Não serão esses fenômenos extremos uma reação da nossa ação imprudente e de desprezo pelos limites da natureza?
Tempestades de poeira, chuvas torrenciais, ondas de calor, furacões, secas prolongadas, frios extremos, tsunamis e muitos outros fenômenos climáticos extremos como esses são cada vez mais observados com o passar das estações, sugerindo uma mudança nos padrões climáticos do planeta. Essas mudanças têm sido intensificadas com a elevação da temperatura do planeta, causando impactos complexos que alcançam os diversos setores da sociedade, sendo a camada mais pobre a mais atingida. Dentre os impactos, podemos citar enchentes e alagamentos que tem atingido várias regiões do país recentemente, afetando diretamente a população, provocando crises de escassez de água, desabastecimento de energia e de alimentos, deslocamento de comunidades inteiras e até propagação de doenças.
Tais eventos, por serem incomuns, muitas vezes assustam. E há quem diga que são castigos de Deus. No entanto, a lei de causa e efeito nos mostra que, definitivamente, não o são! Allan Kardec, sobre a desigualdade de recursos essenciais para a vida na Terra, pergunta aos Espíritos porque nem sempre a Terra produz o bastante para fornecer ao homem o necessário. Ele foi bem esclarecido pelos Espíritos de que o homem, ingrato, é que despreza a natureza. Muitas vezes, acusa a natureza do que só é resultado da sua imperícia ou da sua imprevidência (“O livro dos Espíritos”, q. 705). As observações apresentadas pelos cientistas têm nos mostrado que desequilíbrios como esses vêm sendo desencadeados com o aumento da temperatura do planeta intensificado pelo estilo de vida do homem e sua forma de exploração dos recursos naturais.
Sendo assim, não serão esses fenômenos extremos uma reação da nossa ação imprudente e de desprezo pelos limites da natureza?
O IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), uma organização das Nações Unidas responsável por fazer pesquisas sobre mudanças no clima, analisando milhares de evidências coletadas ao redor do planeta, estima que as atividades humanas tenham causado o aquecimento global de cerca de 1,0°C acima dos níveis pré-industriais, sendo provável que o aquecimento global atinja 1,5°C entre 2030 e 2052, caso continue a aumentar no ritmo atual. É a mudança mais rápida dos últimos 10 mil anos e uma das principais consequências é o tempo se tornar cada vez mais imprevisível e fenômenos climáticos extremos cada vez mais frequentes.
Devemos então abandonar nossos computadores e smartphones e voltar para o campo, não usar automóveis, parar de consumir energia elétrica? Claro que não. Devemos aproveitar da evolução material que a humanidade alcançou por meio do conhecimento científico, que já nos permite buscar por modelos que degradem menos a natureza e, consequentemente, causem menos desequilíbrio no sistema ambiental. A emergência climática exige um posicionamento prudente de todos em direção a práticas e modelos de desenvolvimento que sejam sustentáveis, que preservem os recursos naturais para que não haja o esgotamento dos recursos essenciais à vida das gerações presentes e futuras. Não podemos derrubar florestas para sempre. Se assim for, o nosso sistema entrará em colapso. Coloquemo-nos no nosso humilde lugar de seres pertencentes ao meio ambiente e não de donos dele, lembrando que a resposta dos Espíritos para Allan Kardec, quanto ao uso dos bens terrenos serem de direitos de todos os homens, foi afirmativa. E esse direito é consequente da necessidade de viver (“O livro dos Espíritos”, q. 711). Vale lembrar que, ao considerar a lei da reencarnação, as gerações futuras poderão ser nós mesmos. Nós corremos o risco de encontrar um planeta em condições piores do que deixamos, quando reencarnarmos, se não agirmos agora.
Bom, e o que temos a ver com esses fenômenos climáticos extremos como o evidente derretimento das geleiras e enchentes, já ficou claro, né? A forma como vivemos na Terra hoje está causando um desequilíbrio nos diversos ecossistemas do globo, interferindo nos padrões climáticos. O derretimento das geleiras é o alarme de que algo não está indo nada bem. O planeta está aquecendo e perdendo o seu gelo. Sem a camada de gelo, menos luz solar é refletida e a temperatura global aumenta. No caso do citado das enchentes, quanto mais a temperatura da Terra se eleva com o aquecimento global, maior é a umidade que evapora para a atmosfera em pouco tempo, provocando chuvas intensas e concentradas em um intervalo curto de tempo ou em um único dia, sendo um volume alto para a capacidade de escoamento do sistema, causando os desastrosos alagamentos que temos visto em regiões do globo.
Temos a capacidade de exigir de nossos governantes medidas que visem o menor impacto, por meio da adoção de formas de desenvolvimento mais limpas, sustentáveis e que evitem o esgotamento dos recursos da natureza. O aquecimento global não é um problema do futuro e está afetando as diversas regiões de todo o planeta. É de extrema importância que as nossas lideranças proporcionem apoio à ciência, pois é ela que buscará condições de mantermos e melhorarmos o nosso padrão de vida por meio um caminho mais limpo e prudente, respeitando os limites da natureza. É urgente que, na hora de elegermos nossos líderes e representantes, esses tenham em suas agendas de governo como prioridade a conservação ambiental e o desenvolvimento econômico e social que respeitem as leis naturais que regem a vida.
Nota do ECK: Artigo originalmente publicado no jornal “Espiritismo e Sociedade”, Volume 1, Edição 1, de janeiro de 2022. No expediente do periódico, se percebe a afinidade da iniciativa com os propósitos de nosso grupo: “Jornal elaborado por grupo de espíritas que se reuniram em defesa do Espiritismo com Kardec”.