Elias Inácio de Moraes
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Não convém tomar literatura mediúnica como “revelações espirituais” ou “referências doutrinárias”.
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Veja que não se trata de duvidar dos médiuns ou da mediunidade. Trata-se de compreender o processo medianímico através do qual os livros psicografados são produzidos, e as possibilidades e limites dessa modalidade de produção mediúnica.
Por muito tempo, acreditamos que o processo era mecânico e que o médium se entregava ao transe mediúnico e o Espírito escrevia pelas mãos dele.
Só que as pesquisas nos mostram que não é bem assim. Até as editoras interferem no resultado final de um livro psicografado.
Há evidências de que o título de “Libertação” e o final da narrativa do “Ave, Cristo” podem ter sido sugestão do Wantuil de Freitas, da FEB [1].
Um dos médiuns que eu entrevistei contou que a editora exigiu que ele reduzisse quase cem páginas do texto psicografado para que a quantidade de páginas ficasse adequada ao gosto do público.
Livros psicografados são resultado de um trabalho conjunto, uma coautoria entre entidade espiritual e médium, e podem ser, também, resultado de um processo criativo exclusivamente do médium.
Outro médium relatou que, quando ele estava estudando Paulo Freire na universidade, ficou encantado com as ideias dele. E aí, durante a reunião mediúnica, ele começou a sentir a presença espiritual de Paulo Freire, a sentir vontade de “incorporar” Paulo Freire.
Só que, muito estudioso, ele foi observando e concluiu que aquilo era dele próprio e não do possível Espírito.
Qualquer médium, por mais confiável, está sujeito a isso.
Às vezes, ele se impressiona com uma história, um acontecimento, uma situação do cotidiano, e isso transparece em sua psicografia.
Hermínio Miranda dizia que “a mediunidade é um dos componentes do bloco central da doutrina, mas ainda não se sabe tudo sobre seus mecanismos operacionais” [2].
Temos muito a estudar para entender os processos medianímicos envolvidos na produção dos livros psicografados.
É uma ilusão acreditar que o Espírito toma a mão do médium e escreve, mecanicamente, livros inteiros.
Sem contar que Espíritos também são seres humanos passíveis de erro, como muito bem pontuou Kardec.
É por isso que não convém tomar literatura mediúnica – mesmo os livros do Chico –, como “revelações espirituais” ou “referências doutrinárias”.
Livros mediúnicos são livros de reflexão moral, páginas de estímulo e reconforto espiritual, narrativas ficcionais que podem facilitar o entendimento de certos aspectos da Doutrina Espírita. Mas, de um ponto de vista kardequiano, eles precisam ser submetidos à análise racional, à coerência com o que é submetido ao universo da Ciência, para que, depois disso, as ideias neles contidas possam ser consideradas como parte da Filosofia Espírita.
Nota do Autor:
[1] Schubert, S. C. “Testemunhos de Chico Xavier” (1986).
Nota do ECK:
[2] Afirmação contida no livro de MIRANDA, H. C. “Diversidade dos carismas”, Vol. I, p. 279.
Que honra!!!
Muito obrigado aos amigos pela publicação dessa excelente seleção de recortes.
Me surpreendeu e me emocionou.
Abraço a todos.