Auto de Fé em Barcelona – 1861

Tempo de leitura: 3 minutos

Na Revista Espírita Novembro de 1861

Allan Kardec, no artigo “Os restos da Idade Média”, relatava a destruição de livros espíritas em praça pública promovida pela Igreja espanhola, com apoio do governo, na cidade de Barcelona.

No dia 09 de Outubro de 1861, numa época em que a ideia de um estado laico ainda era considerada subversiva por alguns, os detentores do poder temporal decidiram queimar as obras por serem “contra a fé e perverterem a moral e a religião”. 

Se as trevas da Idade Média não estivessem distantes, teriam eles tentado queimar também os autores?

Com certeza não conseguiriam castigar os autores espirituais, mas ainda podiam excomungar os médiuns e editores, foi o que fizeram.

Naquele dia 300 Publicações foram queimadas, entre elas:

– “A Revista Espírita”, diretor Allan Kardec;
– “A Revista Espiritualista”, diretor Piérard;
– “O Livro dos Espíritos,” por Allan Kardec;
– “O Livro dos Médiuns”, por Allan Kardec;
– “Que é o Espiritismo”, por Allan Kardec;
– “Fragmento de sonata”, ditada pelo Espírito de Mozart;
– “Carta de um católico sobre o Espiritismo”, pelo Dr. Grand;
– “A História de Joana d’Arc”, ditada por ela mesma à Srta. Ermance Dufaux;
– “A realidade dos Espíritos demonstrada pela escrita direta”, pelo Barão de Goldenstubbe. 

Apesar do esperado por muitos, a postura de Allan Kardec frente ao ocorrido foi positiva.

Como era sua característica, ele percebeu naquela selvageria um ato de desespero irracional por parte dos defensores da fé cega. 

A falta de argumentos dos sacerdotes frente as provas positivas da continuação da vida em outros planos gerou aquela tentativa de repetir a velha fórmula inquisitorial de censura e proibição da leitura em pleno século XIX.

O Auto de Fé acabou tendo efeito contrário ao esperado pelos sacerdotes, pois apenas auxiliou na publicidade do Espiritismo.

Durante a viagem espírita de 1862, Allan Kardec reafirmou sua convicção sobre o ocorrido em seu discurso para o grupo de Lyon:

“… a humanidade coletiva, como os indivíduos, tem sua infância e sua idade madura; quando se encontra na maturidade, desfaz-se das fraldas e quer utilizar suas próprias forças, isto é, sua inteligência. Fazê-la retroceder é tão impossível quanto fazer um rio subir para a sua fonte…”.

– O Espírito humano estava pronto para conhecer uma nova realidade e expandir sua visão do universo, faze-lo retroceder estava fora de questão. O Progresso incessante nos havia conduzido para as portas da autonomia e não haveria instituição nenhuma capaz de impedir a marcha natural da evolução, por mais que eles tenham tentado na época e alguns ainda tentem nos conduzir como um rebanho hoje em dia.
Encerrando o tema, Allan Kardec pontua:

“… Queimam-se livros, mas não se queimam ideias, e suas próprias cinzas, levadas pelo vento, vão fecundar a terra onde elas devem frutificar…”.


Estava aberto o caminho para o contato entre a Doutrina Espírita e a interpretação dos Evangelhos canônicos, que viria em “O Evangelho segundo o Espiritismo”, em “O Céu e o Inferno” e uniria os Caracteres da Revelação Espírita, os caminhos do conhecimento material e espiritual, de forma magistral em “A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo”. 

Referências:

01. IPEAK, Instituto de Pesquisas Allan Kardec. Auto de Fé das Obras Espíritas em Barcelona.
http://ipeak.net/site/estudo_janela_conteudo.php?origem=5167&&idioma=1

02. ESPIRITUALIDADE E SOCIEDADE. Sobre o auto de fé em Barcelona.
http://www.espiritualidades.com.br/

03. AUTORES ESPÍRITAS CLASSICOS. Fotografias e gravuras de Allan Kardec.
http://www.autoresespiritasclassicos.com/

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