como vai o seu grupo ou a sua entidade espírita? Que resultados ela vem obtendo? Qual o grau de satisfação dos membros ou frequentadores?
Recomenda-se, então, sempre que possível, inclusive periodicamente, os gestores do grupo ou instituição listarem – em debates coletivos – quais os elementos “FOFA” que podem ser enumerados em relação ao mesmo. Quais são, então, as Forças, as Fraquezas, as Oportunidades e as Ameaças da entidade ou do grupo? Você saberia listar, individualmente, com base nas suas vivências, estes quatro elementos em relação ao ambiente de que você participa, seja como gestor, dirigente, colaborador ou frequentador?
Vamos usar, exemplificativamente, uma situação pela qual todos de nós passamos ou estamos passando: uma sala de aula. Você como aluno (que é a condição mais comum de todos nós) poderia listas as seguintes forças: estrutura física; equipamentos disponíveis; preparo do professor; material didático; etc. Como fraquezas: tempo curto das aulas; oscilação da internet; falhas da rede elétrica; desvio da sua atenção por colegas interessados em outros temas; etc. Como oportunidades: palestrantes convidados pelo professor; intercâmbio com outras turmas; programações de eventos escolares; contato com outros alunos nos intervalos, informações sobre eventos extracurriculares, filmes, peças de teatro, eventos esportivos e culturais, etc. E, como ameaças: interrupções na sequência das aulas exigindo sobrecarga de conteúdo ou reposições de horários; ruídos externos (um carro de som na frente do colégio); etc.
Os elementos acima são, é claro, meramente enumerativos. Não são satisfativos nem definitivos. É possível abrir um leque de muitas outras variáveis a serem consideradas. E, também, talvez, alguns dos citados não façam parte do ambiente educacional de que você participa. É importante estar atento a todas essas variações em relação à análise proposta, para não enrijecer desnecessariamente a ferramenta.
Convido, então, você, a realizar esta experiência. A aplicar o método FOFA no grupo ou instituição que você participa. Inicialmente, você pode fazer isso como um exercício pessoal e restrito. Ao perceber sua validade e oportunidade, tenho certeza que poderá propor à direção do grupo/instituição a realização coletiva desta análise, inclusive para permitir outras visões (diferentes da sua) sobre o ambiente e as ações organizacionais.
Agora, o elemento mais importante: o objetivo. Para que, então, realizar a análise FOFA?
Poderíamos, de pronto, responder: para melhorar o desempenho, para aperfeiçoar métodos, para alcançar mais interessados, para proporcionar mais bem-estar e prazer na convivência coletiva, para proporcionar maior conhecimento, para atender mais pessoas, para contribuir para a transformação social. Etc.
Portanto, ao concluir a análise, é necessário listar:
1) Quais ações (individuais/coletivas) podem ser melhoradas;
2) Que atividades ou comportamentos devem ser suprimidos;
3) Que aporte de recursos (humanos, financeiros, materiais-instrumentais) seria necessário para o aperfeiçoamento do grupo/instituição;
4) Que público se pretende atingir;
5) Que equipes de trabalho podem/precisam ser compostas ou melhoradas;
6) Como melhorar o ambiente organizacional do grupo/instituição; e,
7) Quando se fará, novamente, uma análise similar à realizada.
Fica, aqui, a sugestão da aplicabilidade do método FOFA aos grupos/instituições espíritas. Nós já aplicamos, com excelentes resultados. E a prova disto é o constante aperfeiçoamento coletivo, que contribui para a manutenção dos membros, a agregação de novos participantes e a qualificação dos resultados obtidos.
Mãos à obra, com o FOFA, então!