“Star Trek” e a Pluralidade dos Mundos: Uma Jornada Além do Espaço, por Wilson Custódio Filho

Tempo de leitura: 6 minutos

Wilson Custódio Filho

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A maior fronteira a ser desbravada não está nas estrelas, mas no íntimo de cada ser.

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Introdução: “Star Trek e a Exploração do Desconhecido.

Ao revisitar o passado, reencontrei uma série que marcou época: “Star Trek”, ou simplesmente “Jornada nas Estrelas”. Lançada nos anos 1960, essa produção de ficção científica tornou-se uma das mais bem-sucedidas e populares da cultura estadunidense, inspirando gerações ao explorar os mistérios do universo e a busca pelo desconhecido. 

Essa missão é sintetizada no icônico monólogo de abertura da série, narrado por William Shatner, intérprete do Capitão James Tiberius Kirk, que instiga o espírito desbravador: 

“Espaço… a fronteira final. Estas são as viagens da nave estelar Enterprise, em sua missão de cinco anos. […] para explorar estranhos novos mundos […] para pesquisar novas vidas e novas civilizações […] audaciosamente indo aonde nenhum homem jamais esteve.” [1]

A Pluralidade dos Mundos na Visão Espírita.

Star Trek” vai além da ficção científica ao abordar uma inquietação humana ancestral: compreender o universo e seu propósito. Essa busca incansável ecoa profundamente e coaduna com a visão espírita, conforme exposto em “A Gênese”, de Allan Kardec [2], que apresenta o universo como uma jornada intergaláctica, repleta de vida, onde globos se movem no espaço, servindo por vezes como moradas para os Espíritos em diferentes estágios evolutivos. Refletindo, pois, a pluralidade dos mundos habitados, em consonância com a pluralidade das existências.

Essa perspectiva é sintetizada na pergunta de Allan Kardec aos Espíritos:

São habitados todos os globos que se movem no espaço?” 

Esses, então, afirmam: 

“Sim, e o homem terreno está longe de ser, como supõe, o primeiro em inteligência, em bondade e em perfeição.” (“O livro dos Espíritos”, item 55). [3]

Se a Enterprise se lança ao desconhecido movida pelo desejo de explorar e aprender, a sociedade também avança, não apenas tecnológica e cientificamente, mas moral e espiritualmente.

Progresso Moral e Intelectual: Duas Asas do mesmo Pássaro.

Para voar, é necessário que o pássaro tenha ambas as asas em equilíbrio: o conhecimento e a moralidade, como bem expressa uma reflexão amplamente difundida: 

“Conhecimento sem ética é perigoso, e ética sem conhecimento é incompleta.” 

O Espiritismo nos demonstra que o progresso é uma lei natural inexorável, impulsionando todos os seres em direção à perfeição: “Admirável lei de harmonia, de que o vosso Espírito limitado ainda não pode abranger o conjunto!” (“O livro dos Espíritos”, questão 540). [3]

De um ponto a outro entre o espaço-tempo, os tripulantes da Enterprise deparam-se com formas de vida alienígenas, enfrentando, assim, dilemas éticos e morais tipicamente humanos. Enquanto isso, na Terra, nos deparamos com diversas situações que testam não apenas nossa razão, mas também desafiam nosso próprio caráter. Nessa perspectiva, importa lembrar que o universo não é um vazio estéril, mas um espaço pulsante de vidas, uma ponte infinita de oportunidades que, partindo do plano terreno, nos conduz, inevitavelmente, ao progresso do Espírito.

Ficção e Realidade: A Federação e as Nações Terrenas.

Essa jornada não acontece ao acaso. Aliás, bem sabemos que esse não existe. A arte reflete nossa visão infante, ressoando nossas inquietações tanto na ficção quanto na realidade. E assim, remetemo-nos ao que bem expressa nosso eterno Raul Seixas em “O Carimbador Maluco”: [4]

“Plunct, Plact, Zum. Não vai a lugar nenhum. Tem que ser selado, registrado, carimbado, avaliado, rotulado, se quiser voar.”

 Dessa maneira, “Star Trek” não apenas nos inspira a idealizar futuros possíveis, mas nos recorda que a maior fronteira a ser explorada não é o espaço sideral, mas a vastidão do próprio Ser, dentro de nós, que se expande à medida que avançamos. Afinal, como ensina a própria natureza, nada evolui por saltos. 

Plagiando o personagem Buzz Lightyear [5]: “Ao Infinito e Além!” 

Mais do que um desejo, é um chamado que nos exige esforço, renúncia, desprendimento, consciência e responsabilidade – tanto na visão do artista quanto nos palcos da vida, onde o Espírito imortal vivencia e se aprimora em sua jornada.

Entre Conflitos Velados e Limitações Morais.

Passo a passo, errante, é o Espírito quem vislumbra o futuro, guiado pelas lições do presente. Tais ideias futuristas impressionam, à medida que parecem contrastar com a realidade dos atos da humanidade. 

Seja no plano individual ou coletivo, não há como negar: o avanço respeita a transformação das faculdades humanas. Enquanto a inteligência se sobrepõe à ética e à moral, o egoísmo, o orgulho e a vaidade — as chagas do progresso humano — tendem a prevalecer.

Como bem esclarecem os Espíritos, esse progresso não ocorre de forma abrupta, mas exige tempo, adaptação e equilíbrio em todos os aspectos da existência. Conforme exposto na questão 780b, de “O livro dos Espíritos” [3]:

O progresso completo é o alvo a atingir, mas os povos, como os indivíduos, não chegam a ele senão passo a passo. Até que tenham desenvolvido o senso moral, eles podem servir-se de inteligência para fazer o mal. A moral e a inteligência são duas forças que não se equilibram senão com o tempo.

A Ironia das Alianças Militares e o Progresso Humano.

De forma análoga, a Federação Unida de Planetas em “Star Trek” simboliza a liberdade e a cooperação entre civilizações. No entanto, na realidade terrena, alianças geopolíticas, como a OTAN, embora promovam a colaboração entre seus países membros, o fazem sob a influência dominante de uma potência central.

Isso expõe, mais uma vez, as limitações que impomos ao próprio progresso, onde a verdadeira harmonia entre as nações, assim como entre moral e inteligência, ainda parece um objetivo distante. Como diz o ditado popular: ‘Se não melhorar o homem, não se melhora o mundo.

A busca por uma convivência pacífica com outros povos e civilizações parece-nos utópica, visto que ainda não conseguimos alcançar a paz nem com nossos próprios vizinhos. Ainda é um sonho alimentado por muros, grades e armas de destruição — ou, como alguns preferem chamar: Armas de autodefesa! Mas defesa de quem, senão de si mesmos?

A crítica aqui nos conduz a uma autoanálise: terrícolas ainda imperfeitos, em busca de povos perfeitos, sem perceberem que, um dia, serão como aqueles que idealizam. Vã filosofia! Como explicar à lagarta que, inevitavelmente, tornar-se-á borboleta? No fim das contas, tudo é questão de escolhas. Talvez o grande segredo resida na capacidade de discernir entre o bem e o mal. Que grande passo daríamos! Sobre essa importante questão, respondem os Espíritos a Allan Kardec [3]:

“O desenvolvimento da inteligência, ao dar ao homem a compreensão do bem e do mal, faz com que ele possa escolher. O desenvolvimento do livre-arbítrio segue-se ao desenvolvimento da inteligência e aumenta a responsabilidade do homem pelos seus atos” (“O livro dos Espíritos”, questão 780-a).

Spock e o Conflito Humano entre Razão e Emoção.

Retornando à nave estelar Enterprise, encontramos Spock interpretado por Leonard Nimoy [6], um dos personagens mais enigmáticos da série, um híbrido alienígena (meio terrícola, meio vulcano). Sua personalidade é marcada pela luta interna entre sua herança humana (que envolve emoções mais intensas e irracionais) e sua natureza vulcana, que busca reprimir tais sentimentos. 

Assim como Spock vive o dilema entre emoção, instinto e lógica, a humanidade encontra-se nesse mesmo embate entre progresso moral e progresso intelectual. Reforçamos que nossa jornada não se resume à conquista do espaço, mas à expansão do Espírito, que se aprimora gradualmente rumo ao verdadeiro progresso espiritual.

O Verdadeiro Destino da Humanidade.

Afinal, a maior fronteira a ser desbravada não está nas estrelas, mas no íntimo de cada ser. E para avançarmos nessa travessia, vale lembrar o aforismo inscrito no Pátio do Templo de Apolo em Delfos: 

“Conhece-te a ti mesmo!” 

Do contrário, desde a sabedoria da Grécia Antiga no século IV a.C. até as canções do querido Rei – Roberto Carlos, não adianta ser “O Astronauta” [7], desligar os controles da nave espacial e vagar para sempre no espaço sideral. A verdadeira jornada não é a fuga, mas o aperfeiçoamento do Espírito, retornando tantas vezes quantas forem necessárias.

É isso, turma da tribo! “Vida longa e próspera” nessa jornada – ou melhor, para nós, espíritas, nas idas e vindas prósperas, sempre. Até breve!

 

Fontes:

[1] SHATNER, W. “Star Trek: A Jornada nas Estrelas”. 1966. Série de TV criada por Gene Roddenberry. Paramount Pictures. Disponível em: <https://facts.net/29-fatos-sobre-william-shatner>. Acesso em: 28 mar. 2025.

[2] KARDEC, A. “A Gênese: os milagres e as predições segundo o Espiritismo”. Trad. Carlos de Brito Imbassahy. São Paulo: FEAL, 2021.

[3] KARDEC, A. “O livro dos Espíritos”. Trad. José Herculano Pires. 64. Ed. São Paulo: LAKE, 2004.

[4] SEIXAS, R. “O Carimbador Maluco”. 1983. Música. Compacto do cantor e compositor Raul Seixas, lançado em 26 de abril de 1983 pela gravadora Eldorado. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Carimbador_Maluco>. Acesso em: 28 mar. 2025.

[5] PIXAR ANIMATION STUDIOS; WALT DISNEY PICTURES. “Buzz Lightyear. EUA, 2022. Animação de ficção científica e ação. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Lightyear>. Acesso em: 28 mar. 2025.

[6] SPOCK. Personagem de “Star Trek: A Jornada nas Estrelas”. Interpretado por Leonard Nimoy. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Spock>. Acesso em: 31 mar. 2025.

[7] BRAGA, R. C. “O Astronauta”. 1970. Música. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Roberto_Carlos_(álbum_de_1970)>. Acesso em: 28 mar. 2025.

Imagem: Elenco da série original Star Trek de 1966 (Imagem: Netflix/Divulgação)


Edição: Abril 2025

 

Editorial: Somente um ponto de partida: os livros resistem, por Manoel Fernandes Neto e Nelson Santos

Mediunidade Decolonial: por uma mediunidade autônoma e crítica, por Lindemberg Castro, Heloísa Canali, Fábio Diório, Ruth Barros, Raimundo Filho e Eduardo Silveira [1]

Para que estudamos e dialogamos sobre o Espiritismo?, por Dirce Carvalho Leite

O Pensamento de Kardec nos dias atuais, por Walter Pérez

O cerne da questão dos sofrimentos futuros, por Wilson Garcia

Romances Espiritas para “explicar a história”: qual a utilidade disso?, por Henri Netto

“Star Trek” e a Pluralidade dos Mundos: Uma Jornada Além do Espaço, por Wilson Custódio Filho

Um singelo quadro na parede, por Marcelo Henrique

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Postagem efetuada por membro do Conselho Editorial do ECK.

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