Uma religião espírita teria força para transformar o mundo? , por Cláudio Bueno da Silva

Tempo de leitura: 2 minutos

Cláudio Bueno da Silva

Muitos espíritas carregam sua experiência do sagrado, do místico, da superstição, do sobrenatural, e essa mistura religiosa apenas copia as velhas estruturas mentais e devocionais de homens e instituições. E os centros espíritas, que deveriam ser núcleos de planificação e estratégias de mudanças individuais e coletivas, ficam impregnados daquilo tudo, sem força de transformação.

O Espiritismo entendido e vivido apenas como uma religião teria força para transformar o mundo? As religiões do mundo (e as incontáveis seitas) cumpriram o papel que se esperava delas? Se a resposta for sim, por que grande parte da humanidade se arrasta moralmente sobre a terra? Se a resposta for não, por que seria diferente com uma religião espírita?

A fração de pessoas melhoradas individualmente por uma religião espírita justificaria os esforços imensos de Allan Kardec e dos Espíritos e de tantos homens de ciência e cultura que lutaram pela implantação da filosofia espírita no mundo?

A Doutrina Espírita abriga um imenso conteúdo revolucionário, transformador estrutural da mente, do Espírito e do comportamento social. A Filosofia Espírita foi concebida para trabalhar o homem, tirá-lo do terreno do mistério e das crendices e fazê-lo habitar o vasto campo da ciência e da virtude; penetrar no tecido social e dissolver vícios, condicionamentos, idiossincrasias; fazê-lo olhar para o céu não só para reverenciar a Deus, mas também para se comunicar com seus irmãos do espaço; aliciar pela razão e pelo bom senso, os retardatários e mais ainda os misoneístas adoradores do passado. Isso tudo está no conteúdo da Doutrina Espírita e não caberia numa eventual religião espírita.

Allan Kardec chegou a dizer algures, que se uma só pessoa se transformasse pelas ideias espíritas já teria valido a sua instauração na Terra. Eu também já disse isso em relação à minha pobre poesia: “uma pessoa que a leia, e já terá valido a pena poetar”. Mas confesso, pelo menos de minha parte, a falácia literária. O caso é que o Espiritismo foi estruturado para fazer avançar a humanidade.

Muitos espíritas carregam sua experiência do sagrado, do místico, da superstição, do sobrenatural, e essa mistura religiosa apenas copia as velhas estruturas mentais e devocionais de homens e instituições. E os centros espíritas, que deveriam ser núcleos de planificação e estratégias de mudanças individuais e coletivas, ficam impregnados daquilo tudo, sem força de transformação.

Dirão alguns que apesar disso, muito se caminhou. Mas convenhamos que poderíamos ter avançado mais se tivéssemos mantido fidelidade à proposta original do Espiritismo.

E teríamos ido mais longe se não tivéssemos feito com o Espiritismo o que fizemos com a doutrina de Jesus de Nazaré, que não se sacrificou tanto pelos homens apenas para vê-los adorando a Deus dentro dos templos e vivendo uma vida ambígua em sociedade.

Tempus est dominus omnium: O tempo é o mestre de tudo.

 

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Postagem efetuada por membro do Conselho Editorial do ECK.

2 thoughts on “Uma religião espírita teria força para transformar o mundo? , por Cláudio Bueno da Silva

  1. Muito bem explanado. O Espiritismo Não é uma religião, nasceu Doutrina Filosófica, e tentar “adaptá-lo” às crenças tradicionais é retrocesso. A Humanidade, ainda acomodada nos dogmas que não concitam à reflexão, retarda o natural progresso individual e coletivo.

  2. O texto inicia com muitos espíritas carregam mistura…
    Sou da opinião que o verdadeiro espírita não carrega mistura.
    Ao contrário, o espírita adota o novo – atual e puro.
    O Espiritismo entendido e vivido apenas como uma religião é meio forçado, pois religião é apenas um apêndice que foi dado a ele para amenizar todo o conhecimento e base que ele nos proporciona.
    Valeu muito o fecho do texto pelo equilíbrio e racionalidade.

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