O Céu e o Inferno, o livro desconhecido por muitos, por Marco Milani

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O Céu e o Inferno, o livro desconhecido por muitos

Marco Milani

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A leitura dessa obra é imprescindível para servir de referência no processo de análise de qualquer mensagem ou texto supostamente mediúnico que tente descrever o ambiente espiritual. Inúmeros romances espiritualistas atraem milhões de leitores ávidos por enredos emotivos acompanhados de “revelações” sobre o mundo invisível. Certamente essas obras ficcionais contribuem para despertar o interesse na temática espiritualista, mas cabe ao leitor separar o joio do trigo quanto à veracidade e legitimidade das informações encontradas.

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Prestes a celebrar 160 anos de seu lançamento, o livro “O Céu e o Inferno”, lançado por Allan Kardec em agosto de 1865, ainda é um grande desconhecido para muitos adeptos do Espiritismo.

Conforme levantamento [1] realizado em 2022 com 115 dirigentes de instituições espíritas, apenas 70,4% dos respondentes afirmaram ter lido integralmente, pelo menos uma vez, o referido livro. Isso significa que quase 30% desses dirigentes podem desconhecer o conteúdo tratado nessa que é uma das cinco obras fundamentais da Doutrina Espírita.

Diferentemente do que supõem aqueles que acham que todos os princípios espíritas estão desenvolvidos em “O livro dos Espíritos” e em “O evangelho segundo o Espiritismo”, as demais obras fundamentais assumem uma relevância primordial para entender o corpo teórico do Espiritismo (por isso são consideradas fundamentais). Inclusive, alguns conceitos introduzidos n’O Livro dos Espíritos somente são plenamente compreendidos associando-os às demais obras. O tema da “possessão”, por exemplo, é um deles. Somente em A Gênese o fenômeno é adequadamente caracterizado.

Com um conteúdo filosófico excepcional, o livro “O Céu e o Inferno” não somente enriquece e oferece robustez ao corpo teórico doutrinário, mas contém relatos sobre a situação dos Espíritos desencarnados que esclarecem inúmeras dúvidas àqueles que gostariam de saber o que acontece ao ser depois da morte. Na 2ª parte da obra, descreve-se o período de transição do Espírito, deixando o corpo carnal e recobrando a consciência na realidade espiritual. Dezenas de depoimentos dos Espíritos, obtidos em reuniões mediúnicas conduzidas por Allan Kardec, foram agrupados conforme a condição moral e psíquica do comunicante, a saber: felizes; em condição mediana; sofredores; suicidas; criminosos arrependidos; endurecidos e; expiações terrestres.

Muitos outros relatos não foram publicados por, justamente, já estarem representados naqueles que Kardec selecionou. Não se trata apenas de opiniões individualizadas, mas um conjunto com conteúdo sistematizado, validado pela universalidade e voltado ao estudo doutrinário.

As informações recebidas com riqueza de detalhes exemplificam os elementos teóricos tratados na 1ª parte da obra, constituindo-se em notável organização didática, típica de um exímio educador como Allan Kardec.

A leitura dessa obra é imprescindível para servir de referência no processo de análise de qualquer mensagem ou texto supostamente mediúnico que tente descrever o ambiente espiritual. Inúmeros romances espiritualistas atraem milhões de leitores ávidos por enredos emotivos acompanhados de “revelações” sobre o mundo invisível. Certamente essas obras ficcionais contribuem para despertar o interesse na temática espiritualista, mas cabe ao leitor separar o joio do trigo quanto à veracidade e legitimidade das informações encontradas.

O estudo da obra “O Céu e o Inferno” pode ser um divisor de águas ao leitor para contrastar as fantasias presentes em romances sobre a real condição do Espírito.

Para se conhecer a realidade espiritual sob o critério do Controle Universal do Ensino dos Espíritos, deve-se estudar todas as obras de Allan Kardec, pois formam um conjunto coeso quando assim entendidas.

Algumas questões que o misticismo e a imaturidade doutrinária tornam polêmicas, disseminadas por romances opinativos, poderiam ser racionalmente debatidas e esclarecidas pautando-se pelo ensino dos Espíritos apresentados nas obras de Kardec. Isso não significa um “engessamento” das ideias, como gostam de dizer os apreciadores de novidades de fonte única, mas o exercício da prudência metodológica necessária antes de se aceitar qualquer “revelação”.

Sem comprovações objetivas, que seguiram um método claro e lógico de argumentação científica ou filosófica, nenhuma “novidade” tem autoridade para substituir o que foi validado pela universalidade do Espíritos. Hipóteses são bem-vindas e devem ser estimuladas, mas somente a devida validação factual pode incorporar novas ideias ao conhecimento doutrinário.

Que os cerca de 30% de dirigentes e os adeptos em geral que ainda não leram “O Céu e o Inferno”, possam aproveitar o centésimo sexagésimo aniversário da obra para atualizarem-se.

Notas do Autor:

[1] Ver artigo completo em: https://drive.google.com/file/d/1WuCz2L9vAEVajwb81J1BlRccGLfKDzfJ/view

[2] Ver “A Gênese”, Cap. XIV – itens 45 a 49. Fonte Completa: KARDEC, A. “A Gênese”. Trad. Carlos de Brito Imbassahy. São Paulo: FEAL, 2018.

 

Imagem gerada por AI de Moshe Harosh por Pixabay

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Postagem efetuada por membro do Conselho Editorial do ECK.

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