Marcelo Henrique e Nelson Santos
Aplicando estes princípios de ecletismo às comunicações que nos enviaram, diremos que em 3.600, há mais de 3.000 que são de uma moralidade irreprochável, e excelentes como fundo, mas que desse número não há 300 para publicidade, e apenas cem de um mérito inconteste.
Allan Kardec
(“Revue Spirite”, Maio, 1863, “Exame das comunicações mediúnicas que nos enviam”)
O critério avaliatório e analítico que Kardec elaborou para aferição das mensagens advindas dos seres desencarnados, pela mediunidade, denominado Controle Universal do Ensino dos Espíritos (CUEE), ainda hoje é objeto de acaloradas e intermináveis discussões sobre sua natureza, finalidade e, principalmente, eficácia entre os espíritas.
Perante tantas visões dispares sobre o critério Kardeciano, necessário é conhecer-se a opinião das diversas vertentes filosóficas na ambiência espírita sobre o mesmo. Há, assim, análises bem fundamentadas e outras tantas equivocadas, pois grande parte delas encaram o CUEE como um simples método, histórico e circunstancial – o que não o é – posto ser ele, acima de tudo, um critério de exame e seleção da produção mediúnica.
A sua simples consideração como método não coaduna com o pensamento de Kardec, pois quando se apõe o referido controle como critério, isto corrobora com a própria evolução do pensamento filosófico e científico. Afinal, o Espiritismo, como bem acentuou o Professor francês, é progressista e, com o passar do tempo, os critérios deveriam ser melhor desenvolvidos, com acréscimos decorrentes da própria experimentação e agregando instrumentos das ciências humano-espirituais. Isso, entretanto, infelizmente, não ocorreu, tendo o CUEE permanecido estagnado à época de sua criação. Ficou no passado.
Na presente edição, Célia Aldegalega nos remete à análise de um método possível – porém, não infalível –, visto que alguns dos critérios não condizem com a universalidade da contemporaneidade, ainda mais diante da praticamente total ausência da perspectiva analítica para as mensagens espirituais, na atualidade. Diz ela que o CUEE se configurou como “um método mais próximo de ser dedutivo, do que o almejado experimentalmente”, porquanto o criador do Espiritismo teria designado “a opinião universal como juiz supremo”, o que importaria em rediscutir referida baliza.
Face a não aplicação contemporânea do método, Milton Medran Moreira, traça o sugestivo eixo de equilíbrio para sua aplicação, que seria a razão, amplamente exposta por Kardec, como eixo para o CUEE, livre de sofismas e dogmas, em uma perspectiva livre pensadora e progressista, diretriz, aliás, que o próprio Codificador já havia estabelecido como linha de corte para a produção medianímica e, também, para os escorços intelectuais dos pensadores espíritas encarnados. Assim, disse ele: “O essencial é enganar-se o menos possível”, como destacado no artigo citado no preâmbulo deste Editorial.
Depois, Luciana Franco defende a originalidade do CUEE como critério avaliatório da produção mediúnica, e discorre sobre o risco, assumido e confirmado, dos espíritas dos séculos XX e XXI não terem atentado para o mesmo, em relação à chamada produção mediúnica brasileira, questionando a alcunha de “obras complementares” dadas à literatura ditada por espíritos, que jamais foi analisada sob os parâmetros da Filosofia Espírita.
Martha Novis, por sua vez, expõe a ausência de aplicabilidade do CUEE pelo movimento espírita brasileiro, resgatando a principiologia original como fator de seguridade quanto ao conteúdo das mensagens, uma vez que a manifestação de qualquer Espírito, posterior à base kardeciana, não pode desrespeitar princípios ou fundamentos da Doutrina dos Espíritos, sob pena de nulidade absoluta.
Por fim, Marcio Sales Saraiva, oferece o contraponto, por vezes necessário, ao “lendário” (nossa expressão) CUEE, em uma abordagem polêmica, porém lúcida. Nela, o articulista nos provoca a examinar a extensão do critério kardeciano, já que figura impossível, para ele, um consenso em termos de humanidade (tanto a encarnada quanto a desencarnada, interligadas pela mediunidade, claro). Onde, por isto, dever-se-ia primar pelo exame (lógico-racional) da pertinência das mensagens (mediúnicas ou anímicas) e cotejando a riqueza que provém das diferenças (de pontos de vista).
Portanto, seria o CUEE no passado um critério efetivo? Seria necessária a evolução dos critérios adotados por Kardec para que ele fosse aplicado ao presente? Perante tais questões provocativas – como é o espírito desta Revista Eletrônica – que futuro em termos de validade, aceitabilidade, progressividade e ladeamento, poderíamos projetar?
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O Controle Universal requer trabalho, disciplina e comprometimento, por Martha Novis
O Problema da Verdade como Espelho da Maioria, por Marcio Sales Saraiva