Entrevista com Oliver Thaysa Helena de Oliveira

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Em homenagem a este 29 de janeiro, que é o Dia da Visibilidade Trans, data que, em 2024, completa 20 anos de sua instituição, o ECK ouviu duas pessoas muito queridas, e que passam pelas vivências na transexualidade, suas lutas, suas afirmações e seus percursos na linha do progresso espiritual.
São dois depoimentos muito ricos que a Rede Espírita contra a LGBTfobia quer compartilhar com nossos leitores e seguidores e, também, com o meio espírita em geral.
A entrevista foi realizada por Claudia Jeronimo e o segundo entrevistado é o Oliver.

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REDE – Vamos começar essa entrevista com o básico, certo? Fale-nos sobre você.
Sou Oliver Thaysa Helena de Oliveira, 44 anos, auxiliar de adm. em uma microempresa. Oliver é o meu nome social, sou um trans não binária, gênero fluido. Tenho um relacionamento há cinco anos com uma mulher incrível!

REDE – O que mais gosta de fazer?
Ver TV, filmes e séries.

REDE – Há uma questão delicada, a transição, seria correto te perguntar: – Quando ou como você se percebeu trans?
Sabe não é algo delicado, faz parte do eu que sou… Mas, para alguns, ainda é uma situação delicada, sim… (risos). Depois que li um livro do João W. Neri, que uma ex-namorada me emprestou, aí me lembrei de algumas coisas que eu tinha guardado lá no fundo e que não comentava muito… Fui me observando mais e pesquisando, até que falei pra mim mesmo: eu estou me encontrando…

REDE – Uma questão que a maioria das pessoas que pedimos pra te fazer uma pergunta, tem curiosidade sobre sua transição, você pode nos contar um pouco sobre isso?
Bom, quando se está adulto já temos nossas responsabilidades né …. mas eu tenho o físico do “MEU EU PERFEITO”, que é como eu futuramente quero ficar, logo estou transitando para isso.

Gostaria que fosse mais rápido, mas tudo tem seu tempo. E eu já sou um Trans.

REDE – Em seguida sobre sua relação familiar.
Quando falei para todos o meu desejo, surgiu perguntas como: Você vai ter barba? Respondi que sim. …
Ai veio outra pergunta: Tipo o que vai mudar??? Resposta foi: Vou poder andar na rua sem camiseta. Por fim todos riram.. kkkk . Mas em relação a familiar da qual escolhi esta. Está me ajudando a me tornar uma pessoa bem melhor que sou.

REDE – Profissionalmente como foi e como está hoje?
Os antigos de casa como eu, me chamam de Thaysa. Já os novatos sempre me chamam de Oliver. Ainda tenho traços femininos creio que quando mudar todos iram me chamar de Oliver.

REDE – Há muito preconceito ainda com relação às pessoas trans, inclusive dentro da própria comunidade LGBTQIAPN+, o que você pensa a respeito e como lida com isso?
Eu acredito, que este preconceito venha, desde da classe econômica até a sociocultural. Não frequento mais lugares da comunidade com tanta frequência, mas agiria como faço, com todos quando vejo algo que não está correto.

REDE – Você já sofreu preconceito dentro da comunidade?
Sim.

REDE – Pode ser uma reflexão nesse sentido:
Quais avanços e retrocesso da luta LGBT ao longo esses anos em relação a população Trans no Brasil.
Os avanços que me deixaram mais feliz foram os da medicina e os dos procedimentos burocráticos. O SUS (Sistema Único de Saúde), além do tratamento digno, salva a vida de muitos da comunidade. Sei que temos muito a avançar, e temos que nos manter fortes porque, a cada dia, vejo uma nova página na política. Existe o retrocesso, na forma de pessoas intolerantes e ignorantes, que é um dificultados para a nossa caminhada que, em essência, já não é fácil.

REDE – O que você faria, se tivesse o poder de criar algo para a comunidade LGBT?
Mais políticas públicas voltadas à existência e manutenção de casas de acolhimento. Talvez criaria algo como cotas em Universidades.

REDE – Você está engajado em alguma luta ou organização da luta trans?
Não.

REDE – Você conhece organizações da luta trans. Elas conseguem criar avanços para a comunidade LGBT?
Conheço casas de acolhimento como a Casa 1 e a Casa Neon Cunha [1], que não são locais de acolhimento para oferecer um teto. As entidades têm psicólogos, cursos profissionalizantes, a parte social, a burocrática de apoio, entre outras ações.

Nota do ECK:
[1] A “Casa 1” é um projeto de sociedade civil que tem como propósito a acolhida de jovens entre 18 e 25 anos que foram expulsos de casa pela família por suas orientações afetivas sexuais e identidade de gênero. O trabalho corre em paralelo às atividades do Centro Cultural e da Clínica Social, com todos os serviços ofertados gratuitamente. Para conhecer mais: https://www.casaum.org/. Já a “Casa Neon Cunha” é uma ONG (organização não-governamental) que se caracteriza como um espaço de acolhimento a pessoas que foram expulsas de casa e/ou em situação de rua, ofertando abrigamento e passagem, além de atuar em rede para o resgate da autonomia dessas pessoas. Para conhecer mais: https://casaneoncunha.org/site/

Foto Unplash Harry Quan

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Postagem efetuada por membro do Conselho Editorial do ECK.

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