Nuances da Destruição
Toda destruição que excede os limites da necessidade é uma violação da Lei de Deus.
Confesso ao amigo leitor, que ao ler “O livro dos Espíritos” pela primeira vez, discordei de Kardec! Eu tinha de 13 a 14 anos de idade! Mas, me perguntei: “Como pode Deus, que é soberanamente bom e justo permitir a Destruição”? Criando inclusive uma lei para tal?”.
Mais tarde, frequentando a Mocidade Espírita, pude entender melhor o assunto. Na questão 728 da obra citada, Allan Kardec fez a seguinte pergunta aos Espíritos Superiores: “É lei da Natureza a destruição?”. Então, os benfeitores espirituais lhe responderam: “Preciso é que tudo se destrua para renascer e se regenerar. Porque, o que chamais destruição não passa de uma transformação que tem por fim a renovação e melhoria dos seres vivos”. Mais adiante, me deparei com esta joia de ensinamento do grande filósofo francês Antoine de Lavoisier: “Na Natureza nada se cria, nada se perde; tudo se transforma”. Aí, a ficha caiu de vez!
Os benfeitores espirituais explicam que esses flagelos destruidores são necessários para que mais pronto se dê o advento de uma melhor ordem de coisas e para que se realize, em alguns anos, o que teria exigido muitos séculos. Ah, bom! Passei a entender, então, por exemplo, os problemas das enchentes, tsunamis, furacões, tornados, terremotos, deslizamentos de terra dos morros, etc. São, estes, necessários para a limpeza psíquica desses ambientes carregados muitas vezes de eflúvios deletérios e pesados, que envolvem toda a periferia terrestre como verdadeiras “larvas” de ódio, vingança, egoísmo, orgulho, guerras estúpidas, vaidade, soberba e, sobretudo, desamor.
Na primeira linha dos flagelos destruidores, os chamados de naturais, independentes da ação do homem, devem ser colocados a peste, a fome, as inundações e as intempéries fatais às produções da terra. Não tem, porém, o homem, encontrado na Ciência, nas obras de arte, no aperfeiçoamento da agricultura, nos afolhamentos e nas irrigações, no estudo das condições higiênicas, meios de impedir ou, quando menos, de atenuar muitos desastres? Certas regiões, outrora associadas por terríveis flagelos, não estão hoje preservadas deles? Que não fará, portanto, o homem pelo seu bem-estar material, quando souber aproveitar-se de todos os recursos da sua inteligência, e quando, aos cuidados de sua conservação pessoal, souber aliar o sentimento de verdadeira caridade para com os seus semelhantes?
É doloroso ver, durante as enchentes e desabamentos, as pessoas perderem tudo, móveis, geladeiras e toda a sorte de eletrodomésticos. Tudo por falta de políticas públicas, na instalação do saneamento básico e, ainda, por culpa, muitas vezes, dos próprios moradores desses locais, que poluem todo o ambiente, com o entupimento dos ralos pelo lixo que jogam nestes e toda a sorte de detritos que depositam nos rios e valões. Isso sem falar das construções irregulares nas encostas dos morros e dos desmatamentos e queimadas criminosas. Vêm, então, as chuvas e as tempestades (força da natureza) e os rios transbordam, inundando todas as ruas e moradias da periferia, causando grandes prejuízos materiais. A culpa é toda nossa! Somos nós que poluímos toda a atmosfera terráquea. E a Natureza cobra!
Muitos flagelos destruidores resultam, como disse acima, da imprevidência do homem. À medida que adquire conhecimentos e experiência, ele os vai podendo conjurar, isto é, prevenir, se lhes sabe pesquisar as causas. Contudo, entre os males que afligem a Humanidade, alguns há de caráter geral, que estão nos decretos da Providência ou nos desígnios de Deus, dos quais cada indivíduo recebe, mais ou menos, a contragolpe. A esses, nada pode o homem opor. A não ser a sua submissão à vontade de Deus. Esses mesmos males, entretanto, ele muitas vezes os agrava, pela sua negligência poluidora.
Agora, quando a destruição ultrapassa os limites, como na caça desenfreada de animais, por simples prazer esportivo e outros como, por exemplo, o “tiro ao pombo”, a “farra do boi”, as covardes touradas, os safaris criminosos, etc., fica evidente a predominância da bestialidade humana sobre a natureza espiritual. Toda destruição, então, que excede os limites da necessidade é uma violação da Lei de Deus. Os animais só destroem para satisfação de suas necessidades, enquanto o homem, dotado de livre-arbítrio, destrói sem necessidade. Terá, então, que prestar contas do abuso da liberdade que lhe foi concedida, pois isso significa que ele cede aos seus maus instintos.