Somos inferiores em um mundo inferior?, por Sidnei Batista

Tempo de leitura: 2 minutos

Por Sidnei Batista

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“A classificação de mundos inferiores e mundos superiores é antes relativa do que absoluta, pois um mundo é inferior ou superior em relação aos que se acham abaixo ou acima dele, na escala progressiva” (Allan Kardec, “O evangelho segundo o Espiritismo”, Cap. III – Mundos inferiores e mundos superiores. 59. Ed. Trad. J. Herculano Pires. São Paulo: Lake, 2003).

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A realidade vigente no meio espírita é consequência de como funciona a cabeça do espírita integrada no ambiente psico mental e social do primeiro. Assim, é comum pensar que todos somos Espíritos inferiores habitando em um Mundo Inferior.

Contudo, não penso assim, em decorrência da forma como vejo a dinâmica do Espiritismo. Primeiro, a idéia dominante entre superior e inferior, deriva da concepção da Escala Espírita – ou melhor, das Escalas Espíritas dado que não existe uma única escala. Em sendo as Escalas infinitas, qualquer delas principia no EU e, assim, estão setorizadas pelos limites psíquicos de grupos, sociedades, povos, nações, planetas, universo (ou universos). Uma é menor dentro de outra maior, que, por sua vez, estará dentro de outra maior, tal como os círculos concêntricos crescentes na superfície da água de um lago, sempre em torno de um núcleo: o EU na dimensão do EGO.

Isto nos faz lembrar a matrioska [foto que ilustra este artigo], a boneca russa dentro de uma maior, mas todas perfeitamente iguais. Quem pode dizer o que é perfeito e o que é imperfeito? Isso porque tais termos são relativos, uma vez que acima de um perfeito há um perfeito mais ampliado, concomitante ao estado consciencial que define o grau de evolução do Ser, da mesma forma que abaixo de um perfeito há um imperfeito concomitante ao seu estado consciencial, o que igualmente lhe define o grau de evolução.

Para todos os seres inteligentes há sempre o estado de incipiência (iniciante) e de insipiência (ignorância) no perfeito equilíbrio do pêndulo existencial das Escalas em que cada ser em particular vai se auto superando na gradual auto iluminação, à medida que acessa esferas superiores da inteligência, do pensamento, do conhecimento.

Por isso, podemos dizer a partir da dicção kardeciana, que ninguém é mais perfeito nem mais imperfeito a quem quer que seja. Ou, ninguém está atrasado nem adiantado. Cada ser (animal e o homem, ambos na condição de Almas) está exatamente na hora e no ponto exatos do seu progresso e, assim, cada um pensa e trabalha no seu próprio fuso horário: o Sol e a Lua brilham de forma igual para todos.

Kardec, portanto, em suas 32 obras, está repleto de dicas, mas estas somente são (serão) acessíveis e perceptíveis para “aqueles que tenham ouvidos e olhos de ouvir e de ver”. E este enxergar e auscultar será a resultância do próprio e individual esforço.

Findamos esse ensaio com a magnífica Clarice Lispector: “Eu sou exatamente o meu tamanho, nem para mais nem para menos”.

Imagem meramente ilustrativa de Hannah Alkadi por Pixabay

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Postagem efetuada por membro do Conselho Editorial do ECK.

One thought on “Somos inferiores em um mundo inferior?, por Sidnei Batista

  1. Todas as vezes que abordava o tema da ‘escala espírita’, seja em cursos ou palestras, algo me incomodava. Após a leitura deste magnífico artigo, finalmente descobri o que era. Nunca havia refletido sob esse ângulo. Parabéns!

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