Bem humorada, sem papas na língua, como ela mesmo diz, Katia Pelli é uma das mentes e corações à frente do Grupo Espiritismo com Kardec (ECK) que reúne mais de 12 mil membros no Facebook e diversas iniciativas em outras plataformas e sites. “Me identifiquei e depois de uns meses veio o convite do Marcelo Henrique para ser moderadora no ECK, fiquei reticente pois eu sei que sou áspera com as palavras ‘às vezes’.”
Com formação em desenho industrial e rádio, Kátia tem uma vida profissional ativa, com atuação para empresas em redes sociais e também como desenhista e ilustradora. Ela tem sede de saber: “Pretendo fazer Psicologia mais pra frente.”
Katia participa de grupos de estudos na internet, mas no momento não está vinculada a nenhuma casa espírita. Ela cita alguns motivos. “Nossos dirigentes precisam ter essa consciência para que possamos retomar esse movimento cultural e espiritual que nos fala Herculano Pires. É essa importância que vejo nos núcleos e que ainda não alcançamos.”
O site do ECK vai trazer uma série de entrevistas com as pessoas que constroem o grupo em seu dia a dia. Nesta, com Katia Pelli, ela fala sobre comunicação em rádio, outra de suas paixões, de processo criativo, do dia a dia de trabalho e faz reflexões sobre espiritismo e diversidade de saberes no grupo ECK. “Isso é muito bom, pois sempre agrega. Eu aprendo muito todos os dias. O ECK é um campo de germinações filosóficas e isso é maravilhoso.”
Acompanhe a entrevista.
– Quero que você comente sua experiência no rádio. Fale-nos um pouco sobre a importância do rádio na divulgação espírita.
Katia Pelli – Minha experiência foi motivada pelo amor a esse meio de comunicação. De saber que podemos “entrar nas casas” e, hoje, nos ônibus, carros, ruas, enfim em todos os lugares por conta da tecnologia que através de um smartphone te coloca nos ouvidos das pessoas quando e onde elas quiserem, isso me fascina. De poder “conversar” e levar alegria e alento, música e informação e dessa maneira fazer parte da construção do ser.
– Como você vê o crescimento dos podcasts e como o meio rádio deve encarar isso?
Katia Pelli – Eu entendo o podcast – e já participei de dois – como mais um programa da grade de uma emissora de rádio, mas que não se prende a isso. Traz mais democracia e portanto liberdade de expressão.
Se for de qualidade, poderá ser incorporado ao rádio, trazendo ainda mais possibilidades a esse veículo que acho será transformado como já vem sendo, na verdade; penso que o rádio e a tv serão uma coisa só sem deixar de coexistirem, e todas no formato online na sua essência.
– Como está sendo sua experiência como coordenadora no grupo ECK? Qual o maior desafio do grupo, a considerar o grande número de participantes, com grande diversidade nos saberes e interpretação da doutrina?
Katia Pelli – Olha, eu não parei pra pensar nisso (risos).
Tudo começou num grupo de WhatsApp, que participo, onde algumas amigas comentaram sobre o tal grupo onde estava “rolando” um debate interessante. Eu, que fugia dos grupos espíritas do Facebook por achar enfadonhos e piegas, pedi para elas me enviarem o convite e entrei. Me identifiquei e depois de uns meses veio o convite do Marcelo Henrique para ser moderadora, fiquei reticente pois eu sei que sou áspera com as palavras “às vezes” (risos).
Porém, pensando no que você perguntou, posso dizer que hoje o maior desafio é manter a qualidade dos debates, pois entendemos que o nível de conhecimento doutrinário dos participantes é bom. Com relação à diversidade dos saberes, isso é muito bom, pois sempre agrega. Eu aprendo muito todos os dias. O ECK é um campo de germinações filosóficas e isso é maravilhoso.
– Qual a visão do futuro que você tem do ECK?
Katia Pelli – O nome ECK é muito convidativo. Com Kardec a Doutrina dos Espíritos nasceu. Com Kardec o Espiritismo alçou vôo. No ‘EspiritismoComKardec’, eu sinto que o vôo seja o 2º período do espírito, contido na Revista Espírita do ano 1864, mês de fevereiro, “o período de equilíbrio, no qual as influências da matéria e do Espírito se exercem simultaneamente; no qual, posto submetido às necessidades materiais, o homem pressente e compreende o estado espiritual; em que trabalha para sair do estado corporal”; onde tudo se estabelece através do conhecer-se de fato, libertar-se de fato consolidando a autonomia com o livre arbítrio.
– Você tem uma postura crítica em relação ao movimento espírita brasileiro e também à atitude de certos espíritas mais religiosos. Como atrair essa parcela religiosa para o espiritismo racional? Isso depende da pessoa ou podemos fazer alguma coisa como formadores de opinião, mediadores ou monitores?
Katia Pelli – Isso sempre vai partir da pessoa, não se promove liberdade sem consciência do que é. Porém podemos provocar as pessoas a pensar e buscar no que existe em essência, nos princípios filosóficos espíritas. É o que fazemos no ECK.
– Atualmente, você é ligada a alguma casa espírita? Como você vê a importância dos núcleos e casas espíritas para compreensão do espiritismo com Kardec?
Katia Pelli – Atualmente, não estou ativa em nenhuma casa, mas participo de dois grupos de estudos de uma casa e de um grupo de estudo de uma Federativa de SP. Herculano Pires, no seu livro “O Centro Espírita”, editora Paidéia, disse que se soubéssemos o que é verdadeiramente um Centro Espírita, o Espiritismo seria hoje o mais importante movimento cultural e espiritual da Terra. Nossos dirigentes precisam ter essa consciência para que possamos retomar esse movimento cultural e espiritual. É essa importância que vejo nos núcleos e que ainda não alcançamos.
– Qual a visão do futuro que você tem do espiritismo?
Katia Pelli – Eu não sou muito de olhar pro futuro, quero trabalhar no que tenho hoje, e hoje eu quero construir um espiritismo sem as amarras das crenças, sem a necessidade das ritualísticas, sejam elas sociais e ou religiosas e sim apenas morais onde o limite é o do respeito e direitos iguais.
– Soube pelo grupo que você desenha profissionalmente, pode falar sobre isso?
Katia Pelli – Nasci desenhando (risos). Algumas vezes olhava pro papel e via as formas já quase prontas, só passava o lápis por cima, às vezes pela metade e às vezes desenhava para relaxar. Fazia os cartazes da feira de ciências da escola toda, dava até calo e enxaqueca, mas era uma delícia. Cresci, fiz o antigo magistério, fiz DI – desenho industrial, que hoje é design de produto, no Liceu de Artes e Ofício e muito depois fiz Rádio, outra paixão. Tudo isso com bastante dificuldade por conta da dislexia, mas sou muito teimosa, o que me ajudou.Toda parte de conhecimento de arte digital aconteceu apenas por curiosidade e aprendi sozinha. Faço trabalhos como cuidar de mídias digitais de algumas marcas, ilustrações, diagramação em geral e logos e pretendo fazer psicologia mais pra frente.
– Faço uma pergunta que já virou uma máxima sua: “quem é você na fila do pão?”
Katia Pelli – (Muitos risos) Sou um espírito em aprendizado. Mãe de cinco mais um (meu neto que crio). Curiosa. Alegre. Aprendi com minha mãe que devemos ser úteis sempre e isso me causa um prazer inenarrável. Como não tenho tamanho, na fila do pão ninguém me enxerga, o que me dá uma vantagem, ninguém me atrapalha. Faço o que tiver que fazer sem ninguém me ver.
Entrevista a Manoel Fernandes Neto.