Silvio Santos vem aí!, por Marcelo Henrique

Tempo de leitura: 4 minutos

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Decisões, mudanças, iniciativas… Silvio nos mostrou, sempre, a validade disso…

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O bordão, por décadas, anunciava a chegada do grande comunicador brasileiro, Senor Abravanel, cujo codinome para o jornalismo foi sempre Silvio Santos. Assim, iniciava o programa televisivo mais longevo – e um dos de maior duração, em termos de minutagem, durante um dia – das telas tupiniquins, o “Programa Silvio Santos”, sempre aos domingos, com atrações para “todos” os públicos e faixas etárias.

Começava com o “Domingo no Parque” e, tradicionalmente, encerrava com o “Show de Calouros”. Jornalisticamente, uma das programações mais diversificadas que o mundo conheceu. E que eu, como adolescente, depois como jovem estudante de Comunicação Social – Jornalismo, na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) passei a estudar e admirar. Não entro no mérito de sua ideologia pessoal – que imprimiu, com notório destaque, a tipologia dos anúncios como propagandas institucionais do governo brasileiro, seja na época da ditadura, seja nos primeiros anos da chamada democratização. Homens são feitos de ideias e estas, as ideias, precisam ser objeto da lógica racional individual, para filtrar e extrair o que seja verdadeiro, bom e útil (as “três peneiras” do filósofo grego, Sócrates), descartando o que não nos serve.

Eis que o “plano espiritual”, neste 17 de agosto, deve estar dizendo, em coro: “Silvio Santos vem aí, lará-lará-lará, Silvio Santos vem aí, pá-pá-pá-pá-pá-pááááááá…”. E não é?

Para o Espiritismo – como bem ilustra a música “Encontros e Despedidas”, de Milton Nascimento e Fernando Brandt (1985) – há tempo de chegar e de (se) ir. Ou seja, na “estação” da vida (física) uns se despedem e outros se achegam. Não há, pois, “lugares paradisíacos nem demoníacos” do “outro lado”. Tudo ocorre aqui, com as duas humanidades (expressão de Herculano Pires, traduzindo os escritos de Allan Kardec) convivendo e se inter-relacionando. Umbrais ou colônias nada mais são do que a mesma ambiência “material” utilizada pelos encarnados.

Quando uma pessoa se vai, isto é, na ocorrência do fenômeno morte, da qual “não se tem volta” (exceto nas chamadas mortes aparentes, catalépticas – como nos episódios contidos nos evangelhos, sobre as pessoas que teriam sido “ressuscitadas” por Yeshua, o Magrão), fica a saudade, o reconhecimento, a nostalgia do que elas foram e fizeram. Os que aqui permanecem, costumam lembrar, em face da maior proximidade ou respeito com tais personalidades, daquilo que elas representaram. É o que acontece, por exemplo, no meio espírita internacional, com Allan Kardec, e no “Espiritismus brasilis” com a figura de Chico Xavier. Nos lembramos dos indivíduos, seus feitos, suas obras, suas características.

É o que acontecerá agora, seja no meio artístico e jornalístico, seja em termos gerais, mormente naqueles que, em alguma fase de sua trajetória atual, acompanhavam os programas do Sistema Brasileiro de Televisão – SBT (e, antes mesmo disso, na extinta TV Tupi), capitaneados pelo “homem do baú”, o SS, Silvio Santos. Uma observação: o baú faz alusão ao “baú da felicidade” uma espécie de carnê de pagamentos com um “programa de relacionamentos ou de prêmios” que era resgatado nas “lojas do baú” e que davam direito a sorteios e até à participação nos programas de auditório e de “jogos” naqueles domingos inesquecíveis.

Sua maior marca (e referência) era o carisma. Um magnetismo contagiante – conteúdo, aliás, de uma ciência específica, da qual o Espiritismo hauriu elementos para a sua sistematização, o Mesmerismo ou o Magnetismo Animal – capaz de “seduzir” uma (quase) infinita multidão de admiradores ou “fãs”, assim como provocar a critica (nem sempre construtiva) daqueles que discordavam dos métodos, das ideologias e dos próprios programas da rede televisiva já citada.

Silvio era o seu nome “acessório”, porque sua mãe, ao invés do grego Senor, achava mais simples chamá-lo assim. E o Santos surgiu como um “insight” do apresentador que, após vencer um concurso para locutor em uma emissora, a Rádio Guanabara, resolveu frequentar os “programas de auditórios” em teatros para, ao final, se inscrever em um programa de calouros, adotando o “sobrenome” porque, segundo ele “os santos sempre ajudavam”. A carreira artístico-jornalística pode ser creditada ao início de sua atividade laboral, porque seu trabalho como camelô, no Rio de Janeiro (RJ), a partir de 1945, se baseava no convencimento dos clientes e na sua oratória, que pode ser considerada uma “herança espiritual”, dadas as habilidades inatas (mas que nós, espíritas, vinculamos às experiências encarnatórias pregressas), e da prática cotidiana daqueles dias em terras fluminenses.

Com inúmeros bordões e músicas, Silvio Santos se eternizou na memória popular, sendo imitado por muitos atores e comediantes, que traduziram “tiques”, “manias”, “voz” e “tiradas” do grande apresentador da televisão brasileira, talvez somente comparado com outro ícone, Abelardo Barbosa, o Chacrinha.

Esperamos que sua trajetória (terrena), que se finda, possa inspirar àqueles que utilizam a voz, a persuasão, o convencimento, a vendagem de produtos ou serviços e os próprios jornalistas e demais membros da classe artística. Porque a fantasia é inspiradora e necessária, como um bálsamo que nos faz esquecer algumas agruras do dia a dia e nos impulsiona a termos coragem e ânimo para os novos despertares diários.

De Silvio Santos guardamos boas lembranças, sobretudo aquelas correlacionadas a extrair das pessoas o seu melhor, aquilo que, muitas vezes, só é conhecido em chuveiros, banheiros ou ambientes solitários, ou dos mais próximos e íntimos, mas que, em desabrochando, pode simbolizar valiosos desabrochares, modificando (para melhor) o enredo da existência.

“Quem quer dinheiro?”, “Você está certo disso?”, “Vamos abrir as portas da esperança” e “É namoro ou amizade?”. Decisões, mudanças, iniciativas… Silvio nos mostrou, sempre, a validade disso…

Foto Wikipedia

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Postagem efetuada por membro do Conselho Editorial do ECK.

One thought on “Silvio Santos vem aí!, por Marcelo Henrique

  1. A par da inegável capacidade de comunicação (bem apontada no texto de Marcelo), constatava sua postura arrogante e de humilhação dos ‘fãs’ e frequentadores de seus auditórios, nas falas (especialmente nos últimos anos, em que aparentemente foi perdendo o senso de ridículo) e em atitudes, como lançar ‘aviões de dinheiro’ às pessoas no público, que se lançavam a eles em atitude lastimável… o que rondará a mente desse irmão, agora despojado das amarras físicas, ao reavaliar sua passagem por estas plagas?

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