Comportamento adverso no Movimento Espírita Rubens, por Policastro Meira

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Por Policastro Meira

Os fanáticos religiosos incrustados e mantidos no seio do movimento espírita, por elementos com interesses obscuros, empunham a bandeira de que somente eles tem o dom da sabedoria e da verdade, pois na sua intransigência, no seu exclusivismo doutrinário.

Qualquer pessoa que crê intransigentemente em qualquer postulado, ideia, sem estudar e pesquisar as razões, não permitindo que outras pessoas apresentem outras hipóteses que possam contrariar suas ideias, opiniões ou postulados deixa caracterizado um comportamento que caminha para o fanatismo. Tais ideias intransigentes, arraigadas, e muitas vezes cristalizadas, são o berço para a intolerância, onde o fanatismo obscurece a razão.

Este não é o comportamento de quem se diz espírita, de quem estuda, realmente, Kardec. Conhecer a verdade para libertar-se, eis o roteiro, ou seja, devemos sempre estar com o Espírito preparado para modificar nossas ideias, quando a verdade e/ou uma nova hipótese, se nos demonstre a sua necessidade.

Para tanto devemos proceder da mesma forma que as ciências acadêmicas a fim de que nossas ideias, nossas hipóteses, nossas questões, não sejam doutrinas pessoais, mas hipóteses de trabalho.

Tal não é, infelizmente, o comportamento que se verifica no movimento espírita. Determinadas pessoas que se julgam proprietárias da doutrina não admitem que ninguém contrarie seus pontos de vista pessoais, suas interpretações doutrinárias, pois no seu comportamento fanático, se julgam missionários exclusivos do alto e detentores da verdade.

Mais que isso: entendem que, por si e/ou com o auxílio de Espíritos, elaboraram uma linha de pensamento, e, tendo-os todos perfilados, não podem estar errados. Como consideram que não estão errados, suas opiniões possuem o cunho da verdade. Não aceitando discutir outros pontos de vista e as hipóteses divergentes, num ambiente de relações de urbanidade, de educação e de civilidade, obviamente não admitem e não aceitam as opiniões contrárias. Então, no movimento espírita – que deveria ser, pelo menos, fraternal –, presenciamos o mesmo espírito competidor do mundo das religiões que, ao longo dos séculos, maculou a ideia e a mensagem do Homem de Nazaré.

Repete-se o contexto das divergências nascidas das naturais diversidades de interpretação de textos, mas que encontraram nos sectaristas, nos maus, nos que ambicionam o poder, nos vaidosos e nos fanáticos (e o meio espírita está cheio dessas individualidades) o ambiente propício para elevarem ao máximo a discórdia, que, nos séculos passados e ainda no final do século XX, resultaram em lutas fratricidas que macularam e ainda maculam as mensagens de Amor e Paz.

Estamos presenciando, no movimento espírita, nos dias presentes, os mesmos acontecimentos religiosos do passado. Quando alguém discorda do ponto de vista dos chamados líderes, e seus acólitos, e manifesta isso em textos ou palestras, instantaneamente é riscado do movimento, sendo até eliminado das suas relações de amizade.

Por consequência, grande parte dos que seguem este modelo afirma que não é possível ter ideias próprias ou hipóteses de trabalho, de estudo ou de pesquisa. Aqueles que as tiverem, sobretudo em face de serem discordantes do “senso comum”, será considerado, pelos pretensos líderes, um inimigo em potencial e alguém “a serviço das trevas”. Presenciamos, algumas vezes, a reunião destes com o intuito de analisar os pontos de discordância de suas ideias com as daquele que enuncia seus estudos e pesquisas – mesmo que as diferenças sejam em pontos de pequena significação. Então, quando colocadas essas questões, o grupo manifesta clara a existência de contenda direcionada a exterminar (afastar, restringir, desconvidar, eliminar oportunidades) o oponente.

Os fanáticos religiosos incrustados e mantidos no seio do movimento espírita expressam, assim, os seus interesses obscuros, empunham a bandeira de que somente eles tem o dom da sabedoria e da verdade. Na sua intransigência, no seu exclusivismo doutrinário, não admitem que qualquer outro possa emitir uma opinião diversa, pois na presunção de que sabem tudo, não consentem que outros saibam alguma coisa.

Para o estudo e compreensão da Doutrina dos Espíritos é de uma tremenda insensatez chegar-se à crença de que o estudioso não deve ter ideias. Tal presunção vem conduzindo a Doutrina a um desastre fatal, pois os estudiosos das instituições espíritas se comportam como massa de manobras dos fanáticos religiosos.

Devemos, do contrário, prosseguir na elaboração de nossas ideias, nossas opiniões, nossas hipóteses de trabalho e defende-las com galhardia, com senso crítico, com urbanidade e com respeito. No entanto, é importante observar que entre o ardor da defesa e a intransigência existe um enorme abismo, que se torna muito maior quando ao invés de defender ideias, discuti-las, o oponente se propõe a lançar anátemas àqueles que pensam diferentemente.

Cremos que estamos no momento justo de sentarmo-nos e discutirmos civilizadamente as diferenças doutrinárias, sociais, e de encaminhamento do movimento espírita, visando uma melhoria na conduta do ser humano principalmente no sentimento ético e moral. Só assim estaremos efetivamente contribuindo para a evolução da sociedade e consequentemente da Humanidade, atendendo aos princípios da Doutrina dos Espíritos, sistematizada por Allan Kardec.

* Artigo publicado no Boletim da Sociedade de Estudos e Pesquisas Espíritas de Cuiabá, em 1999. Republicado, aqui, com ligeiras adaptações, por sua atualidade e pertinência.

Imagem de Gerd Altmann por Pixabay 

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Postagem efetuada por membro do Conselho Editorial do ECK.

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