Por Newsletter ECK
Carnaval, festa popular, cantada em verso e prosa ao longo da história. Devem ser ponderados sua origem, seus distintos significados e a natural transformação dos festejos e das situações a ele conexas, através dos tempos. Alguns, progressivos, demonstrando a utilização da inteligência espiritual em prol do indivíduo e do coletivo. Outros, nem tanto, porquanto também enquadrem a exacerbação dos sentidos e a proximidade, ainda, com a materialidade animal.
Ontem e hoje, um “rito”, um “itinerário”, um “processo”, uma “simbiose orgânica” alcançam milhões de pessoas, neste país multicultural, multicolorido, multifacetado, pluri-ideológico, pluri-espiritual, pluri-humano…
O primeiro bumbo batido no salão, o primeiro repique na avenida, o primeiro acorde de um samba. O momento chega! O povo toma as arquibancadas. A porta-bandeira roda, faceira e ritmada, em suas paixões. E o mestre-sala, convicto, respeitoso, quase devoto, lhe faz as primeiras honras. Enterra-se a tristeza, como em sua origem! Foliões felizes, amores que surgem, amores que vão… Apenas o que não se deseja é que a quarta-feira de cinzas nasça.
“Tanta riso, oh quanta alegria, mais de mil palhaços no salão”
Zé Keti (1966).
No chamado meio espiritista hegemônico – movimento espírita brasileiro (MEB) — e nos “reconhecidos” porta-vozes (deste e de outro mundo), os “sábios” de plantão e ocasião, carnaval é hora do patrulhamento. Dizem com convicção: “fiquem de olho”, “cuidado com as trevas”, “olhem as energias deletérias”, “não se deixem levar”, “patrulhem o descontrole dos “apetites carnais”, evitem as “alegrias exageradas” e descontroladas”… Cuidado! Cuidado!.
“Oh, Jardineira, por que estás tão triste?”
Humberto Porto e Benedito Lacerda (1938).
Ora, amigas e amigos, o carnaval é (mais e além de tudo) uma festa popular como outra qualquer. A lógica da “ética do marceneiro”, do jornalista Cláudio Abramo, surge e se mantém em ação: você não é uma pessoa no carnaval e outra, fora do carnaval. Bom senso, equilíbrio e respeito são os três pilares que o indivíduo deve perseguir, em sua conduta, em qualquer lugar e, especificamente, em qualquer festa. No âmbito popular, desde o Bumba Meu Boi às Festas Juninas, do Cosme e Damião à Quermesse do Santo Padroeiro, das festas da cidade aos estádios de futebol…
Somos um povo festeiro — e isso ninguém, nem em tempos rudes e tensos, apaga nem menospreza! —, que curte a Copa do Mundo e a entrega do Oscar, que adora sair às ruas, pulando na alegria, extravasando nas escolas de samba, nos blocos, nas avenidas. Exageros? Ora, pois, estes até em conventos existem!
“Eu mato, eu mato, quem roubou minha cueca pra fazer pano de prato”
Livardo Alves, gravado por Celso Teixeira (1972).
O MEB é deveras descompensado algumas vezes, por se preocupar em demasia com alguns assuntos, tutelando-os e pautando-os para os “fiéis” que lhe seguem, e pouco — muito pouco, diríamos, quase nada — com outros. Não existem nem falas nem textos indignados em relação ao leque inumerável de malefícios de tiranos de variadas espécies que buscam e — às vezes conquistam — o poder, no Brasil ou no exterior, para limitar e fazer recrudescer os direitos humanos e/ou matar a democracia.
“Quem sabe, sabe, conhece bem, como é gostoso gostar de alguém”
Joel de Almeida e Carvalhinho (1956).
Além disso, o MEB dá zero atenção para as minorias, não se pronuncia em relação às inúmeras ações de perseguição contra LGBTQIA+ em nosso país (o lugar onde mais se mata essas pessoas), nem sobre a misoginia e às agressões às mulheres, muitas resultando em feminicídios, tampouco em relação à chamada emergência climática. Não vemos, igualmente o dito “movimento espírita” — que, por isso, contraria o próprio nome, porque parece ser uma água parada de fundo de poço, lamacenta, pestilenta e doentia — preocupado com as “fake news”; nem com a pseudomediunidade calcada em atos de pessoas que se dizem médiuns, mas são, em numerosos casos embusteiros (veja-se sucessivos textos a respeito em “O livro dos Médiuns”); nem, tampouco, com as numerosas distorções da obra de Kardec que são cometidas em púlpitos, fóruns e atividades nas instituições (casas) espíritas.
“Nós, os carecas, com as mulheres somos maiorais, pois na hora do aperto é dos carecas que elas gostam mais”
Arlindo Marques Júnior e Roberto Roberti (1942).
Mas, é no carnaval que o “espírita patrulheiro” surge, para apontar o dedo sem critério, para postar-se como “evoluído” e “missionário”, como alguém que dita lições de moral, para dizer não, não e não, como se a liberdade (dos outros, Espíritos livres) incomodasse. Como se o fato e a circunstância real de cada um ser o que quer ser fosse empecilho e obstáculo para alterar convicções (as deles, obviamente!) e ameaçar o progresso (ou, melhor, o que eles reputam ser o progresso!).
É hora de repensar, sem medo, essas atitudes!
É hora de carnaval. E que cada um brinque com a sua responsabilidade individual, inafastável, e com a tranquilidade de consciência!
“Você pensa que cachaça é água? Cachaça não é água não. Cachaça vem do alambique e água vem do ribeirão
Marinósio Trigueiros Filho, Lúcio de Castro, Heber Lobato e Mirabeau Pinheiro, 1953.
Imagem de Couleur por Pixabay
Texto originalmente publicado na Newsletter ECK, edição N.8.
Zetgeist é o editorial de cada edição. Em alemão, significa “espirito do tempo”.
Assine, compartilhe, dissemine:
Newsletter – Portal Espiritismo com Kardec – ECK